sábado, 12 de março de 2011

I ♥ my gay friends

Nenhum tem uma vida fácil, nem todos saíram do armário (no lugar deles, duvido que eu própria tivesse coragem para tal), mas há muitas coisas em que é impossível não os adorar. Nem vou falar na óptima companhia que são sempre, no gosto infalível para trapos (este ou este? —  pergunto eu, a mostrar dois vestidos; e a resposta vem segura, um dedo a apontar, «esse, vai arrasar!», e de caminho ainda recebo sugestões de acessórios que nem me teriam ocorrido), na compreensão e apoio em momentos mais duros. Do que me apetece falar é do muito que me fazem rir com o seu sentido de humor perverso, às vezes desconcertante, sempre delicioso. E nem sequer precisam de ser meus amigos, eu tenho e sempre tive esta empatia imediata com gays, ou, como espingardou uma vez um amigo meu sobre mim, furioso e aos gritos, quando não queriam deixar-nos entrar numa boîte dos Champs Élysées por minha causa, por ser mulher e aquilo ser um reduto gay masculino: «Comment Madame ne peut pas entrer?! Elle est la reine des pédés!!!»

Foi isso que me aconteceu há uns bons anos, julgo que em 1998, quando Katia Ricciarelli, grande rossiniana (nunca esquecer que adoro Rossini) cantou no CCB. Foi constrangedoramente má, a ponto de eu ter ido deslizando mais e mais cadeira abaixo. E de ter começado a ouvir os comentários sussurrados por um casal gay mesmo atrás de mim, tão embaraçado como eu. Não gostamos de ver uma grande figura da ópera fazer figuras tristes, ponto final. Eu já mordia os beiços para não desatar a rir, tão cómicos eram os comentários bichanados, eu já toda encostada para trás, a tentar ouvir (bem melhor do que ouvir a Diva): Péssima! A mulher esqueceu-se da voz num disco do Abbado! Ó filha, e que tal não falhares notas?

A provação chegou ao fim, aplaudi muito moderadamente, por delicadeza. Atrás de mim vinham aplausos vigorosos, entusiásticos, acompanhados de Brava!!! aos berros. Não pude deixar de me virar, surpreendida, afinal eram as pessoas que tanto me tinham feito rir à socapa com os seus comentários verrinosos. Um deles, naquela euforia de palmas, percebeu a minha estranheza e a minha sobrancelha levantada em perplexidade. Encolheu os ombros e explicou-me sucintamente: «É pela carreira!», continuando a bater palmas frenéticas e berrando mais um brava!

Chorei a rir.

3 comentários:

  1. "Elle est la reine des pédés!!!"

    Muito bom mesmo.

    Sempre que me falam em pédés lembro-me do que um amigo sofreu por ter um carro cuja matrícula terminava em PD!!

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  2. David, esse meu amigo tem tiradas geniais.:))

    E que maldade, chatear alguém só por ter um carro com matrícula PD!! :))))

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  3. Que idiota, não deixar entrar uma senhora. Gay que é nighteiro tem sempre a sua fiel «galinha»!

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