sexta-feira, 28 de junho de 2013

Com dedicatória (e ele saberá que é para ele)

SOB de doença! O meu amigo escreveu-me duas curtas frases em que intuí abismos de desespero.  E se há pessoa que não pode desesperar é ele, logo ele, que toda a gente adora, sobre quem nunca ouvi uma palavra que não passasse pelos mais rasgados elogios. Na sua generosidade de sempre, pedia-me a morada para me mandar um certo disco, porque assim é o meu amigo. Enviei-lhe uma longa mensagem. Ele está cansado, muito cansado, são já vários anos de luta contra o SOB. Mas o meu amigo tem uma mulher e um filho que adora, nem ponho seriamente a hipótese de o meu amigo desistir.

Na homilia da Missa do último domingo, o padre citou uma frase magnífica de Santo Agostinho. Disse-a primeiro em latim, como era longa e como me deixou mais uma vez com a frustração de não ter estudado latim! Depois traduziu (meu amigo, está a ler?) e reduziu-me a lágrimas. Foi qualquer coisa como isto (só encontrei traduções brasileiras manhosas, prefiro ir à capela franciscana e pedir a tradução correcta, esta é minha e adaptada, a que sinto mais próxima do que ouvi e tanto me comoveu): «Deus não manda impossíveis, mas, se mandar, convida-te a fazer o que possas e a pedir o que não possas, e ajuda-te para que possas.»

É por isso que resolvi contar aqui esta história tão parva: se mantivermos a capacidade de rir de nós mesmos estamos salvos. A fé e o riso salvam, acredito profundamente nisso. Como acredito profundamente no poder da oração.

Estava eu no meu terceiro internamento, o da operação. Eu insistia em reagir, a minha irmã ria como uma doida do meu andar, que era de perfeito Frankenstein (estão a ver aquele andar sincopado de perna aberta? assim era o meu, ela não podia deixar de rir — tal como eu —, mas admirava-me a agilidade), eu movia-me com notável rapidez, mesmo naquele passo trangalhadanças.

O piso em que eu estava era metade de mulheres (ginecologia) e metade de homens (urologia) e o corredor era muito comprido (pronto, ainda me custava andar, tinha uma operação muito recente e muito invasiva no lombo). Só lá para o terceiro dia descobri que a casa de banho do lado deles ficava muito mais perto, e optei resolutamente por ela. Submersa nos meus peregrinos pensamentos, estava já a um cagagésimo de segundo de me sentar no trono quando me ocorreu uma ideia aflitiva: não tinha forrado o assento com papel, Apressei-me a corrigir e repreendi-me severamente: «Mas onde é que estavas com a cabeça, Maria Teresa?! Também queres apanhar cancro da próstata?!»

E ri largos minutos como a perfeita idiota que sou de ideia tão absurda. Devo dizer que só a Ana Vidal me percebeu e riu como uma doida quando lhe contei esta história. I guess it takes one to know one. Here's to you, Ana!

Banda sonora: Judy Collins - Both Sides Now

3 comentários:

  1. Ora bem, dessa estavas tu livre. O pior que te podia acontecer era, talvez, engravidar de um colega de piso... looool :-)

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  2. Dessa também estava livre, querida. Nunca subestimes a menopausa, Deus a abençoe, que aquilo era tudo composto por senhores (amorosos!) sem qualquer apelo. Mal por mal, fico com a castidade.

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  3. Graças a ambas por me fazerem rir logo de manhã.

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