terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ainda sobre casas


Ontem fiquei verdadeiramente feliz quando, no post anterior, ninguém comentou o azar da televisão partida e os comentários se cingiram todos ao que realmente interessava: o prazer de montar uma casa. Devagarinho e quase sempre a partir do zero. Com esforço e sacrifícios, muitas vezes. É o mesmo que com os meus CD. Quando olho para eles, tão bonitos, alinhados nas estantes por ordem alfabética, primeiro pop/rock, depois clássica em geral, a seguir ópera, sei que há ali muitas renúncias. Para comprar aquela Força do Destino de Verdi, tão cara, renunciei a um vestido da Loja das Meias que me andava a apetecer muito. Aquele Ashes Are Burning dos Renaissance, um achado, e o CD simples mais caro que me lembro de ter comprado, edição japonesa e preço de escândalo, fez-me desistir de umas botas da Marias. Era pegar ou largar, se voltasse lá no dia seguinte já alguém o teria levado. E a música sempre contou para mim mais do que meros trapos.

E lembrei-me da minha árvore de Natal, que há mais de vinte anos tem os mesmos ornamentos. A imagem é a única decente que tenho no computador, em todas as outras aparece em segundo plano. Comprei árvore e enfeites no meu primeiro Natal sozinha. Maçãs douradas e encarnadas (isto não é uma árvore, é uma macieira!, como comentou na altura a minha amiga Paulinha) compradas na Pollux, embrulhinhos de escocês encarnado e saquinhos dourados numa humilde lojinha da Almirante Reis, fios de pérolas já nem sei onde. Os únicos enfeites caros foram os suportes para as velas, comprados na maravilhosa loja das velas do Calhariz, que suponho ser hoje a mais antiga de Lisboa. E depois há os embrulhinhos dourados. Se carregarem na imagem para ampliar conseguirão vê-los. Uma amiga minha era na altura secretária de uma empresa que, entre outras coisas, produzia esferovite. Pedi-lhe que me mandasse cortar cubos de quatro por quatro centímetros. E depois gastei várias noites a embrulhá-los num lindo papel dourado da Papelaria Fernandes e a atá-los com fita de cetim encarnada. Sobrevivem até hoje. É certo que muitos têm marcas de unhas, mas isso é só por causa da atracção irresistível que as árvores de Natal exercem nos gatos.

11 comentários:

  1. Já lho disse uma vez, mas para mim Natal quer-se dourado, encarnado e tartan :)

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  2. Mas o Pedro vai variando todos os anos a decoração da árvore, que eu sei. :))))

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  3. Eu acho bonito que a decoração seja a mesma, que se vão acrescentando coisas que se comprou aqui e ali. Na minha casa há arvore de Natal todo o ano. Tem pouco mais de meio metro, uns ornamentos em madeira e fica no mesmo sitio sempre. Não a consigo tirar e ainda não percebi bem porquê.

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  4. A minha árvore é nos mesmos tons. Tenho uns ornamentos que adoro, comprados à Unicef todos os anos, de latão. Cada ano lançavam uma caixinha com seis diferentes, e eu comprava-a. Este ano não tiveram, para desgosto meu.
    E a boa Almirante Reis, e Praça do Chile! Comprei o meu edredon de inverno no Armazém Americano, que entretanto já fechou.

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  5. Talvez por isso mesmo seja a mais linda árvore Natal que podias ter. Talvez já possas comprar uma nova... mas talvez não te apeteça fazê-lo. É linda assim mesmo. Toda feita por ti, com esforço, amor e dedicação.

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  6. A minha árvore já foi nesses tons, com excepção do tartan. Este ano e depois de muitos anos com os mesmos enfeites mudei radicalmente os tons, ficou apenas com enfeites brancos e azuis. Sim, que para estes lados o ano foi de viragem completa e a pobre da árvore de Natal lá teve de ir na onda. Mas enquanto que eu nunca fui muito criteriosa na escolha dos enfeites para a árvore, já nos postais de Natal a conversa é diferente. Sempre fiz os meus postais de natal, desde o desenho à escolha dos materiais. Gastava imenso tempo a escolher padrões, texturas, colas, enfim, dedicava-lhes a mesma devoção que vocês referem na escolha dos enfeites. No fundo, é o mesmo prazer em ver algo de nosso, fruto das nossas escolhas e gostos, feito ao sabor da disponibilidade e da vontade.

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  7. linda árvore :-) a minha é parecida, mas em vez de dourado tenho o prateado (diz que a prata agora vale mais que o ouro e eu sou mulher atenta a estas coisas)

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  8. Lamneto informar que está redondamente enganada, li o post da pobre televisão e ainda não ia a meia e já estava a pensar "o raio da tv ou lhe vai dar o fanico ou outra coisa qualquer" e mal acabo de pensar isso... como disseste e muito bem, quem estraga velho, paga novo, mas, afinal de contas às vezes as coisas têm de ser mesmo assim, se fosse tudo simples não daríamos o verdadeiro valor as coisas, e assim, todo o acto de arranjarmos a nossa casinho, o nosso primeiro cantinho, ganha todo um outro significado. Nunca me esquecerei que a primeira coisa qu comprei com o meu salario foram uns pratos no gato preto.
    Agora, porque não comentei? Venho aqui sempre que há um post novo, gosto de seguir as histórias da tua vida, não queria deixar comentário só porque sim.
    Já em relação ao pinheiro de Natal, tenho uma fera lá em casa que teima em achar que aquilo é um parque de diversões.

    Tuli

    P.S - não sei como te devo tratar, tu, você... por isso optei pelo tu sem querer ser desrespeitadora

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  9. Pois por aqui regredimos... Quando chegou o Lucas, a árvore passou a estar decorada só com inquebráveis. Agora que chegou o Bijagó, ficou decorada com... nada! A dona andou, andou, e acabou por não a decorar.
    Sensata, devo dizer.

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  10. Eu também tenho sempre os mesmos (sempre=3 vezes), mas uma amiga americana e o irmão recebem todos os anos um ornamento da mãe, desde pequeninos, no qual se possível escrevem o ano. Uma vez em Praga vi-os montar a árvore - tanta história, tantas recordações...acho que fiquei convencida e que quando tiver filhos também vai ser assim.

    PS: Para variar, também gostei muito do post de baixo. Quando me separei e fiquei sem mais de meia casa, um dos pontos de honra foi não comprar tudo de repente. Os lugares sem história têm alguma graça? Pior que isso só quem entrega o projecto todo ao decorador e aparece no fim para pagar.

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  11. Olá Teresa.
    Penso que nunca por aqui comentei embora seja leitora assídua. Gosto muito do que escreve e como escreve.
    Obrigada por partilhar as suas histórias e torná-las de deliciosa leitura.
    :)

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