A Mafalda, o Nuno e eu
Aqui vai a história, ontem prometida, da Mafalda (a do Quino, não a que foi casada com o Nuno e com quem ele teve três flhos que são umas brasas, os genes dos dois lados cumpriram).
Para minha grande surpresa, fui encontrar a imprescindível imagem que a ilustra justamente num blogue de que sou visita diária, o Dias que Voam.
Esta tira da Mafalda forneceu-nos motivo para risota, ao Nuno e a mim, durante mais de vinte anos.
Não sei qual de nós a utilizou pela primeira vez, só sei que o primeiro que usou a frase «Eu não sou seu criado/a)», proferida pelo Gui, foi imediatamente captado pelo outro, percebendo aonde aquilo ia chegar, e colaborando acto contínuo.
No Stone's, o nosso lugar de eleição eram os parapeitos junto à cabine (sempre a música, que tentávamos a todo o custo controlar). De repente, havia um copo vazio a pousar e pedia-se ajuda ao que estivesse mais próximo de uma mesa, ou do rebordo da cabine; de repente, havia um cigarro a apagar, e era o outro que estava mais próximo de um cinzeiro.
Suponhamos que foi o Nuno que deu início a isto (é indiferente, ambos sabíamos a Mafalda de cor). Eu estaria empoleirada no parapeito da cabine, o que tinha a mesa triangular por trás. Ele, em frente, tinha mesmo por trás a primeira mesa à direita, para quem entrava.
— Nuno, apague-me o cigarro, por favor.
— Eu não sou seu criado.
— Não lhe estou a pedir como a um criado, mas como a um amigo.
— Ah! Sendo assim...
Ele apagava-me diligentemente o cigarro. Eu fazia-lhe uma festa condescendente na cabeça, acompanhada do inevitável «Obrigada, ingénuo.»
E a seguir rebentávamos a rir, sempre, como se fosse a primeira vez. Isto aconteceu centenas de vezes, ora havia um ingénuo, ora uma ingénua, e ríamos sempre com a mesma genuína alegria da partilha cúmplice.
Explicação para a banda sonora? Era uma das nossas músicas (sim, também há canções de amizade), fruto de muitos anos de muitas confidências. O Nuno via-me em baixo e apontava carinhosamente o ombro, dizendo «Any time at all...» Eu via-o em baixo e fazia o mesmo.
«If the sun has faded away, I'll try to make it shine,
There's nothing I won't do
If you need a shoulder to cry on I hope it will be mine.»
There's nothing I won't do
If you need a shoulder to cry on I hope it will be mine.»
Não que fôssemos muito de chorar por coisas nossas, o Nuno e eu. Mas era sempre reconfortante saber que havia um ombro em que podíamos encostar a cabeça. E acabávamos a rir, por pior que fosse o cenário.
Banda sonora: The Beatles - Any Time At All (A Hard Day's Night, 1964)
A Teresa tem sempre histórias fantásticas para contar!
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