sábado, 29 de novembro de 2008

Bancos de Central Park (I park benches)

Sou capaz de passar horas a ler as placas nos bancos dos jardins ou parques. Começou em Inglaterra, há muitos anos, no Yorkshire. Redescobriria esse fascínio anos mais tarde em Londres, numa manhã de Verão, de regresso ao hotel depois de ter ido à Missa das oito na Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Mayfair. Para encurtar caminho, atravessei um jardim junto ao Connaught. Os meus passos foram ficando cada vez mais lentos, porque parava diante de cada banco a decifrar-lhe a inscrição na placa. Lembro-me de uma em especial, que me alagou imediatamente os olhos; começava assim: «In loving memory of (...) and her dog (...), who used to sit here...»

Adopta-se um banco, contribuindo para a manutenção do espaço. Homenageia-se alguém, que quase sempre já partiu. Em Nova Iorque é assim, desta maneira.

Aqui ficam imagens de algumas das placas que mais me tocaram. Curiosamente, apenas a primeira evoca alguém que já não está entre nós, é o género de mensagem cifrada que eu e o Vítor poderíamos deixar um ao outro, postumamente. A pessoa que adoptou este banco para homenagear David Halberstam (que descanse em paz!) não mandou gravar esta frase por acaso. Há aqui uma história, há aqui passado. «Aren't We Lucky», apenas. Provavelmente, só os dois sabem o que aquilo quer verdadeiramente dizer... e fica ainda mais comovente.


Recado: Vítor, o primeiro de nós que partir (espero ser eu) adopta um banco, combinado? Não vale a pena perder a cabeça, em Nova Iorque há-de ser mais barato, seja Nova Iorque. Se conseguires que seja junto de Strawberry Fields ou da Bethesda Fountain, melhor ainda.

As outras são enternecedoras celebrações da vida e do amor. Desejo que continue sempre assim, para todos estes desconhecidos.

Deixei para o fim a que mais me enterneceu. Porquê?... Porque sim! Há lá razão melhor ou mais poderosa?

7 comentários:

  1. Que giro...nunca fui a NI, mas tenho ouvido falar muito. Nunca ninguém me contou uma particularidade destas. Cada banco com uma história para contar e nos aguçar a imaginação.

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  2. Pepita,

    Como a Raposinha disse ao Principezinho, «o essencial é invisível para os olhos». Há muitas maneiras de ver NI, as minhas costumam ser diferentes das da maior pate das pessoas. Não me enfio em lojas a fazer compras como uma alucinada. Nunca fui aos outlets, para onde vai a carneirada toda comprar pechinchas (normalmente com defeito), só para ostentar cá uma marca, de preferência com o logótipo bem à vista, e dizer com ar de quem tem muito mundoque comprou na 5.ª Avenida ou na Rua 57. Eu nunca desperdiçaria um minuto do meu precioso tempo em NI nem um tostão do dinheiro que não tenho nessas parvoíces. Prefiro respirar a cidade, que adoro. As compras que faço são normalmente meia dúzia de bugigangas compradas a correr no último dia, género as t-shirts I ♥ NY (quatro por dez dólares, óptimo algodão, para trazer aos amigos.

    Que me lembre, além de uma máquina fotográfica há anos, a única compra mais pesadota que fiz foi foi um chapéu da Burberry que vai comigo para todo o lado (podes ver-me com ele na cabeça uns posts mais abaixo, nas fotografias de Londres), comprado na legítima, na Rua 57, e que me custou vinte e tal contos, que o dólar por essa época estava a mais de 220$00 (sim, foi antes do euro). Foi das melhores compras que fiz na vida, acredita.

    NI (para mim, nota bem) é a sensação electrizante de andar nas ruas, é o Teatro, são (mea culpa, é a nossa frivolidade) os grandes restaurantes que o Vítor escolhe a dedo.

    Quando lá fores (porque vais, não é verdade?), seja quando for, manda-me um e-mail e terei o maior prazer em dar-te as minhas sugestões de coisas a não perder em NI. Algumas das melhores até são grátis, acreditas?

    Escrevi imenso, mas isto também sou eu, a falar da minha cidade adorada. :)

    Um beijo.

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  3. è quando escreve assim que gosto nais de a ler. Muito bonito. Nunca tinha rearado nas placas nos bancos. Agora vou reparar, obrigado, fico a dever-lhe essa.

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  4. Anónimo,
    Vale a pena ler as placas dos bancos. Há ali, tivesse eu qualidades de escritora, matéria para um grande romance.

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  5. Só vi bancos parecidos com esses em Londres ... sentei-me no que dizia:
    "Promise you won´t forget me, if I thought you would, I'd never leave"
    David Holloway

    ... não me devia ter levantado!!! :P

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  6. No Brasil há cantos onde se lê em bancos de praças coisas curiosíssimas... Muito menos inspiradas ou enternecedoras, mas algumas divertidas, mais no género versinho popular. Devo ter alguns fotografados, vou à cata depois pra partilhar contigo. Ainda assim confesso que nas minhas caminhadas pelo Central Park (ficava no Doral Inn que era pertinho) não me detive na leitura das placas, eram os cachorros a passear que me encantavam e o verde e as águas quase congeladas... também sempre tanto a ver. Da próxima presto mais atenção ... ;o)

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  7. Nani,
    Eu sei... :) Também me ponho a ler as placas em Londres. Coisa a fotografar da próxima vez, estas duas últimas idas foram viagens-relâmpago, só para ver Teatro.
    Beijo.

    CoRa,
    Essas placas devem ser bem engraçadas! No género dos famosos dísticos dos camiões (vocês dizem caminhões) brasileiros, não?

    Central Park? Ah, nem me fales nele... Haverá pelo menos mais dois posts na Gota a honrá-lo...

    Beijo enoooooorme.

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