segunda-feira, 24 de março de 2008

Baú das Relíquias #4: Ha! Ha! Said the Clown

Com este não há batotas, ainda o conservo e a maneira como me veio parar às mãos é engraçada.

Eu era muito miudinha (a música é de 1967, o grande, o maior ano da música pop) e adorava isto. Mais tarde, muito mais tarde, lá pelo princípio de 1982, quando abriu o Bananas, eu passava lá a vida - na verdade chamava-se Banana Power e teve a sua época áurea entre 81, ano da abertura, e talvez 84; ter entrada no Bananas não era para toda a gente, pela porta do clube nem se fala. Ficou célebre a história de o querido Victor, porteiro que para lá tinha transitado do Stone's, ter recusado a entrada a uma filha de Pinto Balsemão, então primeiro-ministro.

Depressa me fiz amiga de todos os disc-jockeys (eram quatro em simultâneo), principalmente depois de o Tó Zé, também do Stone's, para lá ter ido, em Janeiro de 82 - era frequente estar na pista a dançar e ver de repente, com uma nova música, passar no jornal electrónico frases como «Esta é para a Teresinha». Passava a vida a vasculhar-lhes os discos, e quando encontrei esta preciosidade fiquei tão extasiada... que o Luís Afonso me ofereceu o disco.

Levei-o para o Stone's, que nunca deixou de ser a minha casa-mãe. Íamos aos dois na mesma noite, às vezes ainda dávamos uma saltada à Primorosa e ao Ad Lib - muito boémia fui eu, credo! O disco lá ficou, bem à mão de semear, encostado ao vidro. Numa noite qualquer, nem um mês depois, pedi ao Pedro Oom para o pôr. Ficou lívido. A custo, quase a gaguejar, lá me explicou o que tinha acontecido: o Luís Ferreira de Almeida (o da série A Idade da Inocência, sim) tinha-o queimado com um cigarro. Sem querer, claro. O cigarro estava no cinzeiro, ele distraiu-se a pôr música e... quando deu pela asneira o estrago era irreparável, o vinil tinha derretido numa área de mais de um centímetro, e justamente em cima de Ha! Ha! Said the Clown - era um EP, as segundas faixas não foram atingidas. Se olharem com atenção para a fotografia, lá verão a marca do delito. Fiquei possessa, naturalmente, e devo dizer, com alguma vergonha, que a partir daí as nossas relações foram sempre bastante tensas. É que aquilo era mesmo uma relíquia, e na altura ninguém sonhava que vinha a caminho uma revolução chamada CD e que todas aquelas pérolas (ou quase todas, que há coisas que continuo a perseguir com a obstinação da MDP que sou) viriam a ser reeditadas. Tenho a certeza de que o Luís se lembra perfeitamente deste episódio caricato. Resta-me dizer-lhe, agora que mais de um quarto de século é passado... que há muito lhe perdoei.

Fiquem também com o vídeo. Abençoado Youtube!

Ah, antes que me esqueça: a música, obviamente, não é um paradigma de qualidade, está bem longe disso. É só uma coisinha queriducha e tonta, bem ilustrativa do que foi um certo género dentro do largo espectro de géneros que coabitaram nos anos 60.


4 comentários:

  1. E o "bisuale" dos meninos?? uiii os penteadinhos, as roupinhas... aiii agarrem-me! hihihihihihi (se bem que pelo que vejo nas ruas - quando vou aí acima - me parece que a piroseira voltou em força).

    beijo d'enxofre

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  2. E depois ainda um saltinho ao Rolls Royce, ao Juliana's ou ao Van Gogh... caramba, escolha não nos faltava. Só o tempo, para tantos saltinhos.
    Lembro-me tão bem de dançar esta música. Viciante, nessa época.
    Beijinhos

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  3. Queriducho e delicioso pra quem se balançava no "quadrado" (aquela jaulinha para bebés muito agitados e engatinhadores -- sim fui uma dessas)e quase o virava abaixo qdo ouvia o Bill Halley ;)

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  4. Ora aqui está um objecto com história, vivido, exibindo com orgulho as marcas que o tempo nele deixou... também sou amigo de noitadas, noutros poisos, mas com histórias, encontros, desencontros, regressos e músicas dedicadas. Beijos.

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