Tonteira Colossal
Esta manhã, no Colosso, tive de ligar para um organismo muito importante no Luxemburgo. Rotina diária, até aqui. Era um banal telefonema a devolver uma chamada para um membro do gabinete que inicialmente não tinha estado disponível.
Faço a chamada, era um número directo, eu lembrava-me da voz, e não era a mesma. Deduzi que era um secretário. Lá comecei a debitar no meu melhor francês, que é mesmo bom, a modéstia que se lixe, de onde falava (nome do Colosso), acrescentando du Portugal.
Detecto riso na voz de quem me atende, mas que ainda me pergunta num francês perfeito de onde falo, para se certificar. Repito o nome do Colosso. A voz masculina desaba numa gargalhada e responde-me em português:
— Queria ligar para o [nome do organismo], não era? Aqui é do Hotel Hilton, o número é quase igual, marcou um oito em vez de um nove. Passa a vida a acontecer.
Rimos os dois com gosto, trocámos informações sobre meteorologia, o senhor tão simpático a querer saber como estava o dia em Lisboa e a suspirar ao saber da temperatura amena e do sol risonho a essa hora.
E desliguei com a alegre sensação de ter dado a um funcionário português do Hilton do Luxemburgo um inesperado lampejo da luz de Lisboa. Não imaginam a alegria na voz dele, como tentou prolongar aquele telefonema para um número errado. A percentagem de portugueses na população luxemburguesa é de quase 11%. Não fiquei a saber o nome do senhor, mas ficou a apetecer-me enganar-me mais vezes a marcar o número.
Creio que já fiquei hospedado nesse Hilton do Luxemburgo (ou outro no estilo).
ResponderEliminarTODOS os funcionários, da recepção à cozinha, do porteiro ao segurança, com a única excepção do gerente, eram portugueses!!
E o que te impede de voltar a ligar? :)
ResponderEliminarLuís,
ResponderEliminarO que me entristece é essa excepção: o gerente não era português.
O que me faz lembrar muitas coisas. Uma certa estada na Suíça, há 25 anos, em que, sem saber, fui aterrar num meio de gente muito (mesmo muito) rica, talvez um dia ainda conte a história aqui, se bem que passe por um noivado de opereta.
No célebre Griffin's, à época considerado o melhor e mais exclusivo clube privado do mundo (numa noite Aznavour estava na mesa ao lado e eu ia desmaiando de emoção, não tive coragem de o abordar, fiz o meu ar nonchalant, "nem sei quem o senhor é"), Rolls e Ferraris em bicha à porta, quando me apresentavam e acrescentavam "portuguesa", as pessoas, já que eu não era obviamente empregada doméstica, partiam para a conclusão oposta: estava em Genève para ir ao banco.
Tentei ligar-lhe ontem, por acaso foi logo a seguir a este telefonema caricato, ouviu a mensagem?
Ursosa,
ResponderEliminarAs chamadas internacionais são caras, e no Colosso somos muito poupadinhos. :)
Só para iniciados: e se lhe tivessem respondido da Boucherie Sanzot?
ResponderEliminarTeresa,
ResponderEliminarMesmo assim não sei se não lhe ligava uma vez mais que fosse ;-)
O que me ri com o comentário do JC, é que era capaz de jurar que era a boulangerie Sanzot. Ou eu estou enganada, ou estamos os dois certos e a família Sanzot tinha o monopólio do retalho, lá para os lados de Moulinsart?
ResponderEliminarI. e JC,
ResponderEliminarTambém me fartei de rir com o comentário do JC. Mas I., estás parcialmente enganada, se bem que tenhas captado logo a origem da coisa. É que boulangerie é padaria, e aqui falamos de um talho.
Mas não vão daqui sem resposta, que tenho um caso verdadeiro muito semelhante. Um amigo meu de faculdade, que morava na Av. de Paris, tinha um número de telefone quase igual ao da Isaura Florista da Praça de Londres, só um algarismo era diferente, acho que o último. Aqui a coisa era ao contrário: passavam a vida a telefonar para a florista a pedir para falar com o João. E já era normal responderem com toda a naturalidade «Enganou-se no número. O número do João é o 84......» E notem que nem faziam ideia de quem era "o João".
Beijos!
Gi,
ResponderEliminarNão posso garantir que não volte a enganar-me.
Afinal... «errare humanum est».
Ou, como dizia o númida dos piratas do Astérix, aquele que não dizia os rr, «e''a'e humanum est». ;)
My mistake, então. É que eu lia as traduções (de uma editora brasileira, a Record), e nelas era Padaria Sanzot... se calhar por causa das piadas de portugueses, juntavam o útil ao agradável.
ResponderEliminar(sempre quis saber como seria o nome do Sr. Serafim Lampião em francês... adorava este chatinho)
(ou seria o talho/açougue Sanzot? tenho que voltar aos meus Tintins está visto, este era o tipo de trivia que não me falhava, há uns anos)
ResponderEliminarEra talho, era, I. :)
ResponderEliminarSe me permitem o esclarecimento, a tradução brasileira deve ser tão-só uma tradução "criativa"...é que no Brasil e América do Sul em geral os portugueses são sobretudo associados a padarias!
ResponderEliminarCláudia