quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

No Procópio

Há dois meses, a seguir a um jantar no Aya que foi um autêntico banquete (e o Pedro a insistir «isto está divinal, mando vir uma garrafa de champagne?», eu a rir e a dizer que não, que continuávamos no vinho branco), resolvemos continuar a noite.

Ponderámos rapidamente as possibilidades. O Skone's? Sim, talvez, mas a música seria uma aventura. Tanto podia estar óptima, como estava na noite dos meus anos, que saímos de lá às seis da manhã, eu estoirada de tanto dançar em cima de uns saltos de 12 centímetros e o Diogo, marido da Madalena, já só perguntava «quando é que cá voltamos?», ou como estava mais recentemente, numa noite em que o Pedro lá foi e nem queria acreditar nos seus ouvidos quando começou a tocar MacArthur Park, de Richard Harris; o mais certo, contudo, seria estar uma bodega.

Resolvemos não arriscar, de resto apetecia-nos coisa mais sossegada. E optámos pelo velho Procópio, a que continuo a ir com alguma regularidade, é frequente encontrar-me lá com a Madalena e com a Pituxa, ao fim da tarde, para beber um copo e pôr os sumários em dia. A primeira surpresa foi que aquilo estava cheio a abarrotar (era sexta-feira), a segunda foi que eram quase só miúdos. Há portanto uma nova geração a descobrir o Procópio.

Instalámo-nos ao balcão à conversa com a dona, a Alice Pinto Coelho, figura quase mítica na noite lisboeta. Nisto chega a Sofia, filha, rapariga da minha idade, talvez um ou dois anos mais nova. Uns minutos depois a Alice chama-me a atenção para um anel da Sofia. «Gosta? Dei-lho esta semana» Respondi que era lindo (e era, não estava a ser meramente delicada, já tinha reparado nele).  Uns minutos depois, a Sofia, dizendo-se morta de cansaço, anunciou que ia para casa.

«Ó Mãe, empreste-me dinheiro para um táxi, que eu não tenho um tostão comigo.»

«Dinheiro? Essa agora, era o que faltava! Venda o anel!» — ripostou a Alice, a rir.

A Sofia pôs-se a vasculhar a carteira, nós três retomámos a conversa. E nisto somos interrompidos por uma exclamação triunfal dela, a brandir uma nota: «Vinte euros! Achei vinte euros! Estou rica! Já não quero um táxi, quero um lifting

Rebentámos os três numa estrondosa gargalhada. Que deve ter sido a última gargalhada genuína que dei em 2010, porque logo a seguir veio a notícia da morte do Zé. Este era o post que eu tinha começado a escrever quando a recebi.

2 comentários:

  1. Ó Teresa... Desculpe lá estar a fazer-lhe esta observação, até porque a conclusão desde seu post é bastante triste. Mas não queria antes dizer que foi a sua última gargalhada genuína de 2010?

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  2. Teresa, Deus lhe conserve sempre esse olho de lince!
    Que asneira tão estúpida! Obrigada, já corrigi. :)

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