The Year of Magical Thinking (correspondência)
Há coisas em que eu e o Vítor somos iguais como duas gotas de água, e uma delas é a generosidade nos presentes, a impaciência para os entregar. No momento em que conseguiu comprar os bilhetes para a peça, o Vítor não foi capaz de esperar pelo envio da Amazon para me depor no regaço o livro, mesmo sabendo que o mais provável seria eu preferir lê-lo no original inglês, e precipitou-se para a Bullosa, a dois passos de casa.
Sempre fomos assim, coisa que já deu episódios caricatos (sobrarem volumes do Six Feet Under, uma das nossas séries-fetiche, por exemplo, cada um de nós a mandar vir da Amazon, mal saiu a última temporada, para oferecer ao outro). O M. (que, diga-se de passagem, também se alastrava na matéria) censurava-me, risonho, os presentes extravagantes que dava à Ana, minha irmã, no Natal e nos anos. Suponho que... it runs in the family, porque os dela para mim eram equivalentes... O M. ficou de olhos em bico quando me viu dar alegremente quinze contos e tal por um fato de banho para a Marta* - minha sobrinha mais velha -, à época com menos de um ano, numa boutique infantil da Ortega y Gasset. Devo dizer que nunca comprei para mim um fato de banho tão caro, aliás nem me lembro quando foi a última vez que comprei um fato de banho. São todos oferecidos e são todos La Perla (tenho uma bela colecção).
Seja como for, frivolidades à parte, e porque estou em casa com uma gripe de caixão à cova e praticamente afónica (O CG proibiu-me de pôr os pés no Colosso), aqui fica a minha troca de correspondência com o Vítor ontem, depois de eu estar de posse do livro.
Teresa: (...) Outra coisa: li os dois primeiros capítulos agora ao almoço. Não consegui continuar – de qualquer forma já não teria tempo. As duas últimas frases do segundo tiveram em mim o efeito de um murro no estômago, tamanho o poder evocativo. Os olhos encheram-se-me de lágrimas e não conseguia voltar a clareá-los. Eu conhecia aquilo, eu já tinha vivido aquilo. Por duas vezes. Na pior de todas as mortes, na pior de todas as perdas, quando a pessoa continua viva, mas morta para nós.
Vítor: Tinha esperança, quase certeza – certeza, mesmo... –- de que, também contigo, seria assim.
Sei o efeito que a peça teve em mim. Por que pensas que QUIS – again, always, in the most uncertain hour** – levar-te a vê-la?
Há vários elementos, indissociáveis, nesta nossa experiência única. A história da Joan Didion. O livro da Joan Didion. A peça da Joan Didion. A direcção do David Hare. A representação mimética da Vanessa Redgrave. Há coisas que não se podem perder.
A propósito, se o não fizeste já, deixo-te a página da wikipedia com a biografia e a carreira da Vanessa Redgrave. OMG. É por isso que é sempre perigoso – e pior, injusto – discorrer superior e levianamente sobre "o" ou "a" melhor. Seja no que for.
Para ti, que tanto gostas de datas, deve ser particularmente especial verificar que a Vanessa Redgarve comemora, ESTE ano, 50 de carreira.
Beijinho.
A banda sonora é especial, especialíssima. Para mim e para o Vítor, claro, sempre. E para a minha querida Ana, que neste assombroso post me fez lembrar esta música. Rain in Venice...
* A Marta com um ano. O tal fato de banho não é este, tenho algures fotografias dela, adoravelmente gorducha, com ele, prometo pôr uma aqui. Mas este, muito americano e com o Bugs Bunny, também foi presente meu. E foi baratíssimo...
** Reconheces, não é verdade, Ana? Ai, a obsessão por esta música...
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ResponderEliminarAs melhoras, Teresa!
ResponderEliminar(quase que parece que também vamos ver a peça... :)
OMG! Six feet under tb? Nem digo mais nada! Só lhe desejo as melhoras! ;)
ResponderEliminarSe reconheço, Teresa?
ResponderEliminarComo não, se é a minha série preferida DE SEMPRE? Ainda mais do que o Six Feet Under, que anda lá perto...
Mais ainda estou a roer-me de inveja dessa tua notícia teatral.
PS: Ah, a Marta é de se comer! Que idade tem ela agora?
Espero que fiques boa da gripe depressa. Não há nada pior que ficar doente à beirinha de um fim-de-semana grande.
ResponderEliminarBjs
vermelho, lábios, mala, vivenda, prenda, falecer são palavras que merecem ter nascido, não "à séria"...a sério!
ResponderEliminarL
Van Dog,
ResponderEliminarObrigada! (se bem que hoje esteja pior que ontem)
Mas recebi o teu presente, que adorei!
Pedro,
:)
Veja este post, um dos primeiros da Gota:
http://gotaderantanplan.blogspot.com/2006/09/six-feet-under-tribute.html
E obrigada pelos votos de melhoras!
Ana,
Pois... também a ti peço para espreitares o tal post :)
A Marta faz quinze anos em Maio.
Beijos aos três.
Rosarinho,
ResponderEliminarQuer-me parecer que vou mesmo ficar de molho o fim-de-semana. Hoje sinto-me como um pato moribundo.
Obrigada, beijoca!
L.,
Não percebo a que propósito vem isso, mas está bem...
Também muito facilmente dou balúridios de dinheiro por algo que adorei para oferecer... e se a estivesse a comprar para mim, por muito fabulosa que fosse, não daria aquele dinheiro.
ResponderEliminarAs nossas preferências e "utilidades" a elas ligadas deviam reger-se sempre pela mesma ordem, segundo a teoria económica. Há exemplos em que isto não acontece, e são explicados racionalmente (Machina, 1999). Mas este facto sobre os presentes que oferecemos, aparentemente irracional, dava um bom motivo para investigar e rever a Teoria da Utilidade Esperada.
Beijinho
Que lindo fato banho e que bem que lhe fica. (Tinha esperança que foto da sua sobrinha fosse com ela em pequenina, desde que comecei a trabalhar também com roupa de criança perco-me com imagens assim).
ResponderEliminarAgora tenho de comentar o resto do post que me deixou devo dizê-lo invejosa e por outro lado esperançada. Invejosa de uma relação que me parece tão saudável e revitalizante (dos La Perla também) e esperançada que a minha venha a ser assim. O meu Felino (apelido de família talvez por isso não queira mais nenhum lá em casa) é semelhante ao seu Vitor. Faz-me as maiores surpresas, é muito atencioso e eu também mal me consigo segurar quando tenho algo para ela. O que contou do Six Feet Under, série que venerei aconteceu-nos este Natal com uma camara fotográfica. Demos o mesmo presente um ao outro e já não é a primeira vez. Por fim deixe-me dizer que a troca de mensagens é absolutamente deliciosa e o que dizer da grande Vanessa Redgrave que tive o prazer de ver quando estudava em Bristol...
Cada vez gosto mais deste seu cantinho.
Raquel,
ResponderEliminarO fato de banho é mesmo um apetite, não é?
Tenho de desfazer uma pequena confusão: o Vítor não é namorado, é o meu melhor amigo, é como um irmão. Amigos desde os 14 anos, temos 50, faça as contas. :)
Sobre Vanessa Redgrave: em que peça a viu? Conte, conte!
E espreite estes dois posts:
http://gotaderantanplan.blogspot.com/search/label/Vanessa%20Redgrave
Muito obrigada pelas palavras carinhosas. Um beijinho.
Foi com um sorriso que li o esclarecimento ao seu Vitor. Isso torna as coisas ainda mais interessantes e especiais. A minha mãe costuma dizer: homens há muitos, amigos de verdade ficam para sempre ;)
ResponderEliminarNão a vi a Vanessa Redgrave actuar. Se não me engano estava por Londres na altura que visitou o meu departamento da faculdade que é também um teatro. Vi-a ao longe, com a emoção de uma menina que está na Disneyworld. Falava com a sua voz coloquial, profunda, aquele tipo de voz que a faz sempre parecer ter razão podendo estar a dizer o maior disparate possivel. Acompanhei ainda alguns episódios em que brilhou no Nip/Tuck e com muita tristeza minha, a morte da filha dela.
Espero ter oportunidade de um dia a ver verdadeiramente.