As blogo-excluídas

A minha intenção inicial com este post era provar que também seria capaz de ter um blogue de gaja, na hipótese remota (muito remota) de estar para aí virada. Ao fim e ao cabo, e se pensarmos bem, reúno os requisitos indispensáveis: sou gaija (gajas são as que não são minhas amigas), também gosto de trapos, e de sapatos (eu é mais botas e sendálias), e de carteiras (C-A-R-T-E-I-R-A-S, todas comigo, vá!, que malas são as de viagem), de betumes para as trombas e dessas tretas todas.

Como sempre, entre a minha intenção inicial e o resultado final pode ir uma muito larga distância, que eu cá sou perita em dispersões. Vou tentar mesmo cingir-me ao assunto, mas não prometo nada, escusam de vir depois com reclamações. Lá mais para a frente hei-de tentar escrever um post de gaja em blogue de gaja, se não me distrair entretanto.

A coisa é a seguinte: uma marca conhecida (publicidade à borla não vai ter aqui, lamento lamentar) andou para aí a oferecer a blogues de gajas telemóveis especialmente vocacionados para gajas. A Luna e eu ficámos chocadas. Digo mais: a Luna e eu ficámos melindradas. Não por não termos sido contempladas com um dos ditos coisos, que até achamos bastante pirosos, mas por termos sido excluídas. Somos gaijas, não somos? Temos blogue, não temos? (agora estou a tentar escrever como num blogue de gaja, ainda está fraquinho porque não estou habituada, dêem-me tempo que isto melhora). É a segregação que nos dói. Nós somos mulheres de causas, de princípios, de ideais! Estou perfeitamente a ver-nos na Primavera de Praga (gajas dos blogues de gajas, google it!), mas é claro que sempre muito jeitosinhas (somos gaijas, estão a ver?), muito bem arranjadinhas e, principalmente, com uma noção muito clara do ridículo, coisa que falta a muita gente.

Ora onde ia eu? Ah, sim, obrigada. Os telemóveis. A linha tem nome de ídolo supremo e endeusado (já disse que publicidade à borla é coisa que não vai haver aqui). Parece que tem uma série de funcionalidades expressamente criadas a pensar em gajas. Que me fizeram rir, mas isso, como diria o meu amigo Kipling, é outra história (há gajas que escrevem estória). E só me apetece, como gaija mais velha (a típica gaja anda algures entre os 25 e os 35), lançar-lhes este aviso vindo de quem (muitas vezes) até lhes acha graça, como se acha graça a um coelhinho branco e penugento, mas não particularmente inteligente: too many movies, gajas! too much Sex and the City! A partir aí dos catorze anos (hipótese pessimista) começamos a poder conseguir destrinçar ficção e realidade. E tentar recriar o Bergdorf Goodman (de que a gaja típica nunca ouviu falar) na Bershka é, no mínimo, deprimente.

Os telemóveis, gaija (eu), os telemóveis! Get to the f... point, a eterna recomendação do Vítor, como se nem fosse por tradição autor de introduções de meia hora para conclusões de trinta segundos (mas isso somos nós, e não é para aqui chamado).  Os telemóveis que a tal marca não te ofereceu, nem ofereceu à Luna. E nós aqui consumidas, porque ficámos abaixo da fasquia, fosse ela qual fosse. Número de visitas? A Luna está a meio da tabela dos cem blogues mais lidos (à volta de mil visitas por dia, número que me reconcilia com a inteligência média do ser humano, ainda não está tudo perdido). Eu nem entro na contagem, por preferir o statcounter, que me permite o humor perverso de inventar nomes para os visitantes que me vasculham de alto a baixo, coisa de que o sitemeter não dispõe, mas são em média umas 250 por dia, o que não é mau para blogue não-gaja. Mas houve gajas que, com blogues de 50 visitas diárias de média, levaram o muito discutível objecto de desejo. O raciocínio básico seria pensar que concederam favores sexuais aos senhores que mexiam os cordelinhos. Mas isso seria de gaja, e eu não sou gaja.

Porque está a ficar tarde, porque tenho uma vida, porque trabalho que nem uma condenada e amanhã lá estarei outra vez no Colosso, vou tentar abreviar: a Luna e eu estamos magoadas, pronto. É isso. Não queríamos o telemóvel para nada (e isto é mesmo de gaja), mas a exclusão fere-nos. Pouco importa que as características obedientemente proclamadas pelas beneficiárias sejam uma tonteira pegada. A tecla não sei quê em forma de diamante? Ó suas saloias! BRILHANTE!!! Diamante é a pedra por lapidar! O acolchoado das traseiras? Ai que giro! Faz Chanel de Canal Street!

Posto tudo isto, continuo ofendida, que eu até seria gaija para conseguir ter um blogue de gaja, assim tivesse paciência, tempo livre ou roubado ao patrão e QI mais baixo (mesmo não sendo nada por aí além).

Como eu disse no princípio, tencionava provar que sou capaz de ter um blogue de gaja. E assim, talvez, ser brindada com um telemóvel que não quero para nada, que acho piroso. Sempre podia passá-lo a uma das minhas sobrinhas, talvez achassem graça. Ou a um amigo gay destituído de gosto — não tenho nenhum, mas alguma coisa havia de se arranjar.

Assim sendo, meus amigos, numa última e desesperada tentativa de me armar em gaja, aqui ficam os vestidos que comprei ontem (não, não são da toda-poderosa Zara).

Em pormenor

E, como estou com a mão na massa, a carteira (C-A-R-T-E-I-R-A, repitam comigo, possidónias deste mundo, uni-vos!) que comprei na semana passada.

Estou cá com umas desconfianças de que isto não correu como eu planeava. Cheira-me que, de legítímo, só vos posso oferecer a banda sonora. Essa sim à altura de blogue de gaja. Ao fim e ao cabo, e se analisarmos a coisa, fala da eterna problemática tão dissecada nos blogues de gaja: a relação homem-mulher. E com a mesma profundidade.

Fiquem então com Tony Orlando & Dawn (o nome, só por si, já assusta) e o seu inefável Knock Three Times. Isto era para ser um post de gaja. Não correu lá muito bem, aparentemente não estou à altura. Se querem qualidade, e Mozart, e tudo e tudo (esta também é de blogue de gaja) voltem cá noutro dia.