Carta aberta ao Biography Channel
Está há mais três anos, para minha — e certamente de muito mais gente — grande alegria. Parabéns.
Infelizmente, não há bela sem senão. Gostaria que vissem esta minha crítica como construtiva e bem intencionada.
As duas enormes (este enormes deveria estar em maiúsculas, e bem separadas, letra a letra, para melhor vincar a minha indignação) queixas que gostaria de vos apresentar estão interligadas, como adiante perceberão:
1. Legendas vs Dobragem
Os vossos documentários deveriam — na minha humilde opinião — ser legendados, ao invés de dobrados. Se nós Portugueses ainda vamos tendo algum jeito para línguas, ao contrário dos nossos vizinhos Espanhóis (não vou aprofundar o que lhes diz respeito nesta matéria, para não correr o risco de parecer maldosa), acredito sinceramente que isso se deve em parte à boa e antiga metodologia das legendas. Não me ficará lá muito bem dizer isto, mas se o meu inglês e o meu francês são verdadeiramente bons é porque, entre outras coisas, cresci a ver programas legendados. Enquanto se ouve também se aprende. Sendo o vosso um canal indiscutivelmente de cariz cultural, esta reclamação parece-me altamente válida e merecedora de consideração.
Bem sei que as dobragens são encomendadas. A empresas várias. Páteo das Cantigas, Artes e Letras, Pim Pam Pum, Santa Claus, etc. Graças a Deus, só raramente encontro no vosso canal coisas assinadas pela patética Ediberto Lima Produções. Como tal, a culpa não vos assiste na totalidade. Mas põe-se uma questão pertinente: alguém avalia a qualidade do produto final que será visto pelos assinantes da Tvcabo? É que chega a ser revoltante.
Deixem-me dar-vos um exemplo: um documentário sobre Carrie Fisher. que passou recentemente. Parece-me mais coerente que as intervenções da própria sejam legendadas — é ela a falar, ouçamos-lhe a voz! Sou suficientemente flexível para admitir que os depoimentos dos diferentes intervenientes até possam ser dobrados. Mas, por amor de Deus, já não sei qual foi a empresa encarregada do trabalho, a senhora que faz a voz de mãe da actriz/escritora (Debbie Reynolds, morreu há três anos) deve ter arranjado o tacho por meios pouco ortodoxos, ou talvez durma com o patrão, aquela vozinha mimalha e aflautada é intolerável. De fazer ranger os dentes. De dar uma vontade súbita e incontrolável de emigrar para uma galáxia distante, o mais distante possível.
Também recentemente, passou um magnífico documentário/entrevista em duas partes sobre Lauren Bacall, senhora de voz gloriosa, autêntico mel para os ouvidos. Dobrado. Inadmissível, lamento lamentar. E que dizer do fabuloso programa de entrevistas conduzido por James Lipton, Inside the Actors Studio? Dobrado. Dobrada a voz magnífica do entrevistador, dobradas as vozes magníficas dos entrevistados, sejam eles Morgan Freeman, Al Pacino ou — aqui é mesmo crime punível com morte especialmente violenta — Jeremy Irons.
Os exemplos são infindáveis, peço apenas que considerem a questão. Até porque julgo que vos será mais barato apresentar um documentário legendado do que um documentário dobrado.
2. O Português. A pronúncia de nomes/palavras estrangeiros
Caros senhores, é que não se aguenta!!! Já sei que a culpa não é vossa, mas volto a perguntar: ninguém vai investigar a qualidade dos trabalhos que vos entregam?
Há dias vi um segmento sobre a tenista Anna Kournikova. A locutora de serviço dizia com admirável convicção que «os fãs OCORREM para a ver». Mais adiante, confirmamos que a dita locutora é uma cretina de elevado calibre e de escolaridade discutível, porque repete com igual convicção que «os fãs OCORRERAM». Suponho que será desnecessário informar-vos de que as formas verbais seriam ACORREM e ACORRERAM — sinónimos de correr para, enquanto o verbo ocorrer é sinónimo de ACONTECER. E que dizer de pérolas como «os faróis do carro encadearam» (encandearam!), ou «a passagem de modelos teve lugar numa cave de tecto abobado»?... Por mais desinteressante que o dito tecto pudesse ser, acho mesquinho adjectivá-lo à brasileira como apatetado. Quereria a sumidade que fez a locução dizer abobadado? Just a wild guess...
E a calamitosa pronúncia de nomes estrangeiros? Nem as iniciais sabem pronunciar? Perdi a conta às vezes que ouvi GFK por JFK. Outra palavra que os locutores parecem ter clara dificuldade em articular é awards (prémios), sai-lhes sempre um howards, vá-se lá saber porquê, só que sem o «h» aspirado...
Caso precisem de ajuda, ou as empresas a quem entregam estes trabalhos — que claramente precisam desesperadamente dela — estejam intereressadas, na qualidade de revisora experimentada e com provas dadas, ofereço os meus préstimos.
Com os melhores cumprimentos,
Teresa
Dois meros exemplos de Inside the Actors Studio como deveríamos vê-lo em Portugal. Al Pacino (meninas, corram, a entrevista, em onze partes, está toda no Youtube).
Jeremy Irons. Também está toda no Youtube. Com legendas em italiano. E nós tão raladas! Só o prazer de ouvir aquela voz orgásmica!
(à falta do maravilhoso tema que compôs para Inside The Actors Studio, a pedido expresso de James Lipton, aqui fica este, igualmente dele)
Estou em pulgas para conhecer a resposta...
ResponderEliminar:)
Realmente seja em que lingua fôr, detesto programas dobrados... desde os desenhos animados às biografias...
ResponderEliminar:o)))***
"Patético" parece-me pouco para adjectivar as enormidades que a Ediberto Lima Produções amanda aos nossos ouvidos. Deve ser porque são brasileiros (duhhh!).
ResponderEliminarBj.
vês, se por vezes te moo a cabeça porque exageras nas correcções de erros de português em certos locais - blogs, por exemplo. era mais bonito que todos escrevessemos limpinho e sem erros, não era. mas caneco, é um blog, não te aborreças, pá! - com estas coisas das televisões, das rádios, da outra que eu contei que pronunciou uma coisa parecida com agáchamentos... ahhh, com isso não tolero. esses têm obrigação de falar e escrever em condições!
ResponderEliminarestou contigo e não abro a mão!
(e sim, é pecado dobrar o jeremias ferros!)
Sim. Acho que o teu argumento mais válido é mesmo o de que treinamos as nossas línguas com as legendagens. Que também podem por vezes ser barbáricas, mas sempre preferíveis a dobragens.
ResponderEliminarDeixei de ver o Actors Studio por isso mesmo. Não consigo ouvir.
Beijos
David,
ResponderEliminarNão houve resposta. O texto é cópia de um e-mail que lhes enviei. Só acrescentei, para regalo dos meus poucos leitores, os files...
O que dá para concluir que também são malcriados.
Pearl,
Não se aguenta! É demasiado mau.
Mad,
Tentei não ser demasiado corrosiva. Daí a brandura do "patético".
Pitx,
ResponderEliminarVês como até nos entendemos? :)
Vou mais longe: já nem é obrigação, é um dever moral! Mas dá no que sabemos. Obrigada pela solidariedade.
Eskisito,
Sentes o mesmo, não sentes? O que nós apredemos só de ouvir, mesmo sem nos darmos conta! Mas a mente vai registando...
Beijos a todos!
Clap Clap Clap!
ResponderEliminarSubscrevo inteiramente. As dobragens são absolutamente insuportáveis.
PS: adorei o qualificativo para a Ediberto Lima Produções...