domingo, 3 de outubro de 2010

Figuras que eu faço

Na semana passada, acho que na terça-feira, calcei pela primeira vez uns peep toes pretos que tinha comprado há meses, iguais a outros cinzentos que tinha adorado (quando gosto muito de qualquer coisa não me importo nada de a ter em várias cores). Ora acontece que só tinham os pretos num número acima. Achei que não era grave e comprei-os. Na prática a coisa era diferente: andava basicamente a chinelar e era mesmo muito incómodo andar com eles. Como tal, aproveitei a hora de almoço para ir ao sapateiro comprar umas palmilhas.

Ora eu ando sempre na rua com o iPod nos ouvidos, e tenho o vício de cantarolar aquilo que vou ouvindo. Assim, ia a chinelar como uma pata choca, Rua dos Fanqueiros fora, completamente absorta a cantar em coro com Michel Sardou o seu La Maladie d'Amour, quando uma menina com muito bom ar me toca no braço (quase me assustei, tão alheada ia) e  me aponta para um mottard parado no semáforo, a fazer-me alegres adeuses.

Ia de tal maneira nas nuvens que a minha primeira reacção foi de perplexidade. «Quem será este?», pensei com os meus botões. O capacete preto com a viseira também preta descida não ajudava, convenhamos. Mas, numa fracção de segundo, desci à terra e percebi quem era, ri e acenei também. Era um membro de gabinete que vai quase sempre de moto para o Colosso, coisa que já tem criado episódios caricatos. Mais tarde, já no Colosso, ele disse-me que se tinha fartado de buzinar sem que eu desse por ele, o que originou a simpática intervenção da menina.

Mas já me aconteceu ainda pior, há uns meses. Quando vou a pé para o metro, de manhã, passo forçosamente pelo Colégio dos Maristas, àquela hora com a entrada atafulhada de carros a depositarem as criancinhas. É sabido que eu tenho uma ligação quase umbilical com a música. Ora a música que eu vinha a ouvir era Electric Dreams, de Phil Oakey e Giorgio Moroder, como tal, ia praticamente a dançar rua fora (e eu tenho um passo muito rápido, de que até muitos homens se queixam). Abrando o andamento em frente ao colégio, tantos os carros, e percebo de repente uma mão a acenar-me por trás dos vidros de um grande carro preto. Intrigada, estiquei a cabeça, a tentar perceber quem seria. Engoli em seco, mortificada. Era um Secretário de Estado, perdido de riso com a minha figura.


8 comentários:

  1. Menos mal. Pensei que era a única que cantarolava pela rua, perante os olhares estupefactos dos transeuntes. :)

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  2. Não há motivo para mortificação. Nietzsche dizia que o homem superior em vez de caminhar, dança.

    Como vai a ciumeira felina, melhor?

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  3. Deixa lá isso. Eu falo sozinha. É muito mau, bem sei.

    :)

    beijo

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  4. Teresa,
    o 'Eletric Dreams' justifica qualquer figura que se faça! (que paixoneta que eu tinha pelo Phil, benza-o Deus! ;)

    Sou muito a favor de cantar seja onde for, mas tive de moderar o uso de usar phones e afins. É que uma coisa é ir cantarolando a letra ou trautear em alegre lalala. Outra, muito diferente, é vocalizar os solos de guitarra...

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  5. Ó Ceús! 'O uso de usar??' What the hell?!

    Se calhar revia o que escrevo antes de publicar...é o que dá ser constantemente interrompida nas minhas ocupações privadas por colegas que insistem em trabalhar. Que chatice! ;)

    Beijocas

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  6. Fora de tema, mas pronto...

    http://www.ionline.pt/conteudo/82961-portugueses-ja-podem-fazer-encomendas-gratuitas-pela-amazon

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  7. Assumo aqui... we'll always be together however far it seems... WOW! Não resisto! Tudo bem, não é Brahms, ok, mas caramba! Há que ter um lado light na vida!

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