domingo, 19 de dezembro de 2010

O imenso adeus

Ontem tinha uma entrada alinhavada. Levezinha, divertida, inconsequente. Deixei-a a meio, fui fazer outras coisas. Só muitas horas mais tarde voltei ao computador, para encontrar uma mensagem que me deixou gelada e no instante seguinte me pôs a soluçar incontrolavelmente. Devo ter chorado mais de duas horas, sem conseguir parar. O Zé partiu. O Zé!

O meu mundo está a ficar mais estreito. Estou a perder pessoas, cada vez mais pessoas, e dói muito, dói demasiado. Não sei nem quero saber dizer adeus, nenhum adeus, àqueles que me são queridos, muito queridos.

Como o Zé. Olho para a imagem acima, reparo no fio de ouro e marfim que tenho ao pescoço,  oferecido por ele no ano anterior, no dia dos meus 28 anos, e suspiro. O Zé era 16 anos mais velho  do que eu, quatro anos mais novo do que John Lennon, nasceram no mesmo dia, 9 de Outubro. O Zé era meu amigo e a imensa saudade que nada pode apaziguar começa agora. Foi pelo Zé, há quase 14 anos, que soube da morte do Vasco, outra saudade que anda sempre comigo, como já contei aqui.

 Olho para a fotografia à direita, feita pelo Zé, eu em primeiro plano, a escrever, o Carlos mais ao fundo, a ler, e lembro-me desta noite de há 22 anos no Sahara, já perto da Mauritânia, como se fosse hoje. Ficámos horas a olhar para o incrível céu estrelado, as cabeças de fora das tendas, a ver as estrelas cadentes. A cada uma (e eram às dezenas), o Zé, tarado por Ferraris, murmurava sempre o mesmo desejo «Um F40! Um F40!» E eu e o Carlos ríamos.

Hoje, a seguir ao velório e à Missa, fomos jantar os dois, fomos a seguir a um concerto na Igreja de Santa Catarina, a que já só apanhámos o fim. Amanhã o enterro. Depois, só as memórias, as tantas e tão felizes memórias que temos do nosso amigo. E a saudade.


4 comentários:

  1. quando nos menos espera, eles partem e o que só existe a recordar são as recordações. aquelas que, de um certo modo, (..) são sempre recordações.
    sei bem o que é perder alguém que nos é demasiado próximo, mas como eles queriam que fossemos, temos que continuar e tentar ser felizes (muitas vezes não dá!)
    beijinho e força ! (:

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  2. Lamento imenso, Teresa. Sei que não há palavras, por isso deixo apenas um beijo sentido.

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  3. Queridas amigas, obrigada, muito obrigada pelas vossas palavras.

    Tive de eliminar um comentário, como uma ou duas de vocês, caso tenham seleccionado o quadradinho para receber comentários posteriores, poderão ter percebido.

    Em seis anos na blogosfera (sim, acabo de entrar no meu sexto ano), tenho sido muito complacente com parvoíces anónimas, deixo-as ficar, acho que só dizem mal de quem as escreve. Mas tive um comentário abjecto que envolvia o meu Amigo, e isso não tolero. Que possam embirrar comigo é coisa que aceito, não se pode agradar a todos. Que me possam odiar, como parece ser o caso desta criatura, já me causa estranheza. Seja como for, aboli os comentários anónimos.

    E não venham dizer-me que na blogosfera somos todos anónimos. Quem me escreve para o mail do blogue recebe resposta da minha caixa pessoal. A Safira e eu, por exemplo, sem nos conhecermos, até já trocámos presentes. Recusamos o anonimato.

    Desejo às três um 2011 muito feliz.

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