domingo, 5 de julho de 2009

Entrada da semana #1, por Safira

Esta semana temos duas entradas, ex-æquo.


Eis a primeira, no blogue House of the Rising Cats, sobre esse grande escritor da nossa praça que dá pelo nome de José Rodrigues dos Santos. Concordo com tudo o que a Safira escreveu sobre o livro em análise (excepção feita à sua observação sobre as descrições que Eça, o grande Eça, Eça-o-Único, faz do Ramalhete) e vou mais longe, que detectei um disparate medonho que a ela parece ter escapado.

Logo no início do livro, o protagonista desloca-se a Nova Iorque para ouvir a proposta que têm a fazer-lhe, e que será muito generosamente remunerada. O herói, sempre à frente do seu tempo, faz as contas em euros, o que é notável, se considerarmos que estamos em Janeiro de 2000, altura em que ainda nem sequer a cotação da nova moeda (que só entraria em vigor em 2002) era conhecida. E cheira-me que até os valores que ele refere estão errados, que tenho ideia de que o dólar estava bem alto nessa época...

«O grande vazio...

Nota prévia:
Quem gostou do livro CODEX 632, por favor não leia o post, sou tudo menos boazinha.
Quem não leu o livro, por favor tome em consideração que revelo partes da trama.
Posto isto, bombs away!

Tenho lido, com crescente irritação (e franca embirração a partir de certa altura) aquele que me foi 'vendido' como um incontornável da nova literatura portuguesa. Acabei hoje, louvado seja o Altíssimo. Depois disto, qualquer assinatura do diário de Maria é bem-vinda. PUAHHHHHHHHHHHH!!! é o meu comentário final.

Não me queria alongar muito mas, mesmo pondo aqui só os pontos fundamentais, receio que vá resultar num grande ensaio... Cá vai:

1) A linguagem 'popularucha'.
Expressões como ''avançar com os carcanhóis' ou 'deu com as trombas na América', podem fazer sorrir muitas pessoas, mas a mim irritam-me, especialmente se tivermos em conta que são proferidas por um professor de faculdade, e escritas por um jornalista, igualmente professor, que tinha obrigação de elevar um pouco mais a língua de Camões. Penso eu de que...
Mas tenho de tirar o chapéu porque o palavrão, sendo feio, vende, e o autor soube ir rebuscar um americano com origens brasileiras para nos poder, justificadamente, brindar com os providenciais 'motherfucker' e 'fucking isto' 'fucking aquilo' que, como todos sabemos, acrescentam imenso interesse à narrativa.

2) O 'encher chouriços'
Não se aguenta o adjectivar excessivo e a excessiva descrição de cada cena, o debitar de informação a propósito de tudo e coisa alguma, desde a trissomia 21 à linguagem das flores, das diversas variedades de chá verde à mitologia grega, o Tomás (AKA JRS) é o maior, o Tomás sabe de tudo. Eça, só houve um, meu caro senhor, e mesmo esse chegava a ser chato com o seu Ramalhete visto a microscópio digital.

3) A imprecisão científica
Não serei especialista, mas achei estranho que, numa passagem na quinta da Regaleira (Sintra), o nosso herói conseguisse, AO MESMO TEMPO, descortinar 'os pintassilgos que trilavam com exultação, envolvidos num intenso duelo de resposta ao arrulhar baixo dos beija-flores e ao gorjear melodioso dos rouxinóis'. Um rapaz de sorte, este Tomás... conseguiu a meio da tarde ouvir um rouxinol (que só canta ao anoitecer) e um beija-flor, que, tanto quanto eu saiba, nem sequer existe em Portugal.

4) o fazer do leitor estúpido
Foi o que mais me irritou. Mesmo. Não sou criptanalista, como o amigo Tomás, mas não precisei de mais de cinco segundos para chegar à conclusão que 'MOLOC' seria 'COLOM'. Ele precisou da página 80 à página 112...mas façamos justiça ao homem, ele assume que é bronco: 'andei eu para aqui a matar a cabeça como um tolinho quando, afinal, na primeira linha bastava ler tudo da direita para a esquerda'. pois... DUHHHHHHHHH, Tomás!!!!

5) o fazer do leitor mais estúpido ainda
Na pág. 233 surge mais uma charada complicadíssima: 'Qual o eco de foucault pendente a 545?'. Ora admito que nem toda a gente conhece o Umberto Eco, mas há pessoas que por acaso até sabem que ele escreveu 'O pêndulo de Foucault' e, logo, se sentem INSULTADAS quando um pretenso professor universitário, historiador e criptanalista, leva quase 100 páginas a ler livros de um outro Foucault que nada tem a ver com o caso, para, OH CÉUS!!, ter uma inspiração súbita e ir, por fim, ao livro certo consultar a pág. 545. Que é inconclusiva (e no caso do meu livro, até inexistente, mas vou admitir que a cópia do Tomás tenha sido escrita a caracteres maiores e tenha de facto pág. 545...) e que mergulha o herói numa dolorosa inquietude até ter mais um rasgo de génio e chegar finalmente à conclusão que o estúpido livro está dividido em capítulos, e depois em subcapítulos. Hello??? 545= cap. 5, subcapítulo 45. Não leu a Bíblia, o menino Tomás??? Tipo Livro de Job 3:27? Por amor de Deus!!!

E, para que não estejam a pensar que me estou a armar 'ah obrigadinha, já conheces o livro' pois que não. Foi a primeira vez que o abri. Nem conhecia a estrutura, tão pouco. Mas cheguei lá. Deve ser porque não sou historiadora nem criptanalista...
Mas convenhamos que é chato o leitor estar a fazer compasso de espera até que o autor se decida avançar porque já toda a gente sabia que o Colombo era um judeu português antes de o Tomás sequer saber em que livro é que isso está escrito. Apre, Zé, não se aguenta!

E muitas mais cousas me irritaram, desde a historieta familiar de suporte à trama, com a trissomia da miúda, que depois ainda morre no fim, a puxar ao sentimento, os dilemas morais de trair a mulher (uma página de dilema, apenas, curiosamente...) com a sueca pulposa, providencialmente caída na sala de aulas dele (euh... hello, amigo Tomás, a tua estupidez é natural ou foi uma arte que aperfeiçoaste? Pois não era de ver que a loura bombástica tinha algo a ver com os americanos, homem de Deus?? Achas que há suecas ninfomaníacas com peito 44 a querer estudar escrita suméria em Lisboa?

Salvam-se deste desastre os factos históricos (curioso como a linguagem é muito mais técnica e formal, apesar de ser sempre o Tomás, o bronco, a relatar... hum...bizarra a incongruência, não?).
É um facto que recordei factos e aprendi uns novos (presumindo que são verdadeiros, mas quem é que me prova isso?) mas, a verdade é que ficamos todos mais ou menos na mesma. É um facto que Colombo é um mistério, mas não era preciso D. José Rodrigues dos Santos, o Salvador, andar com tanto floreado para vir repor a 'verdade' dos factos e deixar no ar que o homem era alentejano. Já outros antes dele o fizeram. Temos é de dar-lhe o mérito de ter acrescentado que há uma conspiração de americanos com ascendência genovesa para encobrir tudo.
Claro que sim!»

2 comentários:

  1. Eu não li mas fiquei com a nítida sensação que seria uma tentativa de imitar o estilo "Código da Vinci", não?
    Jokas

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  2. Não é a primeira vez que aqui venho e sempre demoro mais que o tempo de que disponho para mergulhar na escrita de quem sabe escrever. Registo-me aqui como anónimo, porque de repente me identifiquei com ALA (nasci no mesmo ano, eu sim, sou «velha»!) quando diz que só ele sabe escrever... e critiquei, na época, a postura porque «eu» também sei escrever bem, embora nunca tivesse publicado livros (que já escrevi, só não tenho a quem deixar memória de mim).
    De JoséRS li a Filha do Capitão e não me deixou apetite aberto.
    Ele escreve para ganhar dinheiro, precisa de muitas páginas e «arranja-as», só não perco tempo com aquele tipo de escrita - porém, é saboroso este seu discurso sobre ele.
    O que queria acrescentar ao que diz, pondo mais «fogo na panela», é que esse senhor locutor, professor universitário, escritor, me fez sentir envergonhada, ao entrevistar o grande Amin Maalouf num programa que deixei de ver...

    Ah... quer um pseudónimo giro. Está bem.

    Miruii

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