segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Requiem para um secador de cabelo



Mas antes para ele do que para mim.

Tenho a enorme sorte de ter um cabelo fabuloso. Muito liso e brilhante, virgem de tintas (sim, já vou a caminho dos 51 e continuo sem pintar), só ponho os pés no cabeleireiro para cortar. Raro é o dia em que não é lavado. Posso estar com uma cara de morta-viva, olheiras até meio das bochechas, mas o cabelo, esse, tem de estar impecável. E o meu querido cabelo é tão dócil que o seco entre três a cinco minutos: tirar o excesso de água, pousar depois o secador deitado em cima de um toalhão de banho dobrado no lavatório (não tenho bancada), baixar a cabeça e ir escovando com uma escova normal, nem de escova de enrolar preciso. Quando levanto a cabeça é só pentear e está tão bem como se tivesse saído do cabeleireiro.

Esta manhã, no ritual de todas as outras manhãs, depois de sair do banho e de me enxugar, lá passei tónico, hidrantante e base nas trombas, deixei toalhão e secador já a postos no lavatório e fui vestir-me para o quarto. Só faltava secar o cabelo e estava pronta para sair. Foi ao voltar para a casa de banho que reparei que a torneira tinha ficado mal fechada e espava a pingar... em cima do secador. Fiquei lívida, sem pinga de sangue. Se não tivesse dado por aquilo, ao ligar o secador o mais certo seria ter ido desta para melhor, electrocutada. A tremer como varas verdes, desliguei a ficha, vesti o casaco comprido, pus o chapéu por cima do cabelo ensopado e enfiei-me no cabeleireiro mais próximo, para secar. Quando lá cheguei ainda tremia violentamente, a cabeleireira até insistiu em oferecer-me um chá.

E, tamanho o medo de voltar a ligar o outro nos tempos mais próximos (e era óptimo, só uso secadores profissionais), fui à hora de almoço comprar um novo. Que despesa tão estúpida e desnecessária! Entre cabeleireiro e secador, disse melancolicamente adeus a oitenta euros. Mas estou viva e de saúde, pelo menos.

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