Madrugada de Melanie, ou a demanda do Graal
Persegui este disco durante mais de vinte anos. Tinha-numa cassette (ainda se lembram desses objectos jurássicos?) oferecida por um namorado fugaz lá por 1983, juntamente com outro disco que é para mim uma autêntica obsessão, e que continua por editar em CD: o mítico Mary, de Mary Travers (a Mary daqueles Peter, Paul & Mary da minha paixão).
Procurei Madrugada por todo o lado, obstinada e persistentemente. Investiguei todos os catálogos americanos na velha Discoteca Roma. Qualquer ida ao estrangeiro, por mais breve, não passava sem a procura deste disco. E do Mary. E de Whose Garden Was This, de John Denver. Em vão — se estivesse a escrever no blóguio do Liceu, teria escrito debalde, já é lendário no grupo o meu fraco por esse advérbio. Viajando o Vítor muito mais do que eu, foi um auxiliar precioso e frustrado nesta demanda. Não houve grande cidade americana onde ele não procurasse o disco, de Nova Iorque a Los Angeles, passando por Chicago, San Francisco ou Atlanta. Acho que até em Juneau, capital do Alaska, o procurou — estou a falar a sério. Em 2004 uma amiga minha foi ao Japão (onde eu já tinha procurado, através da lojinha que me desencantou o disco de John Denver). O Japão tem um mercado discográfico fa-bu-lo-so, os senhores compraram os direitos de muitas preciosidades que agora só lá existem. Escusado será dizer que a Teresa levou uma listinha de discos a procurar, voltou desolada, não encontrou um único — descansem, a viagem foi de mais de duas semanas, acho um abuso sobrecarregar quem vai para fora com pedinchices que, na maior parte das vezes, só dão trabalho e perda de tempo ao infeliz viajante. Quanto às pessoas que fazem encomendas sem avançar com o dinheiro, nem me pronuncio... A Ana, ex-mulher do Vítor, uma vez pediu-me para lhe trazer uns ténis de Paris. Eram uma coisa especial, caríssima, perto de cinquenta contos. Que julgam que ela fez? Telefonou para a loja — que era na Av. Montaigne, três ou quatro portas adiante do meu hotel—, assegurou-se de que havia o número dela, reservou, fez questão de se encontrar comigo na véspera da viagem para me dar o dinheiro, em francos. Assim dá gosto!
Mas voltemos a Madrugada. O disco tinha desaparecido da face da Terra, pura e simplesmente. Toda a gente sabia desta minha obsessão, e um dia o Pedro Fajardo, antigo disc-jockey do Stone's, mandou-me o link de um site que talvez mo arranjasse: It's About Music. Escusado será dizer que fui logo espreitar. Incrédula, deparei com o meu sonhado Madrugada. Encomendei imediatamente, chegou-me duas semanas depois, no glorioso dia 18 de Julho de 2005.
Excitadíssima, mirei-o por todos os lados, a matar saudades da capa que tão bem conhecia (eu tinha-o tido em casa, emprestado pelo tal namorado), a retomar contacto com todos os deliciosos pormenores. Nisto... dei um grito horrorizado. Will You Still Love Me Tomorrow, uma versão do grande êxito das Shirelles nos anos 60, a música que eu mais queria, a razão principal da minha demanda de mais de vinte anos... não estava lá!!! Como era aquilo possível?!
Aturdida, pus o disco a tocar e atirei-me para cima do sofá, completamente derrotada. O disco foi correndo e, de repente, oiço as primeiras e inconfundíveis notas de Will You Still Love Me Tomorrow, tão minhas conhecidas, mesmo tendo passado mais de vinte anos. Dei um pulo, dei um berro extasiado, chorei de alegria (juro). Era a faixa 6!!! E não estava listada!!!
Verifiquei há pouco que o disco já existe na Amazon, deve ser edição recente e é baratíssimo, coisa que o meu não foi nada. Mais uma vez, Will You Still Love Me Tomorrow não consta da listagem de músicas.
Provavelmente, a esta hora, já alguns de vocês se perguntaram por que raio se chamará um disco americano, de uma americana... Madrugada. Fiquem-se com esta belíssima explicação, no verso do disco — e aproveitem para confirmar que Will You Still Love Me Tomorrow não está mesmo lá.
«After midnight comes a time which belongs to no day.
It begins beyond the point of deepest darkness and runs to the edge of dawn.
Estranho. Nunca tinha ouvido falar desta senhora, nem desta música, mas estou absolutamente certo que já ouvi isto. Não sei onde, nem quando, mas tenho a certeza que sim!
ResponderEliminarO nome dela é Melanie Safka, mas na maior parte das vezes aparece apenas como Melanie.
ResponderEliminarProvavelmente conhece o original da música, pelas Shirelles (eu prefiro esta). Ou uma versão recente de Amy Whinehouse - continuo a preferir esta.
Vou mandar-lhe algumas músicas dela.
Gosto imenso da Melanie, mas nunca tinha ouvido esta versão dela desta música. Tinha 2 ou 3 discos dela, ainda de vinil, mas já não sei onde andam. Não descansei enquanto não encontrei alguma coisa dela em cd: comprei um Best Of, que tem quase todas as minhas músicas preferidas, e o mítico Ballroom Streets. Ouço ambos muitas vezes.
ResponderEliminarPois, eu também tenho uma colectânea dela que tem todas as mais conhecidas (The Nickel Song, Look What They've Done to My Song, Ma, etc.). Aliás há várias colectâneas dela editadas. Nenhuma tem esta música - sei por me ter fartado de procurar.
ResponderEliminarWill You Still Love Me Tomorrow chegou a estar cá no Top dos 10 singles mais vendidos, algures na Primavera de 1975. Lembro-me que eram divulgados ao sábado, à hora do almoço, na telefonia (Rádio Clube Português, creio), eu ouvia já de bata vestida, antes de ir para o Liceu - sim, tínhamos aulas ao sábado... :)
E lembro-me de algumas que foram contemporâneas dela no Top nacional: Why, Oh Why, de Gilbert O'Sullivan, The Night Chicago Died (Paper Lace) e The Show Must Go On (Leo Sayer)... Tenho tudo isso.
Primavera de 74, corrijo! :)
ResponderEliminarObrigado pelas músicas. Sinceramente, não sei que lhe diga. Ainda não sei qual é a versão que a conhecia. Seguramente, não era a da Amy (que amei, pelos arranjos e por ser mais intimista). E as restantes músicas de Melanie, não conhecia de todo...
ResponderEliminarEu já ouvi isto, definitivamente, mas era numa interpretação diferente.
ResponderEliminarbeijo
Obrigado, Teresa, vou já à procura! Não sabia que já havia na Amazon, vou lá regularmente à procura. Para me consolar tenho o LP, em vinil, pois claro!
ResponderEliminarAh! E tenho o "Whose Garden" em CD, precisamente uma edição japonesa.
Quer também MP3s deste disco?
Apreciei esta narrativa, até porque faço exactamente a mesma coisa. Tenho mesmo uma lista de "impossíveis" que não me canso de procurar. O "Whose Garden" era um deles.
LT
LT,
ResponderEliminarJá é a segunda vez no dia de hoje que nos comentamos em simultâneo, eu no seu blogue, você aqui ou no BF!
Obrigada, do Whose Garden não preciso, o disco chegou-me às mãos justamente no dia da morte de John Denver, a 12 de Outubro de 1997 - pode ler a história aqui, na entrada a assinalar os dez anos, em 2007.
Agora o Slides... Meu Deus, há mais de vinte anos que não o oiço!
Update:
ResponderEliminarParece que desapareceu novamente. Está neste momento um exemplar em leilão no e-bay até dia 16 deste mês:
http://cgi.ebay.com/MELANIE-CD%2F-%22MADRUGADA%22%2F-Limited-CD-Release%2FSealed_W0QQitemZ120389821945QQcmdZViewItemQQimsxZ20090310?IMSfp=TL090310121007r28609