sexta-feira, 2 de abril de 2010

Encarnado cor de sangue, encarnado cor de Benfica

Como eu dizia há menos de uma semana no Feicebuque, ser benfiquista não é coisa que se explique. É um estado de alma. Sofre-se muito. Vibra-se muito. Explode-se de alegria. É AMOR, pronto.

Graças a uma muito feliz conjugação de factores (com uma fada madrinha chamada Abel de permeio, pormenor não de somenos importância) acabei hoje, ao fim da tarde, abancada em grande estilo, com direito a champagne (e tudo e tudo, tivesse eu um blogue de gaja e esta seria de rigueur) e mais que houvesse, fiquei-me pelos queijos, grande amor da minha vida, eu até seria gaija para viver só de queijo, que no Paraíso, como o concebo, além de a andorinha do Príncipe Feliz cantar até ao fim dos tempos tem de haver queijo, ou então se aquilo é o Paraíso eu vou ali e já venho.

Pois sofri e sofremos todos horrores indizíveis. Felizmente tínhamos a nortear-nos as glórias passadas, e nenhum clube, por mais que se esmifre, é mais glorioso do que o nosso. Até no disparate. A primeira taça ganha pelo Benfica, que hoje seria valiosíssima peça de museu, ninguém sabe onde pára. E isto porquê? Porque,  delicioso pormenor, há muitos e longos anos, muito antes de a minha Mãe ser nascida, foi posta no prego por um contínuo e a partir daí perdeu-se-lhe o rasto!

A primeira parte foi complicada. Fosse eu adepta de linguagem mais forte (e, por qualquer metamorfose que não sei explicar, no futebol até me torno um pedacinho arruaceira), teria insultado valentemente os nabos que falhavam metódica e conscienciosamente qualquer hipótese de golo, o Odiozo Cardozo à cabeça — ai a sanha com que eu estava ao criaturo! Eu e o estádio inteiro, diga-se de passagem.

Foi de estômago embrulhado por aquele desesperador 1-0, trombas desalentadas de palmo e meio, que no intervalo rumei ao conforto de mais uns comes e bebes à borla — no meu caso mais bebes, que de tão enervada, as vísceras num nó muito apertadinho, só consegui engolir um morango (e com dificuldade). Encontro de acaso com figura grada da blogosfera nacional, que o capricho do destino tinha feito aportar à mesma sala VIP ou lá como se chama aquilo, acompanhada pelo noivo, todos nós com os nervos em franja, a fazermos chalaças em que o mote era o Sr. Cardozo do nosso enorme ódio e a litania era «Volta, Nuno Gomes, estás perdoado!» — esta parte era deles e do Abel, eu gosto e sempre gostei muito do Nuno Gomes, o pequeno é engraçado e tem um ar lavadinho. Não será um Eusébio, é certo... but then again... who is?

Sim, posso garantir que é a Pipoca. Que é realmente uma menina amorosa. Não se deixem iludir pelo ar nivelado das nossas formosas cabecinhas tão pensadoras. Intimidada por aqueles entre dez a doze centímetros de altura a mais, impus que ela se baixasse e estiquei-me toda, saiu isto. Vá ser assim alta para o raio que a parta, pode ser? [insert grateful smile]

Tempo de voltar para a bancada, tempo de voltar a sofrer. E ser benfiquista também é ostentar  orgulhosamente os estigmas desse amor.


Voltámos a sofrer, pois que outra coisa seria de esperar? É disso que os grandes amores são feitos. Passei quase todo o segundo tempo em pé, numa aflição, mãos na boca para não vomitar o coração, uma agonia, um olho no campo e o outro no relógio, pedidos aflitos (tão parva consigo ser) a Nossa Senhora da Nazaré e a Messy, que lá do alto havia de proteger o nosso Benfica.

E ganhámos, pois. E fiquei muito triste por o Nuno Gomes não ter marcado um golo (eu gosto dele, está bem?). É verdade que a vitória poderia ter sido de maior efeito, mas na fase em que estávamos eu já só queria ganhar a qualquer preço, lícito ou menos lícito, em grande estilo ou em dois penalties. A gente quer é ganhar, o resto é conversa e isto não é a feijões.

De gargalhada foi quando o Fernando, já no carro a caminho de casa, confidenciou que sempre tinha acreditado na vitória (mesmo quando nós já dizíamos mal da nossa vida e principalmente do Cardozo), apegando-se a uma coisinha aparentemente insignificante que eu tinha dito: é que eu nunca vi o Benfica perder. Sempre que vou vê-lo jogar, o Benfica ganha. Perpetuou-se a tradição. O Benfica ganhou e o resto não interessa nada. Sigamos para a Magical Mystery Tour (espero poder vir a explicar).

(a explicação fica para outro dia, por mais distante que possa estar)

9 comentários:

  1. Vim só para te alertar de uma coisa, a tal fada é, muito provavelmente, um travesti. Nunca ouvi falar de nenhuma fada chamada Abel!

    enxofre

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  2. E eu que nunca fui ver o nosso Glorioso à Luz... snif snif snif...

    Q'imbeija!!! eheheh

    Beijocas***

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  3. Ah Teresa, ser do Sporting é quase igual mas é diferente. É que no dia seguinte tem de se responder aos remoques dos benfiquistas :-)

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  4. Fada...pois é Diabba, esta recorda-me sempre aquela velha história de qual a diferença entre uma Bruxa e uma Fada, a Bruxa é uma Empata Fadas...Onde é que a Teresa foi buscar a Fada Madrinha!!!! chama-me outra coisa pior e estás perdoada!

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  5. Cenourit@,
    Estás sempre a tempo! :)))


    Gi,
    Nem mais: ser do Sporting (ou de qualquer outro clube) é quase igual. E é justamente esse quase inexplicável que faz a mística do Benfica.
    Seja como for, nunca chateei ninguém no tal dia seguinte. Acho uma coisa muito feia.

    Beijinhos!!

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  6. Diabba e Abel,
    Vocês entendam-se, que eu não sou perdida nem achada nesse despique ;)

    Beijos!

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  7. de novo loyd weber, o grande! obrigado, Teresa, nao partilho o clube e ate torci pelo liverpool ontem, mas reconheço a paixão genuína e adoro a musica que aqui pôs.

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  8. Pronto, agora a Pipoca vai para os camarotes e nunca mais lhe vou conseguir pedir um autógrafo (no primeiro jogo da época tive vergonha!).

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