terça-feira, 10 de agosto de 2010

Muita parra e pouca uva

Há coisas que têm o condão de me irritar profundamente. Poucas me irritam tanto como solidariedades que não passam da garganta. Ou do teclado, o que vai dar no mesmo.

Tanto eu como o Abel queremos impulsionar o projecto da Maria. Para tal, mais uma gotinha de água no oceano, oferecemos duas t-shirts para serem leiloadas (estas). A Maria, por sua vez, anunciou-as no seu (e nosso) Take Us to Bruges (aqui). Tanto eu como o Abel divulgámos igualmente nas nossas páginas do Facebook

E é então que o meu mau feitio, que tem raras mas contundentes aparições (mea culpa), pode vir à tona. Uma menina põe o polegar para cima a dizer que gosta. Uma outra, mais assertiva, perante o apelo «Vamos ser solidários?», brada um entusiástico «Vamos!!!!!!!!!!!», seguido de (contei-os) ONZE pontos de exclamação. Dir-se-ia, à vista desarmada, que ambas teriam ido a correr licitar as belas t-shirts, como prova da sua solidariedade, nem que fosse com € 11,50 (a base de licitação são onze euros). Pois, para minha grande surpresa, nenhuma destas filantropas do teclado fez qualquer oferta, quer no Beatles Forever! quer no Take Us to Bruges.

Todos nós, aqueles que andamos na blogosfera há uns anos, conhecemos o chorrilho de comentários que pode seguir-se a um post a relatar um drama pessoal. Muita palmadinha nas costas, muito «Amiga(o), estou contigo», «Amiga(o), conta comigo para o que precisares» — isto, na maior parte das vezes, para pessoas que nunca conhecemos mais gordas e não passam para nós de uma página que se visita.

Ou não. Porque há realmente empatias que se criam, inexplicáveis mas muito reais. Foi assim que, no Natal de 2007, o Eskisito enviou uma mensagem aos bloggers com quem mais se dava, a sugerir que nos juntássemos para tentar oferecer um Natal mais alegre a uma de nós, recentemente no desemprego, marido também desempregado, e com duas crianças pequenas. Note-se que, na época, tanto o Eskisito como a sua Maria tinham uma vida financeira muito difícil, o que não os impediu de pensar em quem, momentaneamente, tinha ainda menos do que eles. Toda a gente colaborou. O Alf (saudades daquele blogue) foi logo o primeiro, com um muito generoso contributo, o triplo do que quase toda a gente deu, especificando que era para «brinquedos para os miúdos». No meio desta onda de solidariedade, uma única voz discordante, de uma dessas pessoas que eram normalmente todas palmadinhas nas costas e protestos de «estou contigo!»: não concordava nada, era o que faltava, vir agora com apelos, ela também tinha problemas de dinheiro e não os expunha, patati-patatá e a serpentina. É que a solidariedade pode ser uma coisa muito bonita e que fica muito bem, mas quando nos apelam à carteira a coisa muda de figura. Conclusão da história? Entre todos, conseguimos oferecer um mega cabaz de Natal, cheio de mercearias e bens essenciais mas em que também houve espaço para petiscos mais refinados e brinquedos para as crianças. O Eskisito e a Maria, os organizadores, juntaram um cartão com os nomes de todos os que tinham contribuído. Mantiveram a lista dos contactados, incluíram o nome da única voz dissonante, da única pessoa que não tinha colaborado com um cêntimo. Uns dias mais tarde, a obsequiada fez um agradecimento público e muito emotivo no blogue, em que se dirigia pessoalmente, um a um, a todos os nomes da lista. A tal blogger ficou muda e calada, nada de «olha que estás enganada, eu não participei nisso.»

Seja como for, o alvo do nosso movimento de solidariedade está hoje muito bem e até já teve um terceiro filho. Da outra nunca mais ouvi falar e não poderia interessar-me menos.

8 comentários:

  1. Melhor mesmo é não dizer nada e fazer as coisas - quando se faz - no silêncio ;)

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  2. Teresa,
    Também tenho saudades do Alf e do seu blog.
    Mas a realidade é mesmo o que descreve. Dizer toda a gente diz muito, fazer poucos fazem.
    Somos todos ecológicos e quase nenhum vai de transportes para o trabalho, entre tantos exemplos.
    A vida é mesmo assim, primeiro o nosso umbigo e depois o dos outros.
    Bem-hajam aqueles que sabem olhar em volta antes de olhar para dentro. Mas cada vez são menos.

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  3. Teresa, sabes bem que solidariedade é coisa que vem do coração não da boca.

    :)

    Bjo minha querida. Obrigada pelo teu carinho e por teres telefonado ontem.

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  4. Obrigado pelas tuas palavras. São situações como esta que ainda me fazem acreditar no blog e na blogosfera. Não é na troca de comentários ou nas parvoíces. E, também tenho de mencionar, em jeito de retribuição, aquelas férias maravilhosas que nos proporcionaste quando nós não tínhamos nem um tusto.
    Fazem-se bons amigos nesta vida de bites e bytes.
    Beijos.
    P.S. - Já nem me lembrava dessa personagem. Nem da situação. O que prova que apenas ficam as boas lembranças.

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  5. Senhora Dona Teresa... gosto mesmo de si "pá"! :)

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  6. AElitis,
    Pois é, sim senhora. Poupava-se muita figurinha triste ;)

    Ana 100 Sentidos,
    Como deve saber, o Alf crou novo blogue, que tem votado ao abandono. Trabalha como um alucinado. Mas temos saudades do velho Bonjardim, não é?
    Por mais decepções que tenha, continuo a acreditar no que há de bom nas pessoas, e que nem precisa de ser verbalizado. Uma pessoa que valha a pena compensa-nos de dez trastes. :)

    Beijos!

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  7. Maria,
    Fico à espera daquilo que sabes ;)

    Eskisito,
    Eu também vejo pelo lado do copo meio cheio, bem sabes. Lembrei-me da tal personagem pela diferença abissal entre palavras e actos (e, como cantavam os meus queridos Moody Blues, «actions speak louder than words».
    Quanto às tais férias, foi uma enorme alegria que pudessem tê-las, a seguir àquele mês de Agosto tão duro (lembro-me bem). Eu tinha acabado de entrar para o Colosso, não poderia ir, era uma pena que aquilo se desperdiçasse. E lembrei-me de vocês, pronto. Ainda nem nos conhecíamos, pois não? Ou já?

    Senhora Dona Cal (ou Senhor Cal?),
    Obrigada pelo comentário tão gentil... "pá"! :)))

    Beijos!

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  8. O primeiro encontro foi marcado propositadamente para esse evento. Eu, tu, a Maria e o Rafeiro no Chiado. Foi um bom momento.
    Em relação à "otra jove", que se lixe. Daquilo é o que se encontra mais por aqui.
    Beijos

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