domingo, 2 de maio de 2010

Herman José no seu melhor #2

Em animada troca de comentários com amigos no Facebook, Herman José acabou por vir à baila. Todos nós somos fervorosos admiradores das grandes coisas que fez, todos temos saudades delas, todos lamentamos que a chama pareça ter-se extinguido. Eu, apesar de tudo, ainda não perdi a esperança. Quem já teve aquela criatividade fervilhante, aquele olho clínico para diagnosticar e a seguir caricaturar o ridículo, aquela capacidade de mata-borrão de absorver tipos e situações, deve conservar algures, ainda que adormecida, essa fonte de que já saíram tantas coisas extraordinárias.

O que vou mostrar a seguir é, para mim, quase de certeza o melhor sketch que me lembro de lhe ter visto, mas a sua história vem mais de trás. Algures no Verão de 95, estávamos eu e o Pedro preguiçosamente em minha casa a fazer horas para ir jantar (acho que foi naquele dia em que, por ter ficado sem luzes no carro, veio do Cartaxo na camioneta do feitor, que tinha andado a transportar fardos de palha — nem imaginam a sensação que causámos a chegar ao Gambrinus naquilo, o empregado a fazer sinais frenéticos de «não pode estacionar aqui!» até ver quem estava ao volante). Nem sei bem porquê, a televisão estava ligada, e começou um programa apresentado pela histórica Isabel Wolmar, locutora dos primórdios da RTP. A coisa chamava-se A Minha Vida Dava Um Filme, e nós fomos assistindo num fascínio horrorizado, mudos como carpas, trocando olhares compungidos, deslizando cada vez mais sofá abaixo da vergonha que aquilo era e como se fôssemos nós quem estivesse a fazer aquelas figuras.

O formato do programa era idiota. Uma pobre desgraçada, certamente sedenta dos seus 15 minutos de fama, ia contar uma história que lhe parecia digna de filme, coisa que me remete para uma certa frase de Pitigrilli, misógino óbvio, mas que muito me diverte: «A mulher que dorme com o carteiro que no dia seguinte é transferido para outra cidade sente que a sua vida é matéria para um romance.» — estou a citar de memória, não garanto que seja isto, palavra por palavra, mas a essência é esta. A pobre tonta que ia ao programa deparava com uma anfitriã malcriada e desatenta, sempre a confundir e a vacilar-lhe no nome, a interrompê-la, a maior parte das vezes da maneira mais rude, com um discurso incoerente e tolo, sem concluir uma frase que fosse. Não era nada connosco, mas estava capaz de jurar que eu e o Pedro até já estávamos corados, tão constrangedor era o que víamos. Quando a desgraçada cobaia daquela ignomínia contou que o suposto noivo lhe tinha contado que estava com problemas financeiros e lhe tinha pedido dinheiro emprestado, e a S'Dona Isabel Wolmar exclamou um triunfante «Eu já estava mesmo à espera disso!!», ficámos tão incomodados que desligámos a televisão, incapazes de continuar a ver.

Meses mais tarde, numa noite de sábado, estava eu a ler no sofá com a televisão ligada, começa  esta pérola que agora partilho convosco: A Minha Vida Dava Um Festival de Cinema. A S'Dona Isabel Wolmar passou a Isabel Godard (a referência cinéfila, topam?). Herman José captou tudo de maneira brilhante. Não vou fazer comentários que estraguem a surpresa. No intervalo (o sketch tem cerca de meia hora), o Pedro telefonou-me, também estava a ver, rimos como uns tarados, nós que conhecíamos o programa que tinha inspirado aquela tonteira. O Vítor e eu sabemos isto de cor, há frases de lá que se tornaram piadas recorrentes nossas. Talvez à cabeça venha o hilariante «é aquilo a que em Psicologogia chamamos a fase...», da Dr.ª Sónia Rafaela (Maria Rueff). Mas há muitas outras.





(tinha de ser coisa grandiosa e cinéfila; parar o som para ver os filmes, claro)

3 comentários:

  1. ¿puedo escribirte en español?? mis amigas portuguesas y brasileñas adoran que les escriba en español, y a mi me encanta tu lengua, el portugués es la lengua más bonita que existe, además se entiende muy bien!!!!

    un beso!!! beijos!!!

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  3. Teresa, que delírio! Lembro-me tão bem do programa da Isabel Wolmar e deste sketch que nunca tinha voltado a ver. Lembras-te do nome da psicóloga de serviço no programa? Era a Dra. Teresa Paula. E a Wolmar imitava o Herman José na perfeição. Era tudo tal e qual.

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