terça-feira, 20 de maio de 2008

Le Métèque

A convite da Ana (obrigada, Aninha!), fui ontem ver Georges Moustaki ao CCB.

Quando entrou em palco, era já como se a imagem que eternamente temos dele nos chegasse devolvida por um espelho embaciado pelo tempo: a roupa branca a sublinhar o branco dos cabelos, já não os cheveux aux quatre-vents que eram o seu traço mais característico, agora cabelos curtos a darem-lhe o aspecto com que imagino a personagem de Afonso da Maia.

Magro, um tanto curvado, o ar de patriarca grego, de judeu errante, de marinheiro das costas mediterrânicas que traz na bagagem um passado rico de histórias, de afectos, de mulheres e de ouzo. Uma bonomia e uma doçura encantadoras, cálido com um público completamente rendido, a quem se dirigiu algumas vezes num português adorável, aprendido com amizades ilustres como José Afonso, Chico Buarque, Jorge Amado ou Zélia Gattai - desaparecida no sábado, e que ele evocou.

A música? Ah, a música... Era previsível que não estivesse à altura das nossas memórias, são 74 anos... A agravar, o som estava excessivamente alto, mal se conseguiam distinguir as palavras - e as palavras das canções de Moustaki são de uma beleza rara. A voz já não o seguia fielmente nas melodias por ele criadas. Era desigual e fraca. Portugal (a sua versão do Fado Tropical de Chico Buarque, homenagem pessoal ao 25 de Abril) foi quase declamada. Ma Solitude, que para mim teria sido o ponto mais alto da noite, tamanha a minha obsessão por ela, foi também mais dita que cantada.

Le Temps de Vivre
e Il Est Trop Tard foram quase perfeitos; mas houve um momento de grande beleza: Le Facteur - a voz linda, lindíssima, e perfeita para o acompanhar, de uma desconhecida Maria Teresa Ferreira a juntar-se à de Moustaki. Por isso é a música que escolhi para tocar aqui hoje - por isso... e por ser uma das músicas de Le Métèque, que é um dos tais discos da minha vida, como já aqui contei.

Ainda assim... tudo somado, foi uma noite enternecedora.

2 comentários:

  1. Uma noite muito bem passada... de reencontro com Georges e outros, feliz coincidência, do primeiro encontro com Thérèse. Um beijinho!

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  2. Querida, vim aqui assim meio de rastos esperando um alento para a minha noite que começou muito mal e terminou pior com um pequeno enfarto do meu velho pai, levado as pressas para a Santa Casa onde permance internado. O coração dele dá sinais de cansaço... O meu também... E essa música, estranhamente me aliviou, assim como estar aqui no teu cantinho. A vida não anda fácil pra mim, talvez eu precise ser mais fácil com ela, pra ver se algo resulta bem... saudades, beijos e parabéns pela escolha do post.

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