sábado, 8 de novembro de 2008

Mágicas Noites de Teatro #3: Cabaret

Sam Mendes é principalmente um homem de teatro (apesar de, na sua estreia como realizador, ter logo conquistado um Oscar por American Beauty, sempre há gente muito talentosa...) e até já esteve à frente daquele monumento que é a Donmar Warehouse, en Londres. E foi justamente em Londres que a sua produção de Cabaret começou. Não a vi lá, com infinita pena minha, mas ainda fui a tempo de a apanhar na Broadway, para onde viria a ser transferida. E vi-a em Outubro de 2001, como podem comprovar pela capa do programa.

Já estávamos nós com os bilhetinhos comprados, lá por volta do fim de Junho, quando foi anunciado que Brooke Shields ia ser a nova Sally Bowles. Pré-apoplexias para mim e para o Vítor. Claro que já não íamos ver Alan Cumming como MC ou Natasha Richardson como Sally (lembram-se? — vi-a em Julho, a jantar com a senhora sua mãe, Dame Vanessa Redgrave), que tinham sido os actores iniciais em Londres e na Broadway, onde ambos ganharam o Tony, mas... Brooke Shields a fazer Sally Bowles...? A menina da Lagoa Azul? Que mal tínhamos nós feito a Deus?!

Cheios de ressentimento, lá fomos, mesmo assim, para os nossos fantásticos lugares, prontos a odiar Brooke Shields. Pois, meus amigos, naquela noite apaixonámo-nos por ela! Estava perfeita no papel, e muito tocante, além de ter aquela beleza que se sabe. De resto, é suposto Sally Bowles cantar num cabaret de terceira na decadente Berlim que antecede a II Guerra Mundial, nem faz muito sentido que seja uma grande cantora, ou faz?

A produção era uma coisa verdadeiramente assombrosa. O Studio 54, que foi entre 1977 e 1980 a mais famosa boîte do mundo — na pista acotovelava-se gente como Andy Warhol, Calvin Klein, Carolina do Mónaco, Freddie Mecury ou Mick Jagger com ou sem Jerry Hall, — depois de muitos acidentes de percurso foi transformado em teatro e o Cabaret de Sam Mendes foi precisamente a sua estreia no novo ramo.

Para recriar a atmosfera pretendida, a de um cabaret dos anos 30, toda a plateia foi substituída por mesas para quatro pessoas, com um candeeirinho que depois era apagado e serviço de bar antes do início do espectáculo e no intervalo. A nossa, que partilhámos com dois desconhecidos, obviamente, era na primeira fila de mesas, ao centro. Já no balcão, como era impossível pôr mesas, puseram pranchetas com a mesma função a cada dois lugares. Foi aliás nessa noite que ouvi pela primeira vez a célebre interpelação «Hey you poor people up there! Hey you in the cheap seats!" feita pelo MC.

Tanta e tamanha pontaria tivemos que apanhámos Brooke Shields na sua penúltima noite. Na noite seguinte ela encerrava a sua passagem por Cabaret e nós estávamos em Tampa, Florida, a ver a nossa adorada Bea Arthur.

Se quiserem ouvir Liza Minnelli, a Sally Bowles no cinema, e que é de facto uma extraordinária cantora, podem fazê-lo aqui. Eu prefiro a versão de Natasha Richardson, que me comove muitíssimo mais. A música é a mesma. Maybe This Time.

P.S. Como devem calcular, não tenho a mais remota intenção de ir investigar o que Filipe La Féria fez a esta obra. Não leves a mal, Wednesday...

11 comentários:

  1. Ahhh!

    Essa encenação deve ter sido fantástica. O género café-concerto é algo que me agrada bastante, apesar da oferta inexistente.

    O Cabaret português é encenado pelo Diogo Infante, e não pelo La Féria. O que, apesar de tudo, é capaz de ser pior. Não sei, que ainda não vi, mas tenciono.

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  2. Só mais uma achega: o La Féria está com o Um violino do telhado, no Porto, e em breve estreia em Lisboa o West Side Story (tudo com os devidos itálicos)

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  3. Obrigada pela informação, Pedro. Parti do princípio que era do La Féria, já que ele se especializou em ir buscar musicais de grande sucesso. Juro que se alguma vez se lembrar de fazer os Miseráveis... sou mulher para lhe ir ao focinho!

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  4. Claro! O que foi que eu disse?!

    Idem se ele se lembrar de fazer Oklahoma, South Pacific e muitos outros.E é tudo cantado em poeruguês, não é? Nem quero imaginar as letras...

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  5. (tudo em voz rouca) Ó Teresa, não diga uma coisa dessas, que são "caminétas" que vêm ver os meus espectáculos!

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  6. Pois... não queira...

    Mas olhe que eu não gosto e fui ver o JCS e gostei imenso, exactamente por a tradução ter funcionado muito bem e também por estar muito semelhante a uma produção de 2000 e pouco (não lhe sei dizer ao certo qual é agora...)

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  7. Bem, e terminando (a Teresa sabe-me mesmo transformar em gralha) devo dizer que o Cabaret é um dos filmes da minha vida. Devo-o ter visto com uns 15/16 anos e tocou-me particularmente. Ainda não falei dele no estaminé porque não calhou.

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  8. Bem, e terminando (a Teresa sabe-me mesmo transformar em gralha) devo dizer que o Cabaret é um dos filmes da minha vida. Devo-o ter visto com uns 15/16 anos e tocou-me particularmente. Ainda não falei dele no estaminé porque não calhou.

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  9. Por mais que eu adore a nossa língua, Pedro, e bem sabe que sim... há coisas em que ela não funciona.

    Deixemo-lo para o fado e coisas nacionais. Não sou capaz de ouvir isto em português, pronto!!!

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  10. Percebo perfeitamente. Eu confesso que não me importo de ver coisas más - sempre fui de opinião de que o que importa é ver.
    Percebo que é muito melhor a versão original - quem escreveu também escolher não só a palavra, mas a sonoridade. Mas se a tradução for boa...

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  11. Concordo com ambos. Há coisas que não me parecem combinar muito com a língua portuguesa em termos musicais, massssssss o pedro tem razão: uma boa tradução feita por um também artista, que se adapte bem... é sempre uma tentativa válida -- independente das chances de dar certo, ou não :o)

    e mais, já percebi que o único jeito de apanhar nossa amiga em conversa nocturna é mesmo acompanhar suas postagens, no instante em que estão entrando online, certo? hehe... vou ficar mais atenta à próxima. pah que mulherzinha difícil :)

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