quarta-feira, 28 de julho de 2010

The Big Five O... e uma história de passar ao bronze

Este é o ano em que todos nós, os grandes amigos do grupo do Liceu, desconcertados, damos connosco a fazer 50 anos. Estranha idade, quando ainda nos sentimos (principalmente quando estamos juntos) perfeitamente adolescentes. Como é possível que já tenhamos essa idade toda?! 

Temos mesmo essa idade toda, não há como fugir à voragem do tempo, este tempo que voou sem sabermos como entre as conversas de quatro amigas estendidas ao sol de Primavera na relva dos jardins da Gulbenkian e as conversas das mesmas quatro amigas compostamente sentadas à mesa de um restaurante qualquer, trinta e tal anos depois. 

Ainda ontem eu e a Vanda tínhamos 12 anos e ficávamos sentadas lado a lado na sala de aulas. Ontem foi o dia dos 50 anos da Vanda. Um mês certo depois será o dia dos meus 50 anos. Ontem a Vanda celebrou em família, hoje foi o jantar connosco (e faltou a São, no Algarve, elemento imprescindível das Quatro Terríveis — assim éramos conhecidas no Liceu — presente connosco ao telefone).

A Vanda sempre foi doentiamente pontual. Às oito em ponto estava a ligar-me do Spianata a perguntar-me um impaciente «Onde é que estás?!» Eu, que com o passar dos anos também fui ficando doentiamente pontual, tenho outras condicionantes. Ainda estava no gabinete, como tinha avisado na véspera que era mais do que provável que acontecesse. A Clara, que também tem uma vida profissional complicada, também tinha avisado que era possível que chegasse atrasada.

E lá estava a Vanda, num glorioso fim de dia de Julho, uma mesa na esplanada do Spianata, à espera das amigas e já com uma caipirinha à frente. Uma mulher, se não tiver um livro à mão, faz qualquer coisa para se entreter. Pode olhar para a paisagem, pode estudar a ementa, pode pôr-se a consultar o telemóvel. A Vanda nunca foi do modelo corrente: a Vanda descobriu um pêlo numa perna. No instante seguinte a Vanda ficou obcecada. Morte ao inimigo! Havia que eliminá-lo. E estava a Vanda em plena cruzada de extermínio, a língua ao lado num esforço concentrado, o polegar e o indicador em alicate a tentar caçar o intruso, quando aparece um criado solícito. A Vanda nem deu por ele, toda entregue à sua nobre causa. Quase saltou, sobressaltada, quando lhe ouviu a voz: «Desculpe interromper a sua depilação...»

Resumindo e concluindo: provavelmente nunca teríamos sabido deste mortificante apontamento, tantos são sempre os assuntos a absorver-nos, se a meio do jantar eu não tivesse achado as atitudes do mesmíssimo criado um bocadinho bizarras. «Ó meninas, é só impressão minha ou este tipo está grosso?» Foi aí que a Vanda nos contou a história acontecida antes da nossa chegada. E rimos como doidas, porque tinha tido graça. Mal por mal, antes um bêbedo com piada. Mas, a trabalhar num restaurante, esperemos que conte sempre com benevolência igual à nossa. As duas fotografias que nos tirou não correram lá muito bem. Mero exemplo.

Abaixo a reprodução do que registei ontem no blóguio do Liceu para a Vanda. Com a imprescindível banda sonora, claro.


The Big Five O!

E hoje é a vez da Vanda!

Aposto, meus Amigos, que perguntarão por que escolhi esta fotografia, em que a Vanda nem sequer está sozinha. Por duas razões: porque está com o António, como ela fundador deste grupo, já lá vão 15 anos. E pela enorme alegria que esta imagem transmite.

A Vanda foi a minha primeira grande amiga no Liceu. Sentávamo-nos lado a lado naquela sala 5 do primeiro andar do Pátio Norte da qual se via o Hotel Sheraton, eu com o n.º 26, ela com o 32, no nosso primeiro ano do Liceu. O Dr. Malaquias, Professor de Desenho, chamava-nos «as manas». A amizade continuou nos cinco anos seguintes, cada uma a crescer de maneira diferente, mas sempre em harmonia e em riso. No 5.º ano já éramos quatro, sempre juntas, duas em cada turma. A Clara e eu na A, a Vanda e a São na B. Quantas travessuras, quantas tonteiras, quantas gargalhadas!

Ainda conservo com grande carinho um certo disco oferecido pela Vanda nesse nosso primeiro ano. Sobre a qualidade musical é melhor que não nos pronunciemos:


Tal como conservo este retrato da Vanda nessa época. Mudou mesmo muito pouco, terão de concordar comigo, mesmo tendo passado 38 anos.


A banda sonora para este dia dos 50 anos da Vanda? Muitas seriam as escolhas possíveis. Mas optei por Aznavour, que é uma avassaladora paixão que temos em comum. E porque esta música é, entre outras coisas, a evocação de um percurso, das coisas que deixam marcas. E porque é uma enorme celebração de Amizade. A família é-nos dada, os amigos são escolha nossa. E ainda porque nos lembra como, em tempos distantes, cada vez mais distantes, a vida foi bem mais simples e fácil. Graças a Deus, nenhum de nós perdeu a alegria. A Vanda, seguramente, não a perdeu.

7 comentários:

  1. Nossa, que relato mais tocante e belo! Tenho vinte e poucos anos, mas fico pensando se chegarei tão bem quanto vocês à essa idade. Amizade é algo lindo, que bom que a conservaram todos esses anos! Isso, nos dias atuais, é algo raro, infelizmente. Lindo blog! Beijos

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  2. Já vi que esta sensação de não se sentir a idade que se tem, pelo menos no BI, vai continuar.
    Mera curiosidade: também fui, pelo menos um ano, o nº 26.

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  3. A alegria, a amizade, ... tudo o que nos ajude a celebrar a vida e o que ela tem de bom, o que interessa a idade???? Ok, às vezes assusta pensar na quantidade de anos que já passaram, but life goes on!!! Viver intensamente cada momento é o que é preciso.

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  4. Os gloriosos 50, o meio centenário, as grandes amizades que o tempo nunca esqueceu, e para completar as festividades, passadas, presentes e futuros, que já por si são inesquecíveis, conta-se também com o amor, reencontrado.

    A todos/as, ergo uma taça do cristal mais puro, para vos desejar outros tantos, cheios de saúde, felicidade, sucesso, amizade, amor e nunca esquecendo os amigos ausentes.

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  5. Excelente iniciativa. Quase me sinto parte da mesma turma.

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