quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Assim dá gosto

aqui disse em tempos que não tenho qualquer apetência por galochas, e jamais me passaria pela cabeça a peregrina ideia de desembolsar mais de cem euros por um par de Hunters. Nunca ninguém conseguirá convencer-me de que são mais do que apenas botas de borracha, às quais daria um uso bastante limitado. Passear pelos campos alagados da minha mansão senhorial em dias de chuva, um carré Hermès na cabeça (faz muito chique, faz muito rainha de Inglaterra)?  Oh, não tenho mansão, senhorial ou não, com ou sem campos, secos ou molhados! Não confere. Para ir trabalhar, em dias de chuva copiosa? Ná, também não. Mesmo que já estivesse a trabalhar, as galochas servir-me-iam apenas para chegar ao trabalho, tendo forçosamente de ir munida de calçado de substituição. Também não confere. 

Ora estas poderosas razões dissuasoras da aquisição de galochas não querem forçosamente dizer que tenha de fugir das ditas, se me forem apresentadas a preços convidativos — mas teriam de ser mesmo muito convidativos, friso. E foi o que me aconteceu há um mês e tal ao passar frente a uma loja da Lanidor na Columbano Bordalo Pinheiro e ao dar com um par igual ao da imagem pela ridicularia de € 7,95. E, já dentro da loja, com um outro par, cuja imagem não encontro online e que não está a apetecer-me ir fotografar, esse em castanho. Considerei que, por preços tão amistosos, bem podia transgredir um pouquinho o meu rigor quanto a galochas. À compra também não terá sido completamente alheio o facto de nesse dia 22 de Novembro chover torrencialmente. E usei as galochas (as outras, as castanhas) nesse dia, e julgo que em mais dois ou três. Depois seguiram-se três semanas de maravilhosos dias soalheiros e as pequenas ficaram em sossego até à véspera de Natal, quando voltou a chover. 

Dispunha-me eu a calçá-las para ir ao supermercado quando dou com um rasgão de uns bons seis centímetros de comprimento na direita, coisa que nem que eu tivesse andado a caminhar sobre vidro cortante seria natural acontecer. Defeito do material, pois está claro. Dirão os meus bons amigos anglófilos que, com os rigorosos controlos de qualidade da Hunter, tal nunca teria acontecido. E eu digo que até sou capaz de concordar, e que provavelmente não teria mesmo, mas que a Lanidor também não é seguramente o Bazar Fu Manchu, e que algum controlo de qualidade deve ter.

Assim, no último dia do ano, de recibo na mão (no qual dizia com letras inequívocas que trocas eram feitas somente num prazo de 15 dias), procurei o número de telefone da loja e liguei para lá. Expliquei o sucedido à simpatiquíssima menina que me atendeu, e que se prontificou desde logo a proceder à troca ou à devolução do dinheiro, bastando para tal dirigir-me à loja com o par defeituoso. Nem o talão de compra era estritamente necessário, porque conseguiam recuperar o registo no sistema, até porque tenho cartão de cliente, mesmo não tendo ainda percebido exactamente para quê. 

Um bonito exemplo, quer-me parecer. Parabéns à Lanidor por assim zelar pela sua boa imagem.

2 comentários:

  1. Podes sempre fazer como as senhoras de Viena, que chegam à Staatsoper em botas de neve e logo as trocam pelos sapatos finos para a função.

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  2. Pois, eu só tinha contemplado essa possibilidade para o trabalho. E eu que até tenho umas apràs ski fabulosas! Agora pensa comigo: a confirmar-se a reputação do cheiro a chulé que as galochas emanam, consegues imaginar o fedor nos bengaleiros da Staatsoper? Credo, as meninas teriam de ser reanimadas por equipas médicas.

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