domingo, 27 de dezembro de 2009

Room 101

Desmaiei. Em plena rua, pois claro.

A caminho do supermercado, atravessei a praça a meio caminho entre a minha rua e a Estrada de Benfica. Para atingir o passeio, dei uma passada mais larga por cima de um monte de folhas secas (folhas secas em Dezembro, altura em que todas as árvores já costumavam estar totalmente despidas!) e, nisto, irrompe de debaixo das folhas, com um restolhar ominoso, uma enorme ratazana, que me passa por cima dos pés a correr. O grito apavorado que dei deve ter-se ouvido (pelo menos) no Califa.

No instante seguinte (assim me pareceu) estava estendida no chão e tinha umas cinco ou seis pessoas à minha volta, com ar preocupado, um senhor já de telemóvel na mão a ligar para o 112. Levantei-me de um salto (gritinho abafado, desta vez de dor, o pé direito ainda não curou completamente a entorse), a olhar aterrorizada para o chão. Tinha desmaiado, sim. Por causa de um rato, sim. Por acaso até era mesmo uma ratazana, e das grandes, mas para o caso é irrelevante, como irrelevante é o tamanho do bicho. O meu pavor de ratos é absoluta e descontroladamente irracional. Os ratos, tal como para o Winston do 1984 de Orwell, são o meu Quarto 101.

Consegui deter a chamada de ambulância, e aquelas pessoas todas, acrescidas de mais três ou quatro entretanto chegadas — é sabido que o portuguesinho não perde uma ocasião de espreitar, se lhe cheira a desgraça —, devem ter ficado a achar que eu era uma perfeita idiota. E eu ralada! Agradeci a todos o cuidado, garanti que estava bem e voltei para casa, dispensando as gentis e solícitas ofertas de companhia.

Aqui para nós, tremia por todos os lados. Já em casa, Mozart, a eterna tábua de salvação, a tocar, agarrada a um reconfortante chá verde com jasmim da Rituals, um dos vários chás que recebi de presente este Natal, sentia um formigueiro de terror percorrer-me de cada vez que lembrava aquela coisa horrível a passar-me por cima das botas. E não tenho vergonha de dizer que calcei umas luvas de borracha e enfiei os pés calçados no bidé, esfregando-os com uma esponja (ainda bem que as botas eram de cabedal e não de camurça).

Umas duas horas depois achei-me recomposta e precisava mesmo de ir ao supermercado. Lá saí de casa, desta vez muito atenta ao chão que pisava, a olhar em todas as direcções. Tão atenta que, já na Estrada de Benfica, avisto de repente, do outro lado da estrada, aí uns dez metros atrás... um rato!!! Um rato (pequeno, desta vez, mas um rato, fosse como fosse!) a fazer-se à estrada, a atravessá-la para o meu lado. Novo berro, no Califa devem ter estranhado, ignorei o pé a queixar-se e desatei a correr como podia. Mas que raio se passa com este bairro? Dois ratos em pleno dia, no mesmo dia? Macacos me mordam se amanhã não contacto a junta de freguesia, ou a CML, ou seja lá quem for!

Compras feitas no supermercado, fiz um grande desvio para voltar para casa, para evitar a Estrada de Benfica e o monstro, não fosse cruzar-me com ele. Correu bem, graças a Deus.

21 comentários:

  1. Teresa
    A foto é impressionante!

    Também tenho um Room 101, equivalente ao seu, mas com aves.. Os pombos (ratazanas do ar)abundam nesta nossa cidade, pelo que muitas cenas haveria para contar!
    Por coincidência vivi em Benfica (perto da Cruz Vermelha) e também constatei que havia muita ratazana naquelas ruas. Pior, até tive uns ratitos em casa que os meus cães ignoraram. Estive quase para arranjar um gato, tal a dificuldade em os exterminar!
    Felizmente no meu bairro de origem, para onde regressei há um par de anos, a espécie deve estar em vias de extinção. Espero!

    Melhoras do tornozelo.
    Beijo

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  2. Mas já estás melhor do pé?


    Liga para a CM Lisboa, pede o contacto da divisão de Higiene e Salubridade (deve ser esta!)e faz o pedido de desratização por fax. Regra geral enviam os serviços ao local.

    bj e se precisares de alguma coisa diz.

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  3. Eu tenho pavor de centopeias. Fico petrificada e com medo de as matar porque na minha imaginação retorcida, elas saltam-me para cima se as tentar matar.... com ratos grito e com baratas não descanso enquanto não as mato.

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  4. Bom, o meu pavor são as aves. Por isso odeio os pombos, sobretudo quando eles fazem razias sobre as nossas cabeças. Nunca desmaei, mas poderá acontecer um dia. :-)

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  5. Um aspecto positivo neste episódio: trouxe novamente à blogosfera, onde havia quem já lhe sentisse a falta :-)
    As melhoras, e boas festas.

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  6. Passei só para deixar um beijo e dou logo com esta descrição aterradora... acredita que eu ainda sou pior do que tu! Tenho um episódio com ratazanas (só de escrever a palavra, já me arrepio) que me fez parar de ler este post, de tal maneira me vinha à memória. Não desmaiei, mas os gritos que dei no Largo do Rato devem ter deixado o PS em alerta geral de revolução. Não consigo sequer contar, e nem quero lembrar-me da cena. Brrrr

    Bom Ano, sem avistar nunca essas coisas nojentas!

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  7. Pois. E osgas? (não queiram estar ao pé de mim, é deprimente...)

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  8. Não há dúvida, os meus leitores são muito melhores do que eu, não me esquecem mesmo quando eu tanto descuro este espaço.

    Conceição,
    Eu sei que a imagem é impressionante, é uma interpretação do terrífico Room 101 do nosso maior medo que encontrei na Net.

    Nem quero imaginar o que é ter um terror igual ao meu por ratos transferido para pombos. Acho que a coisa fica muito mais complicada :(
    As confrontações são muito mais frequentes. Nem sei que diga, palavra.

    Maria Manuela (querida!, temos de falar!)

    Do pé estou melhor, muito melhor. Devia ter feito repous, e não fiz. Devia ter-me bstido de saltos altos e não abstive. É por isso que o pé ainda se ressente.
    Quanto ao teu alvitre, é que é já na terça-feira, que amanhã estou de férias! É que ligo mesmo para a CML, obrigada pela dica!!! Ver dois ratos (um deles ratazana) no mesmo dia, à luz do dia, não pressagia nada de bom quanto à zona, por aquilo que sei deles. Deve estar infestada!!!

    PKB (querida Ana),
    Por mais irracionais que as nossas fobias sejam, são reais e tolhem-nos. A tua, como a minha, tolhe muito menos do que a fobia de pombos, por exemplo. Mas só porque as probabilidades de nos cruzarmos cojm um rato ou uma centopeia são, convenhamo, muito menos numerosas e não nos afectam quotidianamente a vida.


    Beijos!

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  9. Kitty Fane,
    Mais uma pessoa com pavor de aves. Conheço mais, reconheço outra vez que é mais complicado gerir esse medo, as confrontações são muito mais frequentes.

    Somos todos diferentes. Não tenho uma simpatia especial por aves, mas nas minhas deslocações ao terraço do Colosso vejo pombos a toda a hora, às vezes gaivotas (que lhes têm um respeitinhooo que nem queira saber). Há tempos, numa ida ao terraço para fumar, que aproveito para andar, deparei com um pombo encolhido no sulco que separa a balaustrada do chão. Não me pareceu bem, baixei-me, tentei pegar-lhe. Consegui, fiz-lhe umas festas (somos todos diferentes, pronto, eu consigo fazer festas a pombos). Fugiu-me, voltou a refugiar-se naquele buraquinho. Fiquei preocupada, chamei os auxiliares. Devem ter achado (mais uma vez) que eu era doida. Insisti. Horas depois vieram dizer-me que o tinham encontrado morto. O meu instnto estava certo, aquele bicho estava doente. Tive muita pena.

    Gi,
    Muito querido da sua parte, muito mais do que este blogue e eu merecemos. Obrigada :)

    Ana,
    Old Souls, é a tal coisa. Também tu com ratos? Nem precisas de contar, até agradeço que não contes. Isto não se explica. É assim e pronto.

    Bom Ano, e a ver se jantamos juntas em breve, tenho saudades tuas! BTW, a tua irmã Madalena também teve ontem um encontro muito desconfortável com estes bicharocos, vai ao FB.

    Pedro,
    Osgas são por excelência o pelouro da minha Mãe. Acho-as nojentas, sim, mas consigo lidar com elas. Hei-de contar-lhe o dia em que entrei em casa e ia desmaiando com o cheiro a insecticida, a minha Mãe desvairada a tentar ver-se livre de uma osga. Também tem pavor de aranhas, que eu acho adoráveis (o maravilhoso Charlotte's Web influenciou de certeza). Eu pego nas aranhas com toda a delicadeza possível e vou pô-las no parapeito da janela.

    Também não tenho medo de cobras (tenho retratos com cobras ao pescoço, de resto). Nem de baratas. Sou incapaz de as matar (como seria incapaz de matar um rato, mesmo em legítima defesa).

    Os ratos são mesmo o meu incontrolável medo. Não sei explicar, é mais forte do que eu.

    Beijos!

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  10. Quero apenas acrescentar que consigo achar belas algumas aves, nas revistas e nos filmes!
    Simpatizo até com os pardais porque... fogem da pessoas :0)

    xxx

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  11. São,
    Os pardais são mesmo um encanto, não são? :)

    Uma vez, há muitos anos, consegui resgatar um das fauces de Mathilda, a minha primeira e inesquecível siamesa.

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  12. Não tem a ver com o tópico mas é importante:

    Boas Festas, Feliz Ano Novo

    Um abraço

    Lino

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  13. Sim Teresa, os pardais são um encanto... e acho graça ao melro por ser preto(com bico amarelo. Todos à devida distância - fobia oblige :0)
    Os pombos acho-os horríveis e por mim emigrava-os todos! As figuras que tenho feito à conta deles dava direito a uma entrada no guiness :0(
    No verão é pior porque têm a mania de ir para as esplanadas!

    xxx

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  14. Teresa,

    Gostaria de enviar um mail, mas não encontrei o endereço?

    A Elite

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  15. Ai se eu contasse todos, um por um, os meu encontros imediatos com ratos, ratazanas e osgas... davam uma boa serie de TV... é por essas e por outras que lá na minha Tasca está o simbolo bem visível de proíbida a entrada a esses bichos nojentos... brrrr...

    Espero que estejas melhor do teu tornozelo e desejo-te um Novo Ano pleno de tudo de bom!

    Beijocas***

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  16. O que é isso comparado com a que me roeu as extremidades do meu Kilim afegão autêntico aqui mesmo em casa e que, ainda hoje, estou para descobrir como e por onde entrou? Mas já não saiu, claro!

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  17. Achei piada ao comentário do chinoca ali em cima!
    Eles, os chineses, têm um enorme sentido de humor, não acham? :-))

    E fiquei a saber que a Teresa agora mora mesmo ao pé do meu escritório (só tenho de descobrir qual dos 17 nano-micro-mini-supermercado ela se abastece). :-)

    Isso de ver ratos por todos os lados deve ser da chuva. Os ratos andam a organizar uma petição por causa das deficientes condições de tocabilidade das respectivas tocas...

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  18. LC,
    Agradeço e retribuo os votos :)

    Conceição,
    Fobias, fobias, cada um com as suas. Reconheço que a sua é mais complicada de gerir do que a minha :(

    Elite,
    Já falámos em privado. A resposta ao questionário segue em breve :)

    Bom ano a todos!

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  19. Cenourit@,
    Mas encontra-los assim com tanta frequência?! Credo!

    João,
    Mental note to self: nunca esquecer essa história e nunca ir a sua casa, não vá algum primo voltar.

    Luís,
    Estes comentários chineses são uma paraga. Podia livrar-me deles se pusesse aqui verificação de caracteres, não quero dar tal frete aos meus comentadores.

    O seu comentário trouxe-me logo à lembrança (a memória é coisa mesmo caprichosa) uma certa fotografia que me mandou há anos e que acabou afixada na parede do gabinete da Paula, sua prima. Quinta Nova da Conceição :)
    Pois é, devemos mesmo ser vizinhos :) ó quem conhece muito bem esta zona a reconheceria imediatamente com elementos tão imprecisos como os da minha descrição.

    Beijo a todos. Feliz Ano Novo!

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