sexta-feira, 16 de maio de 2008

Luto

A petição de repúdio do Acordo Ortográfico que hoje nos foi imposto chegou às 35 mil assinaturas às dez e meia desta manhã. Assim mo fez notar por e-mail o seu autor, que não conheço, mas com quem tenho trocado desde o primeiro dia uma correspondência empenhada e entusiástica.

Na sua mensagem eram referidos nomes ilustres que honram a Língua Portuguesa, nomes que a representam no que ela tem de mais puro; alguns outros (na minha opinião) eram meramente muito conhecidos, mas contibuíam para a visibilidade deste movimento.

É costume o televisor estar ligado no gabinete, baixinho. Foi assim que, ao voltar do almoço - dois em um, alimentar-me e arranjar as unhas -, levei aquele enorme murro mesmo em cheio no estômago. Os que me conhecem pessoalmente sabem onde trabalho, e com quem. Mas o meu direito a ter uma opinião, a minha, é sagrado e está consagrado na Constituição. Nada poderia ter-me contido naquele momento. Disse mesmo, alto e bom som, aquilo que pensava, aquilo que penso: «É uma infâmia!»

Pode parecer estúpido a alguns, acredito, mas a sensação de derrota e de impotência foi avassaladora. O «minha Pátria é a língua portuguesa» do título do post que tantos, tantos, pusemos... não é um acaso — talvez fale disso noutro dia, até porque terei de voltar a este assunto. Pela primeira vez num ror de anos — quantos, meu Deus? —, fui assaltada por uma imensa e quase irreprimível vontade de chorar. Eu, Teresa, que nunca consigo chorar por coisas minhas — e esta era bem uma coisa MINHA, talvez devesse celebrar o ter estado a uma unha negra das lágrimas. Mais do que uma coisa, era uma CAUSA, e uma causa nobre. Minha, muito minha, mas também de uma fraternidade com muitos membros.

Todo o resto da tarde um certo verso me atormentou recorrentemente o espírito, numa perseguição encarniçada a que não havia como fugir.

Falei sobre o Acordo Ortográfico aqui, ainda antes da petição (que já ultrapassou as 36 mil assinaturas). Falei em trinta moedas de prata. Falei em 1580.

Hoje - para mim, para pelo menos 36 mil pessoas — o ano é outra vez o de 1580.

O verso que não me sai da cabeça é do Nabucco, de Verdi, do Va Pensiero: «O mia patria, si bella e perduta...»

Luto. Outra palavra para luto é nojo. O Português de Portugal é (era?) uma língua tão rica...

2 comentários:

  1. Querida... o tiro às vezes vem de onde menos se espera. Nossas patrias são distintas, mas nosso aMOR É IGUAL- a elas e à Lingua Portuguesa. beijos

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