domingo, 18 de maio de 2008

I ¡HOLA!

A compra semanal da ¡HOLA! é o meu guilty pleasure mais antigo. Comecei a comprá-la aos dezasseis anos, e lembro-me perfeitamente dessa primeira capa: Carmina Ordoñez (mulher lindíssima e de vida atribulada, morreu tão nova!) e Paquirri anunciavam a chegada do segundo filho. Ao lado deles na reportagem, ainda de colo, aquela brasa de tirar a respiração do filho mais velho, Francisco, o toureiro, o que viria a casar com a filha da duquesa de Alba - coitadinha da senhora, as plásticas sucessivas transformaram-na num Quasimodo sevilhano, até faz impressão! Quanto à voz, nem me pronuncio...

Quando comecei a comprar a ¡HOLA! o preço de capa era de vinte escudos. Um café, por essa época, talvez custasse cinco escudos, não faço ideia - detestava café, só o bebia na véspera de exames, na tentativa de numa curta noite adquirir a sabedoria necessária para uma passagem à tangente. O Vítor ainda hoje ri da minha passagem a Direito Constitucional, um cadeirão anual, a sebenta ultrapassava largamente as mil páginas.*

A compra da ¡HOLA! tornou-se um ritual. Os dias de saída foram mudando ao longo dos anos. Sábado, sexta-feira... Agora sai à quinta, como em Espanha... e no mesmo dia. É que, durante muitos anos, saía cá com um atraso de duas semanas. Quando a minha irmã foi hospedeira da TAP era um festanço, se passava por Madrid ou Barcelona, lá trazia a revistinha. O melhor foi a partir de 1990, com o M. a viver em Barcelona. Como vinha passar o fim-de-semana comigo, trazia-me o meu vício. Eu ia sempre buscá-lo ao aeroporto, e tenho a vaga desconfiança de que, algumas vezes, nem matámos satisfatoriamente as saudades, eu toda sôfrega já a arrancar-lhe a revista. As minhas amigas invejavam-me essa remessa adiantada. Quando morreu o marido da Carolina do Mónaco, o M. teve de trazer vários exemplares, a fila de pedinchonas não era pequena...

A ¡HOLA! é uma revista doce, suave, de contos de fadas. A ¡HOLA! é BCBG. O mundo que nos mostra é ideal, risonho, toda a gente é bonita e inteligente. Quem quiser intrigas está tramado com a ¡HOLA! : só noticia quando tem a certeza e, se a notícia for tão escaldante que não há como fugir-lhe, arranja sempre maneira de a apresentar com a maior delicadeza possível. Ainda me lembro do escândalo que foi a história do marido da Stéphanie do Mónaco, apanhado em flagrante (e armadilhado, tudo leva a crer) numa piscina em cenas (de enorme bolinha) com uma pequena de corpo vertiginoso. Deu divórcio logo a seguir. Só a ¡HOLA! para conseguir contar aquilo de maneira elegante!

A ¡HOLA! até comprou a um paparazzo qualquer fotografias da princesa Diana de maminhas ao léu... só para não as ver publicadas. A ¡HOLA! é um baluarte de respeitabilidade. Até Messy, gatinha nada dada a frivolidades, aprova a ¡HOLA!

A ¡HOLA! é tão querida que até põe aquela cabra da Isabel Preysler (há-des ir para o inferno, mula! - e agora ainda mais, depois de te encostares com esses ares dengosos e de mãozinha dada ao MEU George Clooney) ainda mais bonita e espectacular do que é de facto, mesmo depois de ter posto neste mundo cinco filhos de méritos variáveis e de três pais diferentes. Sem as doses abundantes de Photoshop que a amorosa ¡HOLA! lhe prodigaliza, Isabel Preysler, esse ícone, estaria um pouco mais longe da imagem dos seus sonhos, mesmo continuando extraordinária para os seus 50 e bastantes anos.**

A¡HOLA! até trouxe até mim aquela que é a minha maior amiga, a Nita. A Nita não me suportava (por culpa alheia, como veio a contar-me), eu sempre tive esse ingrato dom de granjear inimizades entre o mulherio, provavelmente devido ao sucesso que tinha com os homens - era engraçadinha, reconheço. Ora, numa bela sexta-feira de há muitos, muitos anos, eu e a Nita demos de trombas uma com a outra a embarcar no autocarro da Mundial Turismo para Albufeira - o meu namorado da época vivia em Montechoro. Cumprimentámo-nos civilizada mas secamente (eu não tinha nada contra ela, tirando o facto de ela me detestar). Subimos para o autocarro e demos com a muito embaraçosa situação de os nossos lugares serem lado a lado. Como somos umas senhoras, tragámos aquele mau bocado com toda a categoria, fizemos de conta que não tinha importância nenhuma. Eu estava com a ¡HOLA! acabada de comprar no colo, foi pretexto para um início de conversa. Quando demos por nós estávamos nas Ferreiras, o Joaquim estava à minha espera e tinham passado mais de três horas. Não nos calámos um minuto, naquela viagem que hoje lembramos com uma ternura imensa. O Filipe, único filho da Nita e um miúdo fora de série, é meu afilhado.

Obrigada, querida ¡HOLA!


* Com o meu vício da dispersão, fui por aí fora a contar a história. Cortei, fica para outro dia.
** Dica para o mulherio (já a dei às Cell Blog Chicks, no último jantar): vão ao Youtube procurar um programa fascinante da televisão espanhola. Chama-se Hormigas Blancas. Há duas semanas passei uma tarde de sábado a rir desse grande cromo que é a inefável Ana Obregón, que quase tem idade para ser minha mãe e se veste como se fosse minha neta. A não perder!

10 comentários:

  1. Foi a ver o seu "blóguio" do liceu que descobri que a conhecia de vista, do Stone's. Lembro-me perfeitamente de si, estava lá sempre. A Nita só pode ser aquela loirinha que estava quase sempre consigo, acho que um dos empregados me disse os vossos nomes. Sim, perguntei, as meninas enfeitavam aquilo.
    Acertei?

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  2. Desculpe, mas tive de voltar.

    A Teresa era "engraçadinha"? Só pode estar a brincar, ou então é excessivamente modesta. Não a vejo há muitos anos, mas olhe que era um espanto!

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  3. Ai, Teresa, a minha mãe SEMPRE leu a famigerada Hola, e recebia-a pelo correio, enrolada e envolta em papel creme, daquele dos correios. Assim que estava lida,- por ela, pela colega de escritório, pela minha avó Ana e por mim- eu dava rédea solta ao marcador preto e pintava bigodes naquela gente toda!
    A Preysler é daquelas que mete nojo, e como me lembro das unhas dela sempre esplendorosas, e que a minha mãe tanto invejava!

    Beijo

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  4. Ai a Obregón, segundo mamãe, parece um ponto de interrogação de tão emproada. O que eu me rio com as tiradas da minha mãe. E com as tuas, que me fazes lembrar as coisas que me fizeram crescer.

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  5. Ahhhhh... A hola, a hola...

    Os casamentos, os funerais e a Duquesa de Alba...

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  6. A minha Mãe é fã da Hola que, aqui pelo Norte, é conhecida como a Iola...

    Eu confesso que, sempre que vou visitar a Mãe dou uma espreitadela na revista.

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  7. Não passa um dia sem que veja o site da Hola. Desde que me lembro de existir que a minha mãe compra a Hola.
    Se a Hola não confirma, é porque não é notícia, é boato!
    Adoro ver na TVE internacional às 13:30 o "Corazon de..." e "Gente" às 19:00 todos os dias.
    O que agora não suporto é a novela Pantoja/Muñoz.

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  8. Também sou fã da ¡HOLA!, Teresa. A sério! A minha Mãe sempre a comprou e, em miúdo, adorava o Mundo singular. Mas acabava por ler o resto e foi com Estefanías, Cayetanas, Faraonas, Preysleres e outras quejandas que aprendi castelhano, depois dos rudimentos que me ensinou a minha bisavó Purificación, que viveu 70 anos em Portugal e nunca deixou de dizer hamburguesas e croquetas. Republicano dos quatro costados, sei mais do que me interessa sobre a realeza do mundo e outros fúteis, mas divirto-me. Hoje, não compro a revista, mas folheio-a em casa materna sem quaisquer complexos... arriba la ióla! E um beijinho para ti.

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  9. Eu confesso, só compro quando a Duquesa de Alba é capa! E já que compra desde sempre, tenha a bondade de me esclarecer: mas há algum número em que a Isabel Preysler não apareça? Gracias!

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  10. Eu não compro, mas o meu cabeleireiro sim. É preciso procurar na pilha de 'Nova Gente' e 'VIPS' etc etc, mas volta e meia lá calha. Foi assim que desenvolvi o meu castelhano ( lido, que falado é de fugir!). Até me esmerei na arte de 'roubar' as páginas que me interessavam. Coleccionava recortes das estrelas de hollywood...acho que ainda lá tenho alguns.

    O mulherio sabe ser muito lixado para quem lhes ameaça o burgo. Se há uma que é mais gira, é uma vaca e dorme com certeza com meio mundo. Se outra é mais connaisseur, é uma cabra convencida. Se é tão boa em desporto como os rapazes, está-se a armar. A mediocridade tem destes subterfúgios para se escamotear. Quem se destaca, sujeita-se ao impropério invejoso. Também já sofri isso na pele, mas suspeito que tivesse menos a ver com algum vestígio de ar engraçado (há piores, é certo) do que com a fama de intelectual. E é só mesmo fama...Volta e meia lá tenho uma surpresa dessas. Pessoas que me detestam sem mais nem porquê. Estamos sempre a aprender. Quanto mais não seja a ignorá-las com graciosidade...
    Beijinhos e boas leituras!

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