terça-feira, 8 de julho de 2008

A imensa estrada americana

Too many movies... talvez seja essa a explicação. Seja como for, seja por que for, percorrer a estrada americana a perder de vista era um muito velho sonho meu. Concretizado com a emoção única de quem sabe estar a viver momentos preciosos que enriquecerão os anos vindouros. E, como sempre, vêm-me à memória as palavras de Evelyn Waugh na boca de Sebastian, em Brideshead Revisited: «Just the place to bury a crock of gold. I should like to bury something precious in every place where I’ve been happy and then, when I am old and ugly and miserable, I could come back and dig it up and remember.»

Esta viagem foi feita de muitos crocks of gold. Por muitas razões, por muitos sítios onde deixei um pouco de mim. E, principalmente, por o Vítor e eu sermos quem somos, esta dualidade una que ninguém consegue ou alguma vez conseguiu compreender totalmente.

Ao longo de quilómetros e quilómetros e ainda mais quilómetros (sistema métrico, sistema métrico! Temos o vício de converter as milhas em quilómetros, o que perfaz distâncias ainda mais assustadoras) de paisagens de nos roubarem a alma, raros carros a cruzarem-se connosco, trocávamos olhares mudos e comovidos, sorrisos felizes que diziam mundos. De quando em quando, apontávamos um ao outro um qualquer pormenor.

O meu primeiro e verdadeiro encontro com a estrada foi no quarto dia, quando saímos do Colorado e entrámos no Wyoming, a caminho de Cheyenne (don't get me started on Cheyenne!!!). Viríamos a apaixonar-nos igualmente pelas estradas de Montana e, quando já achávamos que nada podia comparar-se-lhes, e porque old loves die hard, voltaríamos a apaixonar-nos pelas do Wyoming, no último dia, na viagem de regresso a Denver, em que fizemos a frioleira de mil (MIL!) quilómetros. Uma brincadeira de crianças para nós, a quem as distâncias não assustam e que riem o tempo todo.

Aquela US 287 no Wyoming! O pequeno filme que está no fim foi lá feito. Ao som da música indescritível de Thomas Newman em Angels in America, que ouvimos nem saberia dizer quantas vezes. Está lá tudo como tão bem lembro, mas parece desapontadoramente pequeno, sejam indulgentes, é um filme feito com um telemóvel. Soltem a imaginação: o gigantismo do país, a milagrosa e revigoradora sensação de espaço infinito. Poderíamos sair do carro e gritar a plenos pulmões, como Liza Minelli/Sally Bowles em Cabaret, à passagem dos comboios. Ninguém nos ouviria. Só a Natureza, que é compreensiva e sabe guardar segredos.


5 comentários:

  1. Obrigado por partilhar as imagens conosco. As paisagens são deslumbrantes.

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  2. De alguma forma, esta amostra de viagem faz-me lembrar uma boa velejada. Um mar de terra ondulante, o barulho do vento, o suave balanço do barco. Não faz?
    Bjs

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  3. Obrigada por mostrares algo tão belo assim. Também é um dos meus sonhos antigos :)

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  4. "Country roads, take me home, to the place I belong...".
    Isto lembrou-me o John Denver.

    Mas não eras tu que achavas saloio encher o blógio de fotografias, hein???? :) (sorriso cândido)

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