quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Far-ta!

É o meu estado de espírito em relação ao Google Reader há uns largos meses, diria que pelo menos uns cinco. Continua a apresentar-me como não lidos posts que já vi, tento "marcar tudo como lido" e, quase sempre, não acontece nada, continuando a aparecer-me as mesmas idiotices. Sim, mea culpa, tenho muito disparate no Google Reader, it's funny e eu sou uma criatura perversa!

A história que se segue, e que dá o título a esta entrada, tem bem mais de vinte anos e aconteceu a um amigo meu. Ainda hoje me faz rir. Esse meu amigo, antiquário de prestígio, andava na altura embeiçado por um menino muito novinho (aí uns 21 ou 22 anos, julgo), muito giro, muito tonto, muito oco. Ora o meu amigo, senhor já nos 40, imagem muito máscula, recebeu um dia na loja visita de casal muito importante e que facilmente podia largar uns milhares de contos entre cómodas D. José, espelhos venezianos, pratas inglesas ou coisas da Companhia das Índias. Avisou previamente o moçoilo, que na época andava entusiasmado a aprender Arraiolos (com o cáustico humor gay, um outro amigo nosso baptizou-o logo como "a bordadeira de Arraiolos"): ficas caladinho, ouviste?

O casal (não posso dizer nomes, mas se algum dia tropeçarem aqui hão-de lembrar-se da história) chegou a meio da tarde e foi-se demorando, encantado com as coisas magníficas que o meu amigo tinha na loja. Estiveram horas naquilo, o casal nunca mais saía, o pequeno, sempre calado, sempre de cabeça baixa, diligentemente a bordar o seu Arraiolos, mudo como uma carpa. O casal interessava-se, queria saber o historial das peças, discutia a que casa podia destinar esta ou aquela. A do Estoril? A de Genève? O meu amigo, a zelar pelo negócio, excedia-se em atenções. E o rapazinho ia num crescendo de irritação, género panela de pressão à qual a tampa está prestes a saltar. Já tinha anoitecido, o casal não se calava nem saía. O rapazinho, num homérico ataque de mau feitio, levantou-de de repente, atirando para o lado agulha, tela e lãs e proclamou com a maior ênfase, ar ultrajado, a marcar bem as duas sílabas:

— FAR-TA!

O meu amigo ia morrendo de vergonha. O casal tentou fingir que não percebia. O rapazinho saiu porta fora com ar de grã-duquesa no exílio. Menos mal, que a reconciliação valeu-lhe um carro novo.

8 comentários:

  1. Esta história é deliciosa Teresa. Já lhe disse que é uma óptima contadora de histórias?

    Já eu nunca usei essas funciinalidades do reader, nem sei como se lêm post completos a partir de lá que maior parte das vezes me diz que até nem sigo blog nenhum. A única coisa que vejo são os previews de cada novo post. Ou sou eu que não percebo nada daquilo ou então alguma coisa de errado se passa mesmo.

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  2. Em 30 segundos percebi o meu erro... Já tenho reader, só falta entender-me com ele!

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  3. Boa sorte, minha querida, O GR foi durante uns três anos um instrumento fantástico. Nos últimos cinco a seis meses tem vindo a revelar-se um desespero. Estou a perder a paciência. FAR-TA!, como dizia o amigo do meu amigo. :)

    O mérito não é meu, as histórias dos que me são queridos é que são deliciosas. :))))

    Grande beijinho.

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  4. A história é bem divertida - coitado do rapaz, e coitado do seu amigo, que devia estar a tremer por dentro durante o tempo todo.

    Quanto ao Reader: a Teresa lê os blogues no Reader ou às vezes lê-os directamente? Parece uma pergunta tonta mas, se lê os posts directamente, quando chega ao Reader ele apresenta-os como não lidos.
    Eu estou a dar-me bem com ele.

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  5. Gi, eu leio tudo no Reader, só abro os blogues (a partir dele) se quero comentar.
    E isto, como disse, acontece-me vai para seis meses. Posso dizer-lhe que neste momento, por exemplo, me apresenta como não lidos 134 posts, Que já li todos (uns mais do que outros, claro). E quando tento marcálos como lidos e pôr o coiso a zeros fica tudo na mesma. Ódio.

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  6. Ah, o meu GR porta-se lindamente, nunca me aconteceu semelhante coisa.

    (a história é linda :D)

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