Um ano...
Há um ano, quando eu ria alegre entre amigos muito antigos, na grande celebração de amizade que são sempre os jantares do Liceu, o Nuno partia deste mundo.
Passou todo um ano, o primeiro. Julgo que o segundo é mais difícil, porque a distância já se fez maior. Mas o Nuno continua comigo. Se fechar os olhos consigo ver-lhe o rosto, consigo ouvir-lhe a voz cálida, muitíssimo bonita. Não passou um dia destes 366 dias sem que, por isto ou aquilo, me tivesse lembrado dele. Sinto-lhe a falta. Como não voltei a nenhum dos nossos sítios (nem sequer ao Centro de Bridge), não tive nenhum daqueles ataques de saudade verdadeiramente dolorosos, em que a consciência da ausência física definitiva da pessoa nos aperta a garganta e dói nos ossos. Em vez disso, a minha saudade é doce e triste, melancólica, arrancando-me de vez em quando um longo suspiro. Às vezes, quando aperta mais, ponho os discos que mais me lembram dele uns atrás dos outros, e músicas há que me fazem voltar à memória episódios antigos que me fazem sorrir. Como os livros.
Hoje, ao pegar no Justine, o primeiro volume do magistral Quarteto de Alexandria, de Durrell, que ambos venerávamos, e porque o pensamento é caprichoso e faz permanentemente associações, lembrei-me de uma outra pessoa que também tinha verdadeiro culto pela obra, o R., e de uma história com ele em que o Nuno participou, não sendo a sua intervenção nada caridosa. Na altura fiquei furiosa com ele, mesmo reconhecendo a comicidade da situação. A verdade é que, juntos, conseguíamos ser verdadeiramente perversos, muito Vicomte de Valmont e Marquise de Merteuil (outro livro que era uma paixão comum, foi juntos que vimos pela primeira vez a obra-prima que é a adaptação para o cinema de Stephen Frears), às vezes tratávamo-nos a rir por "caro visconde" e "cara marquesa".
A fotografia acima, a mais gira que temos juntos, foi tirada num jantar do Natal de 93 no Casino Estoril ao qual o Nuno fez o favor de me acompanhar, que aquilo era um frete ao qual eu não podia nem devia esquivar-me. Acabámos por passar uma noite divertidíssima, porque o riso era permanente quando estávamos juntos. E verifico horrorizada a prova irrefutável: eu já usei peles! Como foi possível?! Eram lindas, aquelas raposas, mas confesso que há uns bons anos as deitei fora, revoltada por ter sido capaz de usar semelhante monstruosidade. As pessoas da recolha de lixo devem ter ficado bastante surpreendidas com o achado.
A fotografia é publicada com autorização e aprovação da Mafalda e dos três filhos dos dois: Tomás, Mafalda e Lourenço. Um grande beijo aos quatro. Se a memória não me atraiçoa, quando foi tirada o Tomás estava com quatro anos e a Mafaldinha tinha acabado de fazer dois. Confirmas, Mafalda?
A banda sonora, inevitável, é uma música que devemos ter ouvido centenas de vezes juntos. Pano-Cru, de Sérgio Godinho, era infalivelmente um dos discos que o Nuno mais vezes punha a tocar em minha casa. O Primeiro Dia obcecava-nos aos dois.
Tenho saudades dessas noites, das conversas, dos risos, das histórias partilhadas. Tenho saudades do Nuno, pronto.
Passou todo um ano, o primeiro. Julgo que o segundo é mais difícil, porque a distância já se fez maior. Mas o Nuno continua comigo. Se fechar os olhos consigo ver-lhe o rosto, consigo ouvir-lhe a voz cálida, muitíssimo bonita. Não passou um dia destes 366 dias sem que, por isto ou aquilo, me tivesse lembrado dele. Sinto-lhe a falta. Como não voltei a nenhum dos nossos sítios (nem sequer ao Centro de Bridge), não tive nenhum daqueles ataques de saudade verdadeiramente dolorosos, em que a consciência da ausência física definitiva da pessoa nos aperta a garganta e dói nos ossos. Em vez disso, a minha saudade é doce e triste, melancólica, arrancando-me de vez em quando um longo suspiro. Às vezes, quando aperta mais, ponho os discos que mais me lembram dele uns atrás dos outros, e músicas há que me fazem voltar à memória episódios antigos que me fazem sorrir. Como os livros.
Hoje, ao pegar no Justine, o primeiro volume do magistral Quarteto de Alexandria, de Durrell, que ambos venerávamos, e porque o pensamento é caprichoso e faz permanentemente associações, lembrei-me de uma outra pessoa que também tinha verdadeiro culto pela obra, o R., e de uma história com ele em que o Nuno participou, não sendo a sua intervenção nada caridosa. Na altura fiquei furiosa com ele, mesmo reconhecendo a comicidade da situação. A verdade é que, juntos, conseguíamos ser verdadeiramente perversos, muito Vicomte de Valmont e Marquise de Merteuil (outro livro que era uma paixão comum, foi juntos que vimos pela primeira vez a obra-prima que é a adaptação para o cinema de Stephen Frears), às vezes tratávamo-nos a rir por "caro visconde" e "cara marquesa".
A fotografia acima, a mais gira que temos juntos, foi tirada num jantar do Natal de 93 no Casino Estoril ao qual o Nuno fez o favor de me acompanhar, que aquilo era um frete ao qual eu não podia nem devia esquivar-me. Acabámos por passar uma noite divertidíssima, porque o riso era permanente quando estávamos juntos. E verifico horrorizada a prova irrefutável: eu já usei peles! Como foi possível?! Eram lindas, aquelas raposas, mas confesso que há uns bons anos as deitei fora, revoltada por ter sido capaz de usar semelhante monstruosidade. As pessoas da recolha de lixo devem ter ficado bastante surpreendidas com o achado.
A fotografia é publicada com autorização e aprovação da Mafalda e dos três filhos dos dois: Tomás, Mafalda e Lourenço. Um grande beijo aos quatro. Se a memória não me atraiçoa, quando foi tirada o Tomás estava com quatro anos e a Mafaldinha tinha acabado de fazer dois. Confirmas, Mafalda?
A banda sonora, inevitável, é uma música que devemos ter ouvido centenas de vezes juntos. Pano-Cru, de Sérgio Godinho, era infalivelmente um dos discos que o Nuno mais vezes punha a tocar em minha casa. O Primeiro Dia obcecava-nos aos dois.
Tenho saudades dessas noites, das conversas, dos risos, das histórias partilhadas. Tenho saudades do Nuno, pronto.
A mim, que nunca o conheci, mas de quem tanto já ouvi falar... só uma coisa a declarar: uau... uma brasa não?
ResponderEliminarEspero que o R. não leia este blog, senão vai sofrer uma segunda (e desnecessária) humilhação...
ResponderEliminarbeijo d'enxofre
Querida Teresa,
ResponderEliminarFaz hoje 1 ano que o Nuno morreu! OBRIGADO Teresa, não pode haver melhor homenagem ao Nuno, do que este teu blog,tocou-nos a todos muito...., ficou-nos aquela dorzinha no coração de SAUDADES. As pessoas de quem gostamos, nunca morrem. Ficam eternamente no nosso coração.
Um grande beijinho
O coração serve para isso mesmo: guardar para sempre todos aqueles que amamos e que fazem ou fizeram parte das nossas vidas.
ResponderEliminarO Nuno deve de estar orgulhoso de ti, là aonde està.
Chuac.
ResponderEliminarLinda,
ResponderEliminarHa coisas que nao podem ser partilhadas. Dores como esta sao uma delas. Cada uma tem as suas.
Deixa-me so dizer-te que 'a conta da musica ja vim ca muito mais vezes nestes dias. Inspira-me sempre tanto. Amo-a.
E querida, nao leves a mal o que vou dizer, mas preciso dize-lo. Eu sei que usar peles e' horrivel eticamente por uma serie de razoes. A minha mae tambem ja teve as suas. Naquela altura as mentalidades eram diferentes e fico feliz por ve-las evoluir. No entanto, deita-las ao lixo ainda me parece pior! Mata-las por uma futulidade nao me parece bem... mata-las em vao, para o total desperdicio, ainda me parece um crime maior. Pensa bem linda, a serio... nao voltes a faze-lo com outros produtos que te arrependas!