Cabelos brancos

Se os cabeleireiros dependessem de pessoas como eu, estavam bem tramados. Toda a vida odiei ir ao cabeleireiro. Não tenho paciência, pronto! Como tal, só lá ponho os pés aí de dois em dois ou até de três em três meses. Para cortar. E só.

A minha cabecinha é praticamente virgem em matéria de aventuras capilares. Em toda a minha vida, que já vai sendo mais a atirar para o longa, cometi as seguintes extravagâncias: levantamento de raízes, uma vez (e ainda estou para perceber porquê, cheira-me que foi para a cabeleireira se calar — nunca mais me apanham noutra, que aquilo demora imenso tempo); uma permanente leve, chamavam-lhe mini-vague (devo ter ido outra vez na banha da cobra da cabeleireira, meu rico cabelo liso!); nuances, três vezes — e por iniciativa própria, pasmem! Admito que ficou giro, mas é a tal coisa, demora muito tempo a fazer, e eu não tenho paciência. Além de odiar conversa de cabeleireiro.

Agora estou com um problema: os cabelos brancos começam a notar-se. O primeiro apareceu-me aos 36 anos, e manteve-se filho único (nunca o arranquei, achava-lhe graça) por uns bons seis ou sete. Uma sorte, que a minha irmã, seis anos mais nova, teve os primeiros ainda antes dos trinta e há quatro anos que pinta o cabelo. Tenho estado a resistir o máximo que posso, e acho que ainda não é este ano que tenho de começar a depender das tintas. Vamos ver se consigo aguentar até aos 50... porque no dia em que começamos a pintar o cabelo não há regresso possível e a coisa torna-se uma escravidão.