Tiro no pé
Um blogue passa a livro. Até aqui nada de novo, muitos tem havido, outros estarão certamente na forja. Ainda há pouco foi transformado em livro o blogue de uma operadora de caixa de supermercado a contar as suas apaixonantes experiências. Dei uma espreitadela ao blogue e fiquei a rezar para que alguém na editora lhe fizesse uma revisão severa, que quem paga por um livro merece ler coisa escorreita.
Mas vamos ao que interessa: o novo livro retirado de um blogue. Sendo o autor jornalista e movendo-se com alguma facilidade no meio, nada me espanta que tenha surgido uma entrevista no Correio da Manhã a promovê-lo e a promover o livro. Uma extensa entrevista. Extensíssima, melhor dizendo, coisa de 4600 palavras, mais de 21 mil caracteres, o equivalente a quase 12 páginas A4. A manobra publicitária revelou-se, na minha opinião, um autêntico tiro no próprio pé.
Nenhum jornalista sério lerá aquela entrevista sem rir agarrado à barriga. Ninguém com uma escolaridade mediana lerá aquela entrevista sem reparar na inacreditável profusão de asneiras de português, de gralhas, de erros de construção, de faltas de concordância de género e número. Ainda nem ia a dois quintos da leitura (que, reconheço, foi um esforço de vontade) e já estava a pensar com os meus botões que poucas vezes tinha visto coisa tão mal escrita. A própria estrutura da entrevista, assinada por uma senhora de nome Isabel Faria, é tão deficiente, com perguntas repetidas, que me fez lembrar uma graçola corrente quando eu era miúda para designar os condutores especialmente nabos: tinha-lhes saído a carta na Farinha Amparo (farinha para papas que costumava trazer brindes, mais vale explicar, que isto são memórias do passado). Pois eu suspeito que também à Sr.ª D. Isabel Faria a carteira de jornalista tenha saído na Farinha Amparo.
A Sr.* D. Isabel Faria até este medonho erro de português consegue fazer. Um "concentra-se" por "concentrasse". O jornal não tem revisores? Se tem, deviam avançar para o desemprego e dar o lugar a outros mais competentes que estejam sem trabalho. Tal como devem estar neste momento sem trabalho muitos jornalistas sérios que sabem alinhavar frases com princípio, meio e fim, e sem erros, enquanto uma jornalista (notem o itálico) como a Sr.ª D. Isabel Faria tem direito a um texto com este destaque.
«Mundo muito mal feito, Sr. Afonso da Maia!»
Eu gostava de comentar o texto, os erros, o conteúdo das respostas do senhor... Mas acho tudo tão patetinha. Nem sei se sinto agonia se me dá vontade de rir. Enfim.
ResponderEliminarCada vez tenho mais a certeza que a Farinha Amparo patrocina os cursos de jornalismo. Ainda ontem numa notícia do Diário Digital que falava de Buford, a cidade mais pequena do mundo com apenas 1 habitante, aparecia a informação que a cidade se localizava a 8000 m de altitude. 8000 m de altitude? Claro que na realidade a cidade encontra-se a 8000 pés. E assim se põe os pés pelas mãos no jornalismo nacional…
ResponderEliminarNão vou questionar as respostas do Arrumadinho que não conheço o rapaz e tanto quanto reparo ele escreve bem, embora admita que algumas pessoas possam não gostar da temática. Mas essa jornalista é burra que nem um calhau, fiquei envergonhada por ela ao ler aquilo.
ResponderEliminarNão percebo como é que a Oficina do Livro publica aquele lixo. Confesso que li o Arrumadinho na sua versão inicial. Até tinha alguns textos (poucos) com sentido de humor. Agora esta nova versão, além de arrogante, é absolutamente tonta e desprovida de qualquer sentido do ridículo. Aquilo não é um blog de homens, é um blog para adolescentes. Faz-me lembrar os artigos da Cosmopolitan que eu lia aos 16 anos.
ResponderEliminar(e sim, a entrevista está de bradar aos céus)
É um dos erros mais recorrentes e para o qual não encontro justificação. São palavras distintas, que se pronunciam de forma distinta e que se escrevem de forma distinta. Qual é a dúvida???
ResponderEliminarTenho tanto, tanto respeito pela profissão de jornalista, mas parece que insistem em aparecer uns quantos cuja função é abalar esta minha admiração. Fico tristíssima com coisas deste calibre, e incluo a calinada ao nível de instrução primária e a fraca qualidade da entrevista.
ResponderEliminarE esta: "Agora estou na fase do Jonathan Fraser"
ResponderEliminarEPIC FAIL!!!
Não tenho paciência para ler tudo, mas só este bocadinho chega para me irritar:
ResponderEliminar"Uma voz mais verdadeira, (...) que falasse das coisas que interessam aos homens, mas sem ser o machão tradicional, que acha que as mulheres têm de se subjugar a um homem, só pensam em carros e futebol."
Afinal é o machão tradicional ou são as mulheres que só pensam em futebol? Muito mau. Tenho medo de ler o resto.
Izzie, tens respeito pela profissão de jornalista que agora não existe, ou está em extinção. O que existe agora são pombos correio modernos que ouvem de um lado e introduzem a informação nos jornais online sem se preocuparem sequer em confirmar, rever, dar a outro a ler, etc. O que é muito, muito grave. E principalmente quando as notícias vêm de uma Lusa que depois emite para todos os outros órgãos de cs informação errada logo à partida.
ResponderEliminarMas não é isto simplesmente a diferença, entre bom jornalismo e o resto?
ResponderEliminarIsto é um exemplo do resto. Não mais do que isso.
Eu estou a considerar comprar o livro para as minhas irmãs mais novas, parece-me ser um excelente filtro. Depois de lerem como os "homens" se comportam, podem compilar uma lista de comportamentos, atitudes e ideias que demonstram estarem na presença de um "homem", que podem assim evitar.
ResponderEliminarAna, as coisas não são assim lineares. Há bons e maus profissionais e posso dizer que mais de metade dos que conheço são bons. Mas também lido com jornalistas mais regionais, o que é um tipo de jornalismo que obviamente não vive da Agência Lusa, visto que a Lusa não dá assim tantas notícias aqui da zona (duas por dia, é a média). Não questiono o trabalho do Ricardo, enquanto jornalista, até porque agora ele está numa revista semanal e isso é imensamente diferente do que o jornalismo do dia-a-dia... mas não posso deixar de lamentar a postura do Arrumadinho, enquanto blogger. Quando ele apareceu, enquanto Guaxinim, antes da "febre" Pipoca, escrevia bem, tinha graça, tinha pinta. Agora continua a escrever bem mas perdeu a graça e a pinta é forçada.
ResponderEliminarBem, os jornalistas têm sempre facilidades em publicar e divulgar os seus livros. Não é por acaso que os autores que mais vendem em Portugal são jornalistas. Que, ao menos, não dêem erros!
ResponderEliminarQuanto às experiências de uma caixa de supermercado, se o texto for bem revisto, até se pode tornar interessante. Não conheço o caso em questão, mas interesso-me por tudo o que tenha a ver com a vida real e esteja bem escrito.
Ahhh,este caro amigo, todo ele um inteligência, postura e saber-estar, como facilmente se nota pelo facto de dar workshops de engate e ter uma entrevista de 12 páginas acerca de nada. O desespero dele é tamanho que se me dá pena.
ResponderEliminarS*
ResponderEliminarAntes do Guaxinim ele tinha a primeira versão do blogue Arrumadinho, eu "conheço-o" desde que ainda se especulava que ele namorava com a Pipoca.
Abstraindo-me dele, conheço muito trabalho jornalístico sobre a área em que trabalho e posso afiançar-te que uma grande maioria dos casos corresponde a maus jornalistas. E porquê? Porque têm de fazer o trabalho para ontem, fazem trabalhos sobre montes de matérias diferentes e querem confirmar preconceitos que eles próprios têm e deturpam tudo o que lhes é dito, porque a pressa não lhes permite compreenderem para depois explicarem. Entrevistam especialistas (falo-te de quando sou eu a chamada) mas depois não querem ver as coisas esclarecidas, continuam com as suas teses. Há honrosas excepções, claro. Mas eu não tenho muita consideração pelos jornalistas pela amostra daqueles com quem me tenho cruzado. Há 1 bom em 5, por aí. E a Lusa e seus (maus, e provavelmente mal pagos) estagiários... Ui! Lamento, e só posso falar pela minha experiência; mas que marcou muito da forma como hoje em dia oiço e leio notícias - dou um desconto enoooooormeeeeeee.
Tiro no pe? Nao me parece, pelo contrario. Quem le aquele blog tem claramente o QI entre 60 a 80 no maximo, o publico alvo ideal para amar e lambuzar para perola regurgitada em tal entrevista tao mal feita a uma pessoa tao idiota. 15 mil seguidores(as)? Tanta mulher burra, Deus meu.
ResponderEliminarTem piada porque há aproximadamente uma semana e pouco, li essa notícia e comentei no site do jornal a chamar a atenção precisamente para os sucessivos (e imensos!) erros de vários tipos. Não publicaram o meu comentário, haha. Que falhanço.
ResponderEliminarQuanto à entrevista em si, enfim, gostaria de dizer que não entendo como é que blogs destes passam a livros, mas a verdade está à vista: vendem que nem pãezinhos quentes, e muitas editoras nem se preocupam com a verdadeira essência dos livros. Pior, só mesmo as pessoas efectivamente comprarem.
Sobre o Arrumadinho, não posso dizer muito porque seria injusto. Não gosto mesmo, leio-o como quem olha para um acidente de automóvel para o qual não resisto olhar. Acho que ele pretende ser a Pipoca masculina, fazer render o blog. Os workshops que ele um dia tentou organizar são a prova que o ridículo não mata.
ResponderEliminarQuanto aos erros de português dos jornalistas acho imperdoáveis e chego a ser preconceituoso com quem dá erros. Não são só erros, há também muita ignorância como a daquele jornalista que parece que tem asma quando fala, o Nuno Luz, que um dia dizia, numa ligação em directo de Barcelona sobre um Barcelona-Real Madrid, que estava a ser coberto por mais de 900 jornalistas de mais de "300" países!! E tudo isto ratificado pelo "ticker" em rodapé que sublinhava o facto:"900 jornalistas de mais de 300 países". E ninguém na redacção sabia que nem sequer chegam a 200?
E os cozinheiros e os locutores que não sabem gramas, de peso, é uma palavra masculina? Quantos bolos levam "trezentas" gramas de farinha?
Ah, e o crime de "estorção" a ser julgado pelo no caso Freeport?
Já para não falar do mais recente caso sobre a entrevista ao "Paços" Coelho na TVI. Quem escreveu isto, que nível de cultura geral, que tipo de conhecimento é que tem? Quem é essa pessoa? E que mais é que não saberá? E quem são estas pessoas que falam e dissertam sobre a vida? Como é que entendem o mundo que todos os dias nos mostram?