quinta-feira, 28 de abril de 2011

Desafio literário

Graças a Deus, longe vão os tempos em que na blogosfera pululavam os desafios mais parvos, que me lembre só aceitei dois ou três. Também houve a moda dos prémios (cada um mais imbecil do que o anterior), agora chamam-lhes selinhos e rio a bom rir quando até erros ortográficos ou gramaticais têm (um tal «J'Adore Tien Blog» pôs-me em êxtase).

Fui desafiada pela Joaníssima. Se aceito o repto não é por ela, por mais que dela goste, é única e exclusivamente pelo tema: livros. Vamos então a isto!


1. Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?

Um?! Só um?! Are you kidding? São muitos. E efectivamente lidos e relidos muitas e muitas vezes. O recordista é, sem sombra de dúvida, Os Maias (centenas de leituras ao longo dos anos, um encantamento sempre renovado).

Outros?
Do imortal Eça (e por ordem de preferência):
  • O Primo Basílio
  • A Cidade e as Serras
  • O Crime do Padre Amaro
  • A Capital
  • A Relíquia
  • Notas Contemporâneas
  • Cartas de Inglaterra
De Oscar Wilde:
  • As peças (The Importance of Being Earnest, An Ideal Husband, Lady Windermere's Fan e A Woman of No Importance, as restantes não, nem mesmo Salome)
  • Os contos. The Happy Prince e The Selfish Giant continuam a fazer-me chorar baba e ranho
  • The Picture of Dorian Gray
A lista é extensa. Os principais (títulos na língua em que os leio, e sem qualquer ordem determinada):
  • Imitação de Cristo, Tomás de Kempis (?)
  • Poesias, Álvaro de Campos
  • Poemas, Alberto Caeiro
  • A Utopia, Sir Thomas More
  • Conta-Corrente, Vergílio Ferreira (todos os volumes)
  • A la Recherche du Temps Perdu, Marcel Proust
  • Brideshead Revisited, Evelyn Waugh
  • The Go-Between, L. P. Hartley
  • Au Plaisir de Dieu, Jean d'Ormesson
  • Como o Tempo Passa, Robert Brasillach
  • Lírica, Camões
  • A Família Forsyte, John Galsworthy (os três primeiros volumes)
  • Pride and Prejudice, Jane Austen
  • Emma, Jane Austen
  • Jane Eyre, Charlotte Brontë 
  • Wuthering HeightsEmily Brontë
  • E Tudo o Vento Levou, Margaret Mitchell
  • The Life and Loves of a She-Devil, Fay Weldon
  • Mar Morto, Jorge Amado
  • Tereza Batista Cansada de Guerra, Jorge Amado
  • Maria Antonieta, Stefan Zweig
  • The Six Wives of Henry the VIII, Allison Weir
  • Le Rouge et le Noir, Stendhal
  • Le Lys dans la Vallée, Balzac
  • Os Eygletière, Henri Troyat (três volumes)
  • O Amor nos Tempos de Cólera, Gabriel García Márquez
  • Lolita, Vladimir Nabokov
  • Uma Noite em Lisboa, Erich Maria Remarque
  • A Leste do Paraíso, John Steinbeck
  • Anna Karenine, Tolstoi
  • Guerra e Paz, Tolstoi
  • David Copperfield, Charles Dickens
  • Os Buddenbrook, Thomas Mann
  • As Brumas de Avalon, Marion Zimmer Bradley
  • Presságio de Fogo, Marion Zimmer Bradley (e sobre estes dois podem fazer a troça que quiserem, é uma história bem contada, e eu gosto de histórias bem contadas)
  • Rebecca, Daphne du Maurier
  • Servidão Humana, Somerset Maugham
  • As Chaves do Reino, A. J. Cronin
  • A Cidadela, A. J. Cronin
  • Diário, Anne Frank
  • Lua de Mel, Lua de Fel, Pascal Bruckner

2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?

Vários de Saramago. As Verdes Colinas de África, de Hemingway. O homem irrita-me.


3. Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?

Os Maias, evidentemente.


4. Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?

Nenhum, estão todos à minha minha disposição. É só pegar-lhes.

(adenda, umas horas mais tarde) Credo! Acabo de me lembrar de Ulysses, de James Joyce. Uma vergonha, confesso que nunca o li. Venham daí as chibatadas.


5. Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer? 

Os Maias, claro. Aquele «ainda o apanhamos!» 

Brideshead Revisited e as palavras de Charles Ryder «Maybe that's one of the pleasures of building. Like having a son. Wondering how he'll grow up. I don't know. I've never built anything. And I've forfeited the right to watch my son grow up. I'm homeless, childless, middle-aged and loveless.»


6. Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?

Tudo o que apanhava a jeito, muitas leituras antes de tempo. Memórias de Um Burro, da Condessa de Ségur, foi o meu primeiro livro (ainda o tenho), aprendi a ler aos cinco anos. Paixão por Enid Blyton (tudo, menos os livros do Noddy, que nunca li, e com alguma relutância os dos Sete, muito inferiores aos dos Cinco. Enorme favoritismo por dois livros completamente desviados da trajectória habitual: A Casa da Esquina e Seis Primos numa Quinta. Paixão por Berthe Bernage. Odette de Saint-Maurice era um guilty pleasure. Lia indiscriminadamente, livros para raparigas e livros para rapazes.


7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?

Serões da Província, de Júlio Dinis (um escritor injustiçado). Como dizia uma amiga minha, «ele até os pregos da cadeira descreve!») E gosto muito de Júlio Dinis!
A Insustentável Leveza do Ser, de Kundera. Pura teimosia.

8. Indica alguns dos teus livros preferidos.

Estão todos lá acima, tirando aqueles de que me esqueci.


9. Que livro estás a ler neste momento? 

Wolf Hall, Hilary Mantel. Comprado há quase dois anos, quando recebeu os dois mais importantes prémios literários britânicos. Não consegue agarrar-me, mas vou persistir. Veremos.


10. Indica dez amigos para o Meme Literário:
Aqui respira-se liberdade. Eu respondi porque achei piada (achei que despachava isto em cinco minutos). As pessoas cujas respostas gostaria de conhecer são, e sem links, que já é tarde e elas sabem quem são — e atenção, quem não tiver blogue ou o tiver parado pode usar a caixa de comentários:

Ana Vidal (blogue colectivo, antes no muitíssimo bom Porta do Vento, infelizmente extinto, mas ainda disponível para leitura — e se vale a pena!); a Ana é uma querida old soul minha, é só ver a etiqueta aqui no blogue.

Madalena (só me apetece bater-lhe, além de ser uma das minhas melhores amigas tinha um dos meus blogues favoritos; parado há dois anos, está viciada no Facebook).

Luna (dos blogues que continuo a ler foi o primeiro que comecei a acompanhar. Li-o de fio a pavio, cativada pela qualidade da escrita e pelo pensamento rigoroso, de laboratório; hoje orgulho-me da nossa amizade, que se tem traduzido em muitas horas de conversa).

Helena (outro dos meus blogues favoritos, uma das minhas pessoas favoritas); uma mulher admirável ue me põe a salivar de inveja com as suas descrições de Berlim e de ensaios da sua Filarmónica dirigidos por Sir Simon Rattle. Às vezes apetece-me bater-lhe.

I. (o conhecimento do blogue é relativamente recente, tem meses; comecei por reparar nela pelos comentários que deixava noutros blogues que leio, irreverentes, divertidos, às vezes desconcertantes, mas sempre com uma grande sensatez; quando fui investigá-la tornei-me leitora diária).

Julie d'Aiglemont (outro conhecimento blogosférico com poucos meses. O nom de plume diz tudo — a heroína de um dos mais célebres romances de Balzac; só podíamos dar-nos muito bem).


Harvey. O único homem entre nove mulheres. Tem blogue, mas não sei se gostaria que o divulgasse, até porque foi de rápida aparição e consequente paragem. Pessoa que me é muito querida. Um dia, se me autorizar, falo mais dele. A visitor from Charleston... (e esta, Harvey, de onde é?)

Bad Girl. O facto de não admitir comentários no blogue distanciou-nos durante muito tempo, e aposto que ela nem conhecia a Gota, que pouca ou nenhuma visibilidade tem, mas o Facebook pôs-nos em contacto. Temos trocas de mensagens de antologia, e o vício perverso de trocar descobertas de blogues ridículos. Uma lista que vale ouro, mas que nem sob tortura revelaríamos.

Rafa. Com a mesma obsessão maníaca pela correcção da escrita só poderíamos dar-nos bem, muito bem. Outro conhecimento recente, damo-nos como Deus e os anjos.

Provocação. O conhecimento mais recente de todos, diria que tem coisa de um mês. Como diria o incomparável Eça, calhámos uma com a outra. Descobri-lhe o blogue por comentários que deixou noutros. Daí surgiram fecundas conversas privadas. Outra grande pessoa.

12 comentários:

  1. Para mim Os Maias também é uma delícia de livro, agora estou a ler "Os Buddenbrook" de Thomas Mann na busca de algo semelhante aos Maias, porque também relata a história de uma família, vou na página 50 e acho que é uma esperança em vão.

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  2. Já respondi que sou muito bem mandada :) acho que Os Maias é sintonia geral...

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  3. Que engraçado! Partilhamos imensas referências literárias.

    E ainda me ri aqui (e alto) com a conversa dos tais "selinhos"! Acho isso tão abjecto que confesso sentir um certo nojo quando recebo comentários no blog a dizer que "tenho lá um selinho"... ainda não repararam que não tenho nada disso afixado lá no recanto?? Tudo bem, é um blog parvo e fútil, mas daí a ter selinhos vai uma grande distância.

    (Da Enyd até os do Noddy li. ahaha.. e era fã das Gémeas no colégio de Stª Clara)

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  4. Querida Teresa: vou responder ao seu repto com muito prazer. Só ainda não o fiz, porque hoje foi um dia de trabalho muito complicado... nem o facto de hoje ser o meu aniversário simplificou as coisas (snif! snif!). E faço questão de ir ver as respostas das outras meninas (pelo menos, aquelas cujos blogs eu conheço).
    Beijinhos.
    P.S. Fiquei tão contente por mencionar o "meu" Júlio Dinis. Tenho uma relação de obsessão com a obra dele, parecida com a que a Teresa tem com o Eça.

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  5. Correndo o risco de falhar imensos livros, aqui vai:

    1. Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?

    Imensos. "Ficções", do Borges. As "Memórias de Adriano" da Yourcenar. "O amor nos tempos de Cólera", do Garcia Marquez. "As velas ardem até ao fim", do Marai. O Eça, que me faz sempre rir. "A louca da casa", da Rosa Montero. "Os capitães da areia", do Jorge Amado (e quase todos os outros dele...)
    E muitos, muitos outros. De poesia, sobretudo, porque nunca se lê da mesma maneira por mais que se repita a leitura. Aliás, releio cada vez mais.

    2. Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?

    Vários. Thomas Mann, por exemplo. Mas já me deixei disso, ler não pode ser nunca um frete e há tantos livros que ainda não li com prazer...
    Tenho uma história gira a propósito desta pergunta: nunca consegui chegar ao fim de um livro que estava a ler na gravidez do meu filho mais velho. Enjoei tudo,tudo mesmo, livro incluído. Mais tarde ainda tentei acabá-lo, mas tinha náuseas de cada vez que lhe pegava. Desisti.

    3. Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?

    "O livro do Desassossego", sem qualquer hesitação. Estão ali muitos livros dentro.

    4. Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?

    A Divina Comédia. Mas já o comprei e vou-me atirar a ele.

    5. Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer?

    "O amor nos tempos de cólera" As últimas 10 páginas são inesquecíveis e valem todo o livro. Diria mesmo que valeriam toda a obra do GM, mesmo que ele não tivesse escrito mais nada de qualidade.

    6. Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?

    Como tu, lia tudo o que apanhava a jeito, sem qualquer critério e muitos livros antes do tempo certo. Li o Jorge Amado de fio a pavio, porque era excitante e mais ou menos proibido, embora estivesse ali à mão de semear. Li a saga do Tolkien muito cedo, e ainda hoje me apaixona aquele mundo simbólico. Adorava o Emílio Salgari (o Sandokan, que maravilha!) e o Dumas, que me faziam sonhar com aventuras e viagens. E Os Cinco, claro. Lembro-me também de um fraquinho por "O Diário de Isabel", mas já nem sei quem era a autora.

    7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?

    Mais uma vez, o pobre Júlio Dinis. E só porque era obrigatório. Um bocejo!

    8. Indica alguns dos teus livros preferidos.

    Os que me saltam logo à memória já estão ditos. Depois há muitos outros, claro. Os de poesia nem enumero, a lista seria interminável.

    9. Que livro estás a ler neste momento?

    Três ou quatro ao mesmo tempo, como faço sempre. Estou quase a acabar, e a gostar imenso, de "Uma conspiração de estúpidos", o único livro de John Kennedy Toole. Os outros: "Minha mãe, vou já", da Margarida Faro, "A impossível solidão", do José Manuel Arrobas,"Como tornar-se doente mental", de José Luís Pio Abreu.

    Nota: "As Brumas de Avalon" também são um must para mim, Teresinha. O tema é apaixonante, e a história está mesmo bem contada.

    Beijo!

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  6. Também partilho a tua paixão pelos Maias. "Ainda o apanhamos"...

    Tinha 14 anos e andava no 9º ano. A professora de Ed. Visual disse-nos que desenhássemos uma cena de um livro que tivéssemos lido e gostado muito. Eu desenhei o Carlos e o Ega a correr atrás da carruagem, a gritar "Ainda o apanhamos". Quando mostrei o desenho à prof., ela não entendeu nada e olhou-me como se eu não fosse boa da cabeça. Depois, perguntou-me o que significava aquilo. A seguir à minha explicação, olhou-me ainda mais aparvalhada do que da primeira vez. Apeteceu-me bater-lhe (embora por razões diferentes das tuas, quando dizes, no post, que te apetece bater em alguém).

    Tenho pena de já não ter esse desenho. E de já não saber como se chamava a prof., para a insultar!

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  7. Querida Teresa,

    Ando tão distraída do mundo bloguístico, que só agora é que vi esta menção honrosa. Sinto-me muito lisonjeada, obrigada.
    Adorei a comparação "Deus e os anjos".

    Vou responder no meu blog assim que possível. :)

    Um grande abraço!

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  8. Não será de "E tudo o vento levou"? A modos que sim.
    Harvey

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  9. Minhas boas amigas,
    Ando aos poucos a tentar pôr em dia as respostas. Tenham um pouco mais de paciência comigo, sim?
    Amanhã, amanhã.
    (e ainda bem que os vossos preciosos comentários não desapareceram com o já célebre apagão do Blogger).

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  10. Harvey,
    Evidentemente.
    E o sorriso enternecido que esse nickname ressurgido me arrancou!

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