Prometedor, muito prometedor
Quando logo na primeira linha de um livro deparamos com uma asneira, receamos o pior quanto à qualidade do português. Se o tradutor não sabia que o verbo correcto era desencadear, e não despoletar, o revisor tinha obrigação de saber, para isso funcionam em equipa, um complementando o outro. Despoletar, que os meus dicionários em papel nem registam, aparece já no Priberam. Ora eu já tenho encontrado erros no Priberam, não sendo pois totalmente fiável, como é o caso, já que me parece evidente que uma palavra não pode ser uma coisa e o seu oposto. Vejamos:
despoletar - Conjugar
(de- + espoletar)
(de- + espoletar)
v. tr.
1. Desarmar a espoleta ou o detonador, impedindo a explosão. ≠ espoletar
2. Fig. Retirar aquilo que permite uma acção! = anular, travar
3. Fig. Fazer surgir. = desencadear, ocasionar
O receio foi confirmado pelas trinta páginas seguintes: faltas de concordância de género e número diversas, e mais desagradáveis surpresas terei certamente pela frente.
Mas como terá surgido esse erro?
ResponderEliminarFui ver se terá sido importação telenovelística, mas não: a palavra nem sequer aparece no Aurélio.
O mais preocupante é que a palavra já é muito usada como sinónimo de desencadear!
(ai esse Leonard Cohen sabe tão bem!)
Tenho cá para mim que a profissão de revisor está em vias de extinção. No último livro que li topei com duas alarvidades de antologia: convicto, quando o sentido era condenado ou recluso; e obcecamento (?). No anterior havia erros de concordância para todos os gostos.
ResponderEliminarNão entendo como deixam isto passar, afinal os livros não são assim tão baratos, e fica-me mais em conta comprar originais (quando são em inglês), o que faço cada vez mais.
Olá Teresa,
ResponderEliminarConfesso que não sendo nada entendido nestes temas sempre usei o termo "despoletado" com o mesmo sentido do tradutor.
Fiquei curioso com este suposto "erro" e fui procurar um pouco.
Se entendi bem, a corrente de pessoas que usa o termo como sendo "desencadeador" de uma acção advém do facto do prefixo "des" nem sempre querer dizer a negação ou oposto.
Veja esta formulação do Vasco Graça Moura:
http://ciberduvidas.sapo.pt/controversias.php?rid=887
Enfim, reafirmo que costumo usar o termo como usou o tradutor, se o faço erradamente acho então que a maioria da população está errada (incluindo o Graça Moura).
E' por isso que, quando conheco a lingua, leio o autor na original. Continua a ler, raramente Paul Auster desilude.
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