Romy Schneider: mourir d'aimer
Como escrevi aqui, há muito tempo, «faço parte da última geração que ainda cresceu com a música e a cultura francesas, muitos autores franceses na fabulosa Colecção Dois Mundos da Livros do Brasill e, claro, os livros da Bouquins e da Folio, preferencialmente comprados na Livraria Férin, na Rua Nova do Almada.» A minha geração recebeu em cheio o agonizar da cultura francesa como cultura dominante. Claro que na época não nos apercebemos disso, éramos demasiado novos, mas não deixa de ser curioso lembrar-me de que Vergílio Ferreira, algures pelo fim de 1975 ou princípio de 1976 (os meus 15 anos), nos tenha apontado o facto numa aula. Foi certamente uma das primeiras pessoas que se aperceberam dessa gigantesca mudança a acontecer.
Hoje, olhando para trás, consigo ver que a mudança começou primeiro na música, sendo quase de certeza os Beatles os responsáveis principais, porque os iniciais. Amigas e amigos meus, apenas sete ou oito anos mais velhos, lá pelo meio dos anos 60 ainda compraram discos de Adamo, Sylvie Vartan, Johnny Halliday, Hervé Vilard, Richard Anthony ou Alain Barrière, discos que arrumavam em ábuns muito giros que qualquer papelaria de bairro tinha à venda. Eu, quando cheguei à idade de comprar discos, semanadas religiosamente poupadas, já só aspirava a Mozart e aos Beatles, que se separaram quando eu tinha apenas nove anos (10 de Abril de 1970).
E depois, mais tarde, já nos anos 70, a mudança atingiu também o cinema. Lisboa tinha então bem mais do dobro das salas de cinema que tem hoje. E havia ainda muito cinema francês a ver, realizadores conceituados que na década seguinte desapareceram por completo. Havia também muito filme parvo, claro (eu não suportava Louis de Funès, por exemplo, e havia sempre mais um novo filme dele em exibição). Mas o glorioso Aventura é Aventura, de Claude Lelouch, continua a ser para mim uma memória preciosa. Confesso que até tenho medo de o rever agora, não vá desiludir a lembrança hilariante que dele guardo.
Com tanto filme francês sempre em exibição, duas actrizes houve que criaram raízes fundas no nosso afecto, naqueles distantes anos 70: Annie Girardot e Romy Schneider. Annie Girardot ficará possivelmente para outro dia, hoje é mesmo de Romy Schneider que quero falar.
Romy Schneider foi uma das mais belas mulheres do seu tempo, talvez até a mais bela de todas. Jacqueline Bisset, por exemplo, e sua contemporânea, era de uma beleza de cortar o fôlego, mas nunca lhe chegou aos calcanhares como actriz; e não tinha, principalmente, aquele je ne sais quoi que Romy Schneider tinha. Jacqueline Bisset era linda, Romy Schneider era bela, tinha mais qualquer coisa que irradiava de dentro para fora. Ainda hoje, quando imagino a Maria Eduarda de Os Maias, não consigo conceber outra actriz tão adequada para o papel.
Hoje, olhando para trás, consigo ver que a mudança começou primeiro na música, sendo quase de certeza os Beatles os responsáveis principais, porque os iniciais. Amigas e amigos meus, apenas sete ou oito anos mais velhos, lá pelo meio dos anos 60 ainda compraram discos de Adamo, Sylvie Vartan, Johnny Halliday, Hervé Vilard, Richard Anthony ou Alain Barrière, discos que arrumavam em ábuns muito giros que qualquer papelaria de bairro tinha à venda. Eu, quando cheguei à idade de comprar discos, semanadas religiosamente poupadas, já só aspirava a Mozart e aos Beatles, que se separaram quando eu tinha apenas nove anos (10 de Abril de 1970).
E depois, mais tarde, já nos anos 70, a mudança atingiu também o cinema. Lisboa tinha então bem mais do dobro das salas de cinema que tem hoje. E havia ainda muito cinema francês a ver, realizadores conceituados que na década seguinte desapareceram por completo. Havia também muito filme parvo, claro (eu não suportava Louis de Funès, por exemplo, e havia sempre mais um novo filme dele em exibição). Mas o glorioso Aventura é Aventura, de Claude Lelouch, continua a ser para mim uma memória preciosa. Confesso que até tenho medo de o rever agora, não vá desiludir a lembrança hilariante que dele guardo.
Com tanto filme francês sempre em exibição, duas actrizes houve que criaram raízes fundas no nosso afecto, naqueles distantes anos 70: Annie Girardot e Romy Schneider. Annie Girardot ficará possivelmente para outro dia, hoje é mesmo de Romy Schneider que quero falar.
Romy Schneider foi uma das mais belas mulheres do seu tempo, talvez até a mais bela de todas. Jacqueline Bisset, por exemplo, e sua contemporânea, era de uma beleza de cortar o fôlego, mas nunca lhe chegou aos calcanhares como actriz; e não tinha, principalmente, aquele je ne sais quoi que Romy Schneider tinha. Jacqueline Bisset era linda, Romy Schneider era bela, tinha mais qualquer coisa que irradiava de dentro para fora. Ainda hoje, quando imagino a Maria Eduarda de Os Maias, não consigo conceber outra actriz tão adequada para o papel.
Nos anos 70, na época em que havia sempre mais um filme com Romy Schneider a estrear nas salas de cinema, vi muitos filmes com ela. E fui sabendo algumas coisas da sua vida privada, compradora semanal da iHola! que já era. Foi assim que fiquei a saber da história de amor com Alain Delon, aquele deus grego, que bem estavam um para o outro, também ele o mais belo homem do seu tempo! Chegou a haver, fugazmente, alguém a poder fazer-lhe sombra, um Helmut Berger, o menino dilecto de Visconti, mas as drogas deram cabo dele com uma rapidez assustadora.
Nas páginas da iHola! fui acompanhando a atribulada vida de Romy Schneider, encolhi-me de horror perante a tragédia que foi a morte do filho adorado de 15 anos, morte absurda que nem vou contar. Apenas dez meses depois dessa perda monstruosa, Romy Schneider foi encontrada morta, tinha apenas 43 anos. A hipótese de suicídio chegou a surgir, tendo a acreditar mais num ataque cardíaco: Romy tinha uma adorável filha de quatro anos, Sarah, não quereria certamente faltar-lhe. Acho mesmo que foi o coração que lhe faltou, um coração desmedido.
E é aqui que começa a história de Romy Schneider que eu desconhecia. Há coisa de um mês descobri no YouTube uma série de fabulosos documentários, produções recentes da televisão francesa, de seu nome Un jour, un destin (fica aqui a lista completa, boa parte deles está no YouTube, já os devorei quase todos). E acreditem que tenho mesmo muita pena de todos aqueles que já não tiveram, como eu tive, o Francês como disciplina obrigatória na escola. O Francês, para começar, é uma língua linda. Se eu não tivesse aprendido francês nunca teria podido ler no original autores como Proust, Balzac, Stendhal, Céline ou Jean d'Ormesson.
Romy Schneider nasceu em 1938, filha de uma mãe, Magda Schneider, que se fazia terrificamente ao piso ao poder vigente, poder esse que se chamava Hitler. Romy cresceu nos Alpes da Baviera, a casa de família a escassos quilómetros de Berchtestgaden. Romy nunca mais, em toda a sua vida adulta, conseguiu superar o trauma, o medonho sentimento de culpa. Aos 16 anos, obrigada pela mãe, Romy fez a trilogia de filmes que a projectaram para a fama mundial, e que sempre odiou, tentando desesperadamente dissociar-se da imagem delicodoce da imperatriz Sissi (contracenava com Karlheinz Böhm, o imperador Francisco José, filho do grande maestro Karl Böhm; ainda hoje, com tantas gravações da minha adorada Flauta Mágica que tenho, é a sua a que mais oiço, principalmente por ter Hermann Prey como Papageno). Recém-chegada a Paris, o cinema francês a querer tomar posse dela, refugiou-se na amizade com Marlene Dietrich, quase 40 anos mais velha, mas também ela inimiga declarada do III Reich. Tamanho era o sentimento de culpa da alemã Romy Schneider (acho que a Helena vai perceber isto melhor do que qualquer outra pessoa) que casou com um judeu, deu aos dois filhos que teve nomes judeus (David e Sarah) e foi a enterrar com uma estrela de David ao pescoço.
Alain Delon, quase de certeza o grande amor da sua vida, acompanhou-a até ao fim. Vejam o documentário, caso saibam francês, porque vale mesmo a pena. Chama-se Romy Schneider: Ange et Démons.
Lembro-me dessas músicas, as minhas irmãs adoravam. Sim, também tive francês no ciclo preparatório, hoje 5º e 6º anos.
ResponderEliminarEu tive do 1.º ao 5.º (hoje 5.º a 9.º) e depois continuei na Alliance Française, já que as minhas disciplinas de opção no 6.º e 7.º foram Inglês, Alemão e História.
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