I ♥ Les Misérables - III
Tinha devorado Os Miseráveis, de Victor Hugo, lá pelos meus treze ou catorze anos — os cinco volumes, sim. Apaixonei-me logo pela primeira personagem que nos é apresentada, o bispo, e a partir daí não consegui parar até chegar ao fim, coisa que levou menos de duas semanas. Viria, inevitavelmente, a reler tudo depois de ter conhecido a obra musical.
Quando o Vítor me ofereceu o disco, ainda na versão da Broadway (esta) fiquei muito tempo a olhar para a capa. Aquela imagem, que eu ainda não sabia ser da pequena Cosette, titilava memórias com mais de vinte anos. Eu conhecia aquela imagem! Fui direita à estante, peguei no primeiro volume, que reproduzia (como os restantes, aliás) as gravuras da edição original, de 1862. E encontrei a gravura de Émile Bayard que retratava Cosette quando ainda vivia com os tenebrosos Thénardier, antes de ser salva por Jean Valjean — a gravura que, cento e vinte e tal anos depois, viria a ficar célebre mundo fora como imagem do musical.
No musical é justamente nessa época de grande infelicidade que a pequena Cosette, enquanto varre e lava o chão da taberna, canta Castle on a Cloud. Podem ouvi-la no link, podem vê-la aqui, no já mítico concerto do 10.º aniversário:
Acabo de fazer uma descoberta sobre a qual as opiniões (como sobre o bardo Assurancetourix) podem dividir-se: para mim é dramática, para os leitores da Gota é provavelmente um alívio. Citando palavras do bispo, «see in this some higher plan», há uma coisa que eu quero pôr aqui no dia 3 de Novembro. Para tal, preciso de apresentar na véspera uma certa coisa dos Miseráveis. O que só me deixa livre o dia de amanhã. Adeus planos de vos apresentar coisas magníficas como a morte de Fantine, Red and Black ou Empty Chairs at Empty Tables. Ou o glorioso final. «Ora bolas! Com tantas coisas a cortar já não deve sobrar nada!», pensarão os meus amigos. Enganam-se, enganam-se! Falta Javert. E falta, claro está, Jean Valjean!
Não tinha pensado num possível plano B: pôr aqui tudo isso depois do dia 4 de Novembro. Começa a tentar-me, mesmo tendo alguns escrúpulos em ser injusta com outras grandiosas noites de Teatro que tive, cujo único azar é não estarem documentadas no Youtube.
Cosette é Judy Kuhn, Marius é o espantoso Michael Ball, que criou o papel em Londres e na Broadway. Não posso deixar de mencionar os desgarradores àpartes de Éponine (Lea Salonga), de quem já falei, e que levou Marius ao encontro de Cosette. E que assiste às suas declarações de amor eterno. Every word that he says is a dagger in me... He was never mine to lose... These are words he'll never say... not to me...
ai, a densidade disto faz-me ler e reler, aprender sempre um bocadinho mais... e aguça-me a curiosidade por mais... ò mazona sedutora de olhos leitores... :o)
ResponderEliminarTenho mesmo de arranjar forma de ir ver este musical ... a duvida é: Londres ou Nova Iorque??? ;)
ResponderEliminarCoRa,
ResponderEliminarSó para ti, revelo em antestreia uma coisa que o Vítor me autorizou a contar aqui, por ser um testemunho importante: esta obra é uma das quatro que mudaram musicalmente a sua vida. É uma obra-prima, tal como o livro que a inspirou.
Nani,
Infelizmente... não há dúvida possível. Vais a Londres, que já fechou em Nova Iorque. Em Londres está gloriosamente em cena há 23 anos (infelizmente já não está no meu querido Palace Theatre, ainda em Julho, quando passei à porta, me deu um apertozinho no coração).
Se aquilo que aqui mostrei te motivou, não hesites. A viagem em si, para começar, é o destino mais barato da Europa,para nós, portugueses. Promete-me só uma coisa: quando decidires ir, fala comigo. É muito importante ficares MUITO BEM sentada. Eu trato-te dos bilhetes. Isto é... o Vítor trata, mas ele faz isso com todo o gosto. Planeia a tua vida, marca uma data em que vás a Londres com antecedência. É assim que nós fazemos, é assim que temops sempre os melhores lugares da sala, a preços de bilheteira. Serão, se as coisas anda não mudaram, à volta de 40 libras (são os lugares mais caros). Já vi coisas mais caras e infinitamente inferiores em Portugal.
Outro conselho: se queres mesmo ir, o cenário ideal é onheceres a música de cor e salteado, a emoção é toda outra. E leva lenços, leva muitos lenços.
P.S. Mesmo que o Les Mis ainda estivesse em cena em NY, eu recomendar-te-ia sempre Londres. A produção sempre foi melhor. Nota que visualmente era IGUAL. Mas era melhor, pronto!