domingo, 11 de dezembro de 2011

Dr. Phil, pornografia e outras histórias

Os mecanismos da embirração têm maneiras caprichosas de funcionar. Se mudo logo de canal quando apanho Chakall & Pulga ou aquela Ana Rita Clara (que, graças a Deus, agora parece falar um bocadinho mais baixo), já se é com Dr. Phil que deparo é mais forte do que eu, tenho de ficar a ver, tanto embirro com a personagem. Para tudo, de crises conjugais a dependência de drogas, passando por crianças difíceis ou orçamentos domésticos, o senhor tem doutas e definitivas opiniões, estando para a Psicologia um pouco como a Pomada Jibóia para as maleitas em geral, valendo tudo, eczemas, reumatismo ou pé de atleta: para tudo tem solução.

A embirração, que foi crescendo com o tempo, à medida que o fui achando cada vez mais cabotino e ufano da sua pessoa, estende-se à mulher, sempre presente no estúdio, sempre com um olhar de adoração bovina pousado nele, cá para mim muito copiado de Nancy Reagan nos anos 80, quando o marido era presidente.

Esperteza ninguém lhe pode regatear, é certo. Começou por ser um protegido do império de Oprah, com breves e ocasionais aparições no seu programa, e foi com o beneplácito dela que lançou o seu próprio show. Hoje nada em dinheiro e vive numa casa de sete milhões de dólares em Beverly Hills. E transformou o programa num negócio de família. Ali todos lucram. Ele escreve livros. A mulher escreve livros. O filho mais velho escreve livros e até tem também (ou teve) o seu próprio programa. Só falta o mais novo.

Sei que as competências do nosso querido psicólogo televisivo têm sido muito questionadas, havendo imensa gente que jura a pés juntos que não tem qualquer legitimidade para exercer Psicologia, que não tem qualquer diploma. E a verdade é que ele nunca veio a público calar os detractores, exibindo credenciais. Seja como for, enquanto é motivo de chacota ou dizem mal dele, continua alegremente a caminho do banco para depositar mais dinheiro.

Tudo isto porque esta manhã, bem cedo, quando acordei, lá estava ele a resolver a vida de um casal. Recostei-me melhor, para ficar a saborear a minha embirração. Entre muitos outros problemas do casal e coisas de que a mulher acusava o marido, havia as suas incursões regulares pela pornografia online, estando até registado num site. Ora o Dr. Phil é violentamente contra a pornografia. É categórico e tem grandes frases censórias que amesquinham por completo o desgraçado que tenha em palco na altura. Pessoalmente, devo dizer que é assunto que não me aquece nem arrefece. Não gosto, não me interessa, não vejo, nunca procurei. Desde que não envolva crianças ou animais, tanto se me dá. É a tal máxima americana: between consenting adults. Nada me incomoda que outros apreciem, que um namorado meu veja ou ache graça, tenho casais amigos que assumem gostar e que até passam uns bons bocados graças a uns filmes. Nada contra.

O que me divertiu neste programa, quanto à questão da pornografia, foi que Dr. Phil, com olhos muito reprovadores para o seu convidado, voltou às frases dissuasoras de sempre, de grande efeito, que fazem a plateia bater palmas entusiásticas. «É a filha de alguém.» «Podia ser a sua filha.» E foi aqui que, graças à memória que ainda vou tendo, que vai buscar coisas nem sei bem onde, dei uma gargalhada e não resisti a acrescentar em voz alta: «Pode ser a tua nora!»

É que o filho mais velho do nosso inefável psicólogo casou com uma loira toda giraça, a típica bimbo californiana, que tem duas irmãs gémeas idênticas. O trio de manas (antes do casamento) tinha sido centerfold da Playbloy. Como devem calcular, não estavam vestidas. Muito gostava eu de saber como terá ele engolido esta, quando o filho lhe levou a loiraça a casa declarando intenções matrimoniais, já que parece não fazer distinção entre pornografia ou mero erotismo, ou nu artístico, ou lá o que seja. É sempre a filha de alguém, podia ser a nossa filha. Neste caso, calhou ser a nora dele. Justiça poética?

Era minha intenção contar ainda uma história antiga que me veio à memória logo a seguir, mas isto já vai demasiado longo. Fica para amanhã.

4 comentários:

  1. ahahah! Adorei! É que tenho exactamente as mesmas embirrações. Com as mesmas pessoas! Psicólogo, só se for mesmo o canudo (caso o tenha), porque psicólogo que honre a sua profissão não a exerce daquela forma. Não me parece de acordo com o seu código deontológico.

    Nem sei como é que as pessoas decidem lá ir, ser humilhadas e tratadas como se fossem meninos mal comportados. Eu acho que ele queria era ser padre para dar sermões.

    Sabe quem é a Catarina Morazzo? Uma da sic que volta e meia aparece de microfone na mão? Se embirrar também com ela, estamos em completa sintonia «embirratória».

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  2. Pois, R.L., parece que nem canudo tem, são demasiadas as vozes a dizê-lo.

    Quanto às pessoas que se sujeitam a ir lá são para mim um enorme mistério. Tudo para aparecer na televisão?

    Não sei quem é a tal Catarina Morazzo. Qual é o programa? Em que canal? Tenho de estar mais atenta.

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  3. Ah, um dos meus guilty pleasures, o dr. Phil. Adoro aquilo, é o melhor freak show de sempre. Mas agora dá a horas que não consigo apanhar. Oh.

    Quanto à pornografia, tanto me dá como se me deu, cada um sabe de si. Não ressalvo apenas os animais e crianças, como ainda situações de verdadeira exploração, e que infelizmente são quase incontroláveis. Parece-me um bocado estranho que num país onde não se pode consumir álcool antes dos 21 anos um/a garoto/a de 18 possa entrar num porno, mas enfim.

    Quanto ao Doutor da mula ruça, há que gabá-lo numa coisa: o poder de argumentação. Consegue enrolar as pessoas, puxá-las até onde quer, e depois derrubá-las com um piparote. Agora se isso é ético, são outros quinhentos.

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  4. Eu também só apanho por puro acaso, se acordo a meio da noite ou ao fim-de-semana muito cedo (aí umas seis e tal da manhã, que me parece ter sido o caso).

    Quanto à pornografia, que, tal como a ti, não me aquece nem arrefece, concordo que há latitudes maiores a que estender as restrições.
    Por falar nisso, se nunca viste, recomendo-te um grande filme sobre o mundo da pronoghrafia: Boogie Nights.

    http://www.amazon.com/Boogie-Nights-Luis-Guzm%C3%A1n/dp/0780621980

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