domingo, 18 de julho de 2010

New kitty in town


Chega esta noite, muito tarde, vinda de Aveiro, trazida por uma boleia carinhosa de uma daquelas muitas pessoas anónimas que tentam todos os dias ajudar, fazer a diferença. É muito novinha, quatro meses. É revoltante que em tão curto tempo de vida tenha havido tempo para ser maltratada. E depois abandonada. Graças a Deus há pessoas que se preocupam, que socorrem. É por isso que todos os meses, aqui e ali, vou transferindo pequenas quantias para organizações diferentes, que lutam com enormes dificuldades.

Dizem-me que é tímida, arisca, introvertida, mas que começa a dar sinais de estar a vencer o trauma. Conquistá-la, ganhar-lhe a confiança, vai ser uma batalha. Conseguir que ela e Agripininha se adaptem, que Agripininha a aceite, tão só há tanto tempo e que só conviveu com a inesquecível Messy, vai ser outra batalha. Mas a pequenina é uma siamesa. E trazer uma siamesa para casa é ainda e sempre homenagear Messy. E os siameses são gatos únicos, acreditem em mim. Com uma capacidade de amor e devoção nos fazer desfazer em ternura.

Quando Messy, Messalina Valéria, minha Messy, veio viver connosco, não foi fácil. Disseram-me que tinha três meses, devia ter pelo menos cinco. Mais uma daquelas adopções por capricho, e depois toca a despachar o bicho, que afinal dá trabalho e despesa. Foi a Paulinha que me telefonou (tenho mesmo de falar aqui da Paulinha, ainda há duas noites a Luna riu como uma perdida de uma história que lhe contei — história que, infelizmente, nunca poderei contar aqui, haviam de rir tanto como a Luna riu), a falar-me daquela gatinha que ia ser abandonada se ninguém a adoptasse. Não há bichos maus, o que há é más pessoas. Messy, desconfiei logo, tinha sido muito maltratada. E devia ter passado muita fome, atirava-se a tudo o que fosse comida, até batatas fritas marchavam (imaginam um gato a comer batatas fritas? Não, pois não? Mas Messy comia). O Nuno, pouco mais de uma semana depois da chegada dela, não pôde evitar comentar um estarrecido «Safa! O que esta bicha cresceu!» Messy era velhaca, não era uma gatinha simpática. E fazia-me emboscadas, atirava-se-me às canelas. Contudo... Omnia vincit amor. O amor tudo vence. Messy foi, aos poucos, aprendendo a confiar em mim. E depois foi, durante muitos anos, aquele amor recíproco que sabem.

A princesinha chega esta noite, bem tarde, vou buscá-la a Oeiras. Chama-se Júlia Drusila (estou a ficar sem bons nomes da família imperial romana). Os amigos já me perguntam pela Julinha, sem saberem que o verdadeiro nome é mesmo Drusila, Júlia é a nobre família romana. Drusila, filha de Germânico e Agripina, irmã favorita de Calígula, que a fez deusa depois da morte, passando a chamar-se Diva Drusila. E também irmã de Agripina Germânica, de quem Agri, a minha Agri, recebeu o nome. Cá em casa o petit nom da princesinha será Drusi.

Banda sonora: Eagles - New Kid in Town

12 comentários:

  1. Cara Teresa, já venho aqui há muito tempo e gosto muito de visitá-la.

    Para além de partilharmos a paixão por estes animais tão especiais, como só os gatos conseguem ser, vejo que também gosta de História. Embora actualmente investigue outros períodos, o Moderno nomeadamente, uma das minhas maiores paixões do primeiro ano do Curso de História foi sem qualquer dúvida a história da família dos Júlios-Cláudios, que Tácito fez questão de enriquecer.

    Deixo-lhe uma sugestão, que provavelmente será inútil (provavelmente já terá lido),Pierre Grimal, Memórias de Agripina, [Lisboa], Lyon, 2000, com tradução do meu querido Professor Nuno Simões Rodrigues. Fica a sugestão, espero que goste.

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  2. Fico à espera das novas fotos e histórias da pequena Drusi :-)

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  3. Luísa,
    Obrigada pelo comentário amável e pela sugestão. Sim, li Memórias de Agripina, de Grimal (muito superior ao livro de Seomara da Veiga Ferreira com o mesmo título, dos anos 90). Curiosamente, tinha ontem à noite chegado ao fim do livro que estava a ler, The Lady in The Tower, de Alison Weir, um notável exercício de investigação sobre o último mês de vida de Ana Bolena. Se bem que já se tenha aventurado no romance histórico (só li Inocent Traitor, sobre a desventurada Lady Jane Grey, que foi rainha de Inglaterra por nove dias e foi decapitada com apenas 17 anos, talvez ainda 16), são as suas biografias, o rigor histórico e, em simultâneo, a análise psicológica, que me fazem adorar esta grande especialista no período Tudor. Já estou de olho em mais dois livros dela, recomendo vivamente. Se não leu nada dela ainda, sugiro que comece por onde eu comecei, há uns 11 anos: The Six Wives of Henry VIII. Primoroso. Incomparavelmente melhor do que o livro de Antonia Fraser (viúva de Harold Pinter) que li há um ano, e que a menos de metade começou a desmotivar-me cada vez mais. O mesmo já me tinha acontecido com uma biografia de Maria Antonieta, também dela. Acho que não volto a ler nada de Antonia Fraser, em resumo.

    Volte sempre, um beijinho.

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  4. Ana,
    Assim seja! :)))

    Gi,
    Cá virão parar :)))

    Beijos, cruzem os dedos para que a adaptação sejam rápida!

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  5. P.S. Para a Luísa de Gusmão:
    Também li Tácito :)
    E os dois magníficos romances de Robert Graves, claro :))

    Quando comprei Memórias de Agripina, minha Agri ainda era um bebé, o que me fazia dizer a rir: «Tão novinha e já com tanto que contar!»

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  6. É tão gira! Tive um siamês .... 22 anos. Leste bem :D
    Dos meus 5 aos meus 27 anos, o Fufu esteve sempre presente. O veterinário não queria acreditar que o bicho ainda era vivo :)) Muuuito bem tratado, obviamente. Agora tanto eu como os meus Pais temos um cãozinho. Eu tenho a fêmea e eles o macho. Um dia pode ser que volte a ter gatos, mas a Petzi não os grama muito :D Estes animais, pá! Têm de ter umas lições de civismo! ;)
    Aproveita muito, beijinhos!

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  7. Pode demorar um pouco, mas a felicidade vai ser geral!

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  8. Amo gatos..a minha Bernarda chegou com cerca de 8 dias, ainda só tinha um olho aberto! Tive que fazer de "mãe" dela. É linda. Também tenho a Camila, que tem 16 anos. Já vivi mais tempo com ela, do que sem ela...não sei como vou aguentar, se um dia ela fechar os olhos para sempre..Felicidades com a nova gatinha. :)

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  9. Que linda é a Drusi... e parece ter grande personalidade já :)
    Beijinho

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  10. Linda. Tenho um gato já crescidinho, que não larga aqui o meu jardim, já há uns meses, muito parecido. O problema são os meus cães. Não gostam de gatos. E então é um filme, para conseguir manter a coisa sem acidentes. Para além deste que falei, tenho mais 10. Aqui na rua. Todos os dias os alimento. Quando me ausento, tenho essa preocupação de deixar as coisas organizadas para que nada lhes falte. Eles abrigam-se por aqui, nas moradias vizinhas, que são na maior parte, casas de férias.
    Enfim, se pudesse tinha cá tudo em casa. Seria uma maravilha!!

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