domingo, 16 de novembro de 2008

Os discos da minha vida #16: Spanish Train and Other Stories

Apesar de editado em 1975, Spanish Train and Other Stories só chegaria a Portugal em Dezembro de 1976.

Lembro-me perfeitamente de como o conheci. Já tinham começado as férias de Natal e fomos ao Liceu para as reuniões de turma e sabermos as notas. O Luís Filipe falou-nos, a mim e ao Duarte, meu primeiro namorado (tínhamos namoro desde Maio), de um disco fantástico que tinha acabado de sair e desafiou-nos a acompanhá-lo ao Imaviz, para o comprar. Nenhum de nós sabia nada do disco e o nome do cantor e autor (todas as músicas e letras são dele), Chris de Burgh, não nos dizia nada. Como ainda era cedo e não tínhamos nada de especial para fazer, a seguir rumámos a casa do Luís Filipe, para ourvirmos o disco. Lembro com um sorriso como a mãe dele (que não conhecíamos e a quem o Luís Filipe nos apresentou) ficou toda cativada pelo Duarte, que, perfeito cavalheiro, a cumprimentou de beija-mão (pois é, meus amigos, no meu tempo era assim que os meninos educados cumprimentavam as senhoras). A senhora foi logo preparar-nos um lanchinho e deixou-nos na sala com a música.

Spanish Train foi uma paixão fulminante para nós três: lembro-me de estarmos de cabeças coladas, a seguir avidamente as letras que acompanhavam cada música, fascinados. O tema título e Patricia, the Sripper (a quarta faixa) foram tocados pelo menos umas cinco ou seis vezes... Por sorte, eu ainda não tinha comprado o presente de Natal do Duarte, decidi logo ali que era aquilo mesmo, ia dar-lhe o disco. No dia seguinte lá fui à Valentim de Carvalho da Baixa (que ardeu no grande incêndio) comprá-lo. E ele, claro, adorou o presente.

Spanish Train, esta que agora ouvem, conta uma história: à cabeceira de um moribundo, Deus e o Diabo disputam a sua alma. O Diabo propõe resolverem a questão com um jogo de poker, Deus concorda. Começam por apostar dez mil almas, a parada vai subindo e subindo. O Diabo faz batota... e ganha.

Em alguns países a música foi proibida, por ser considerada blasfema: na África do Sul, por exemplo. A editora recorreu aos tribunais e, enquanto a acção decorria, lançou o álbum sem ela, sob o título Lonely Sky and Other Stories — por ser uma raridade, vale hoje bom dinheiro.

A letra é absolutamente brilhante, toda ela, mas tenho especial predilecção pelos quatro versos finais, maravilhosamente irónicos (além de impossíveis — como é que se faz batota ao xadrez?):

And far away in some recess
The Lord and the Devil are now playing chess,

The Devil still cheats and wins more souls,

And as for the Lord, well, he's just doing his best...


Uma questão intrigante, para a qual não encontro explicação: a questão das duas capas. A primeira, a preto, tenho a certeza de que era a do disco do Luís Filipe e a do que ofereci ao Duarte, e é também a capa do CD. A segunda é a do disco que ainda tenho em vinil, comprado não muito tempo depois.

Spanish Train
There's a Spanish train that runs between
Guadalquivir and old Seville,
And at dead of night the whistle blows,

and people hear she's running still...

And then they hush their children back to sleep,

Lock the doors, upstairs they creep,
For it is said that the souls of the dead

Fill that train ten thousand deep!!


Well a railwayman lay dying with his people by his side,

His family were crying, knelt in prayer before he died,

But above his bed just a-waiting for the dead,

Was the Devil with a twinkle in his eye,
"Well God's not around and look what I've found,
this one's mine!!"

Just then the Lord himself appeared in a blinding flash of light,

And shouted at the Devil, "Get thee hence to endless night!!"

But the Devil just grinned and said
"I may have sinned,
But there's no need to push me around,
I got him first so you can do your worst,
He's going underground!!"

"But I think I'll give you one more chance"
said the Devil with a smile,
"So throw away that stupid lance,
It's really not your style",
"Joker is the name, Poker is the game,
we'll play right here on this bed,
And then we'll bet for the biggest stakes yet,
the souls of the dead!!"

And I said "Look out, Lord, He's going to win,

The sun is down and the night is riding in,

That train is dead on time, many souls are on the line,

Oh Lord, He's going to win!.."


Well the railwayman he cut the cards

And he dealt them each a hand of five,

And for the Lord he was praying hard

Or that train he'd have to drive...


Well the Devil he had three aces and a king,

And the Lord, he was running for a straight,

He had the queen and the knave and nine and ten of spades,

All he needed was the eight...


And then the Lord he called for one more card,

But he drew the diamond eight,

And the Devil said to the son of God,
"I believe you've got it straight,

So deal me one for the time has come

To see who'll be the king of this place,

But as he spoke, from beneath his cloak,
He slipped another ace...

Ten thousand souls was the opening bid,

And it soon went up to fifty-nine,

But the Lord didn't see what the Devil did,

And he said "that suits me fine",

"I'll raise you high to a hundred and five,

And forever put an end to your sins",

But the Devil let out a mighty shout, "My hand wins!!"


And I said "Lord, oh Lord, you let him win,

The sun is down and the night is riding in,

That train is dead on time, many souls are on the line,

Oh Lord, don't let him win..."


Well that Spanish train still runs between

Guadalquivir and old Seville,

And at dead of night the whistle blows,

And people fear she's running still...


And far away in some recess

The Lord and the Devil are now playing chess,

The Devil still cheats and wins more souls,

And as for the Lord, well, he's just doing his best...


And I said "Lord, oh Lord, you've got to win,

The sun is down and the night is riding in,

That train is still on time, oh my soul is on the line,

Oh Lord, you've got to win..."


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