segunda-feira, 16 de novembro de 2009

I ♥ Sue Johanson

Descobri a fabulosa Sue Johanson nas férias de Julho do ano passado em Miami. A seguir ao lauto jantar num restaurante escolhido a dedo entre as melhores recomendações do Zagat, moídos do cansaço de um dia de grande podutividade na praia, aquela água única a 32ºC (ai, que saudade!), tentávamos apanhar um Starbucks ainda aberto, que Miami não é Nova Iorque, rumávamos depois ao hotel, a capota descida, a saborear a brisa morna daquele clima icomparável. Apesar de estoirados, prolongávamos a noite um bocadinho mais, eu fumava no terraço, o canal de um lado, o oceano do outro, o Vítor fazia-me companhia, os dois a jiboiarmos o jantar. Na maior parte das vezes ainda ligávamos a televisão na sala da suite (sim, meus amigos, temos the best kept secret de alojamento em Miami, um apartamento autêntico: sala enorme com zona de jantar, cozinha completamente equipada, só usada para fazer Nescafé, shame!), dois quartos e duas casas de banho sumptuosos, três plasmas — na sala e nos dois quartos.

Eu tinha os canais que nos interessavam anotados (da minha parte, enorme preferência pelo Animal Planet, que bem gostava de poder ver cá), fazíamos zapping à procura de reruns de velhas séries de televisão, quanto mais antigas melhor. E foi assim que, a fazer zapping, logo numa das primeiras noites, tropeçámos no extraordinário Talk Sex With Sue Johanson.

Mais do que com o programa, ficámos fascinados com a autora. Uma senhora mais velha do que as nossas Mães a falar de sexo com a maior das naturalidades, com uma alegria e uma vivacidade únicas, um humor malandro e encantador... que coisa refrescante! A partir dessa noite, ao voltarmos ao hotel, procurávamos o programa dela, havia sempre repetições, Julho é a estação morta. Ao fascínio pela sua fabulosa personalidade veio juntar-se uma imensa consideração.

Sue Johanson, agora com 79 anos, tudo acha natural, normal, a todos acolhe com a mesma afabilidade bem humorada (para quem nunca viu o programa, o formato explica-se numa penada: Sue recebe telefonemas de espectadores, que lhe fazem perguntas). Nenhuma questão a desarma, todas trata com a mesma simplicidade esclarecedora. Sem juízos de valor. O que Sue quer é que as pessoas, seja qual for a fórmula em que se associem, sejam felizes. E que vivam a sua sexualidade como coisa bonita, boa, alegre, divertida, marota, whatever. Aos seus olhos, todas as combinações são legítimas: homem-mulher, mulher-mulher, homem-homem; e continua imperturbável e risonha se na combinação entrarem mais pessoas, seja qual for o género. E dá conselhos esclarecidos, sugere inovações, atitudes, brincadeiras, seduções. Em simultâneo, Sue Johanson é uma ardorosa paladina da segurança: preservativo, preservativo, preservativo. A acrescer a tudo isto, Sue Johanson é humilde: quando posta perante uma questão nova, promete investigar, dar mais tarde uma resposta, a resposta satisfatória e iluminadora que no momento não tem. Impossível não adorar Sue Johanson, não?

Parece que não. Há de tudo, neste supermercado de Deus — a célebre tirada do Manelinho é sempre tristemente oportuna.

Descobri há coisa de dois meses que o programa já passava em Portugal, na Sic Mulher, ao fim da noite, única hora a que vejo televisão, já na cama, prestes a pegar no sono. Ora ontem, domingo, dia de sornice por excelência, estive uma eternidade a fazer aquilo a que chamo resistência passiva. Já de cara lavada, em roupão, prolonguei ao máximo o momento de ir para a cama, ainda espreitei uns blogues. Num dos que visito com bastante frequência, e a adiar o momento de abdicar do tempo para mim de que sou tão ferozmente ciosa, deu-me para lhe espreitar os links que não conhecia.

Foi assim que aportei a um blogue de escrita banal e com deficiências. Normal, até aqui, a esmagadora maioria afina por este diapasão. Mas depois, alto e pára o baile, o blogue referia-se ao programa de Sue Johanson, a quem chamava a velha. Isto, para começar, e se eu quiser ser suave, é malcriado. A verdade, se querem saber o que acho mesmo, é que é reles. Baixo nível. Designar uma senhora de idade por a velha é muito feio. As pessoas mais velhas merecem-nos respeito, consideração, deferência. Mais ainda se são notáveis como Sue Johanson, muito mais nova do que esta pobre de espírito, de ideias e de escrita que diz que ela a enoja (lindo!) e lhe chama velha.

Isto lembra-me um comentário anónimo (que surpresa!) que recentemente tive por aqui, e em que também me chamavam velha (acho que está na entrada sobre o livro do Liceu, sou muito liberal a dar visibilidade aos meus detractores). Esta gentinha é mesmo estúpida, e contra a estupidez nada há a fazer. Ser novo é uma coisa meramente momentânea, que se esvai num fósforo. Não há nisso qualquer mérito, é circunstancial. É novo? É nova? Olhe que bom para si! Mas que depressa que isso vai passar — é que nem imagina quão depressa! E, quando passar, que é que lhe vai ficar?

A tal entrada da tal cretina tinha dois comentários à altura (baixa). Fechei a página sem comentar, e para não voltar. A minha provecta idade escolheu um lado, o da qualidade. O de Sue Johanson, entre outros. Longe daquilo. Graças a Deus.


Banda sonora: The Doors — People Are Strange

8 comentários:

  1. Belo post! Não conheço o programa, infelismente, mas gsotaria muito... Acho que faltou ao blog que leu e à escrevente - RESPEITO!

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  2. A Sue é notável e eu divirto-me imenso com os programas que apresenta. Mas isso sou eu que fui criada por uma "velha" sem preconceitos e com uma mentalidade gigante se atendermos a que só tinha a 4ª classe.

    Sabes Teresa eu gosto de dizer "Velho/a" porque, em África, velho significa sábio.

    Agora há por aí gente com uma cabeça muito pequenina, lá isso há. Mas sobre isso também já falamos.

    bj

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  3. Eu adoro a Sue e adormeço muitas vezes com ela. Farto-me de rir com algumas perguntas parvas que lhe fazem e adoro a naturalidade com que ela lhes responde. Acho-a amorosa, mesmo.

    Uma vez também li em qualquer lado, já não me recordo onde, alguém a criticá-la por ser velha e falar de sexo. Como se as pessoas de mais idade não pudessem falar de sexo. Aliás, a piada do programa é por ser com ela. Se fosse com uma tipa nova toda boazona aquilo não tinha graça nenhuma.

    E, sim, abomino as palavras "a velha" ou "o velho". É que é mesmo isso, as pessoas esquecem-se que a juventude não dura para sempre.

    Beijinho

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  4. Eu ainda me lembro do tempo em que achava que uma pessoa de vinte e poucos anos era velha. Velhíssima.
    É tudo tão relativo!

    Agora, quem é que se lembraria de dizer que a Teresa é velha? Nem com mais vinte anos em cima!
    Esta só pode ocorrer a um adolescente com fixações na primeira infância!
    (E que será desta gente quando a idade lhes acontecer também a eles?)

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  5. Eu divirto-me tanto a ver este programa.
    Velha? Conheço um casal de 87 e 90 anos que são muito mais jovens que muitos garotos de 18 anos que andam por aí aos caídos.
    Beijinhos

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  6. Eu já vi ou um programa dela ou intervenções dela em programas que passam na nossa televisão... mas já tinha visto... e achei o máximo...

    Um beijinho
    Beijinho
    Be in ♥ love

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  7. Dá na Sic Mulher, salvo erro, em horário tardio. Eu adoro a senhora. Tem um bom senso extraordinário nestas coisas do sexo. Perita em descomplicar. Beijinhos querida Teresa e imagina o que a Tia Sue diria a esses parvos que abundam na blogosfera:)

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  8. E já agora num novo comentário digo que ADOROOOOO o talk sex with Sue!!!!
    Sic Mulher ao rubro!

    Um beijinho.*
    ps. cada vez gosto mais do seu blog, frustrações com gatos, talk sex with sue, sempre a somar!

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