domingo, 31 de maio de 2009

Entrada da semana, por Músico Guerreiro, aka Melões

aka Coveiro...

Com a sensibilidade e a lucidez que fazem dele uma pessoa tão especial:

Pronúncia do Norte

Se há coisa de que não me envergonho, é da minha pronúncia do norte. O português que se fala no norte não tem preconceitos. Encontra expressões alegres e honestas e transforma os palavrões em afectos.

Julgar pessoas pela pronúncia é estúpido. O português do norte não é mais rude, é diferente. As vogais mais abertas, os ditongos mais alongados e rasgados. É uma pronúncia mais próxima do galaico-português que deu origem ao nosso riquíssimo idioma. Afinal a influência árabe não foi tão sentida no norte e portanto estas gentes não importaram os sons nasalados e fechados que se falavam mais a sul.

Um país que nega e ridiculariza as suas pronúncias, ou que as categoriza em diferentes status, é um país que nega a riqueza da diversidade. Infelizmente em Portugal é assim.

Quantas vezes um repórter ou jornalista em Portugal fala com a pronúncia do norte, ou do Algarve, ou Alentejana, Beirã para não falar das ilhas?

Basta ouvir o noticiário da BBC e as pronúncias do país aparecem, lindas, únicas. Uma das apresentadoras do tempo do “BBC breakfast” fala-nos com a sua pronúncia escocesa, como não há problema ou crítica em apresentar documentários com pronúncias de York ou Belfast.

Ouvindo-se tudo, deixa de criar-se imagens, imagens de que as pessoas do norte são ignorantes, parolas, tacanhas, boçais. Também as há como há no resto do país mas é incrível como quando querem entrevistar alguém no Porto, encontram sempre o senhor de camisola sem mangas e grande corrente ao pescoço com a música pimba aos berros e que dá pontapés na gramática.

O que o país faz, principalmente os meios de comunicação, é empobrecer o português, torná-lo pobre nas expressões e palavras e sons.

Eu sei como peço um pingo, um lanche ou um molete no resto do país, e se precisar de uma sertã nova, de pedir cruzetas no quarto do hotel, substituir o aloquete, também o sei fazer em qualquer parte do país. E se o vermelho é mais piroso do que o encarnado, quem o decidiu? Encarnado não se usa no norte mas todos sabemos o que quer dizer. Para nós encarnado é o Cristo. E gosto de ter pessoas à minha beira se bem que não me importo de as ter ao pé de mim.

Tacanhez não é falar com pronúncia do norte ou doutra qualquer região. Tacanhez é acreditar e defender que há um português correcto e negar ao país outras pronúncias e expressões, ridicularizar quem as tem, tornando assim esse português mais pobre.



9 comentários:

  1. Eu gosto muito da pronúncia do Norte que se fala aqui em Braga. Não gosto muito é de ser gozada/insultada pela minha pronúncia lisboeta... Porque nestas coisas da pronúncia, como em tudo, o preconceito tem dois sentidos :)

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  2. Pois foi essa linda pronúncia que me encantou e desgraçou...

    eh eh eh

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  3. Por isso é que eu continuo a dizer montes como se diz na minha terrinha em vez do bué que é dito cá por Lisboa.
    ;)

    Adorei o teu post!

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  4. E eles que não sabem o que quer dizer 'trenga'!!!ahahahah É um gozo pq eles nao sabem se é um elogio ou um qq coisa má! ;)

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  5. Mas que grande surpresa encontrar-me por aqui.
    Eu, como tu, ando mais desligado de tudo isto, mas nao deixa de ser um prazer vir ca ler-te regularmente, se bem que entro mudo e saio calado.
    Beijo grande.

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  6. Lalage,
    Disseste uma grande verdade: o preconceito tem dois sentidos!

    Mrs. Jones,
    Desgraças é que não, por favor! LOL!

    Julie (?),
    Eu nunca diria bué, que acho horrível... :)

    Beijos!

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  7. P.S. Para a Julie (?),
    O post não é meu, há um link para o seu legítimo autor, que entrou aqui a comentar.

    Mary Jo,
    Agora desorientaste-me. Eu costumo dizer de mim que sou muito trenga, isto é, desastrada, a fazer tontices? Queres ver que afinal não sei o significado da palavras? Viver e aprender!
    Esclarece-me, por favor!

    Melões,
    É, andamos mais afastados disto, menos participantes, tu e eu. Mas também vou lendo quase tudo, mesmo que não comente. E este era memsmo muito bom.

    Beijos!

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  8. Pode não ser teu o post mas não deixa de estar cá bem. :)

    Desculpa ter comentado assim do nada pois não te conheço mas encontrei o teu blog algures e resolvi explorar.

    Vou continuar a visitar.

    :)

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  9. :) é bem verdade que os sotaques são bem diferentes, de norte e sul do país. Eu que sou meio algarvia (e sempre disse cruzeta) e meio alentejana gosto de ver sa reacção deste pessoal de Lisboa quando utilizo palavras como "almariada".

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