domingo, 23 de janeiro de 2011

Wannabes

No meu mundo ideal eu seria obscenamente rica e completamente anónima. No meu mundo ideal eu teria uma vastíssima área, algures no Alentejo (cenário mais provável), para acolher todos os animais maltratados ou abandonados. No meu mundo ideal eu também não teria, de caminho, de ler tanto disparate, só porque até ando na blogosfera.

E a blogosfera, lamento lamentar, está cheia de wannabes, de gente que tenta aparentar o que não é, de gente que até pode conseguir enganar a maioria, mas não consegue enganar a totalidade.

Notem, por favor, a subtil diferença: não estou a falar de gente que tenta fazer passar girafa por lebre, não são as meninas que tentam apresentar-nos como genuína a Vuitton que compraram por poucos dólares em Chinatown, ou em Canal Street, ou que trouxeram da Tailândia. Estou a falar da pose colada com cuspo, das pessoas que não percebem nada de nada, que baralham tudo, que falam de compositores sagrados como se lhes conhecessem a obra, não sabendo apontar uma gravação, que dizem «O Turandot»,  que falam de fatos Prada e de sapatos Sebago (esta é mesmo para rir) e nunca ouviram falar em Savile Road ou em Caraceni, já para não mencionar o mítico John Lobb ou as camisas Turnbull & Asser ou Pancaldi.

Muito gostava eu de poder contar aqui as tantas histórias do meu amigo A., que viaja de propósito para Itália para mandar passar os fatos a ferro (sou a Némesis dele, já o chateei muito por causa disto, "não tens vergonha? são só trapos, passa para cá uma doação para a UZ!") que paga para não aparecer em revistas idiotas (e muito ri quando o vi, há mais de dez anos, aparecer na mui nobre Point de Vue, numa gala no Palais Garnier, ele a passar por marido da mãe). O A. é a minha única ligação a esse mundo nebuloso dos muito ricos e dos muito famosos. Acresce que o A. é uma língua de trapos: foi assim que eu soube, um dia antes, que a Princesa Carolina do Mónaco ia casar de novo (confidência de Karl Lagerfeld a bordo de um avião), o A. apressou-se a telefonar-me a contar, assim que o avião aterrou e voltou a ter rede. Tal como, num certo dia de Janeiro ou Fevereiro de 1999, me azucrinou o juízo com telefonemas de dois em dois minutos, num momento em que eu estava cheia de trabalho, a consultar-me quanto à melhor fatiota para jantar com o enorme Claudio Abbado, nessa noite convidado como ele da viúva de Karajan, de quem o meu amigo A. é íntimo (um dia destes ainda levam com uma história hilariante, mete a valsa da Viúva Alegre pelo meio). Tive de o despachar aos gritos, mas fiquei cheia de inveja. Jantar com Claudio Abbado! Odeio-te, A.! :)

Voltemos ao princípio. A pose é coisa pouco sustentável, quando não se sabe do que se fala. Há sempre alguém mais velho que já viu mais, ou ouviu mais, ou viajou mais, ou bebeu mais. E Barca Velha já vai sendo de gargalhada. Por amor de Deus, com tanto vinho melhor! E os charutos, oh, céus, os charutos!

6 comentários:

  1. Teresa, valha-me Deus, então não se vê logo que é O Turandot e A princesa Calaf??? ;-))

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  2. Eu gostava era de poder ser como o teu amigo A. Imaginas-me a seguir os meus cantores e pianistas preferidos para onde quer que eles fossem, não imaginas?

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  3. Lá está, as manias de grandeza à escala da blogosfera saem sempre fajutas. As socialites da blogosfera debitam muito Sexo e a Cidade, mas soam sempre a feira de Carcavelos, der por onde der.

    Não sei de nenhum verdadeiro senhor ou senhora da alta sociedade (que, obviamente, não é a que aparece nas nossas revistas) que tenha um blogue. Se souberes, diz cá. Seria refrescante! Prontes (que é outra variante linda).

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