quarta-feira, 23 de abril de 2008

The Year of Magical Thinking (correspondência)

Há coisas em que eu e o Vítor somos iguais como duas gotas de água, e uma delas é a generosidade nos presentes, a impaciência para os entregar. No momento em que conseguiu comprar os bilhetes para a peça, o Vítor não foi capaz de esperar pelo envio da Amazon para me depor no regaço o livro, mesmo sabendo que o mais provável seria eu preferir lê-lo no original inglês, e precipitou-se para a Bullosa, a dois passos de casa.

Sempre fomos assim, coisa que já deu episódios caricatos (sobrarem volumes do Six Feet Under, uma das nossas séries-fetiche, por exemplo, cada um de nós a mandar vir da Amazon, mal saiu a última temporada, para oferecer ao outro). O M. (que, diga-se de passagem, também se alastrava na matéria) censurava-me, risonho, os presentes extravagantes que dava à Ana, minha irmã, no Natal e nos anos. Suponho que... it runs in the family, porque os dela para mim eram equivalentes... O M. ficou de olhos em bico quando me viu dar alegremente quinze contos e tal por um fato de banho para a Marta* - minha sobrinha mais velha -, à época com menos de um ano, numa boutique infantil da Ortega y Gasset. Devo dizer que nunca comprei para mim um fato de banho tão caro, aliás nem me lembro quando foi a última vez que comprei um fato de banho. São todos oferecidos e são todos La Perla (tenho uma bela colecção).

Seja como for, frivolidades à parte, e porque estou em casa com uma gripe de caixão à cova e praticamente afónica (O CG proibiu-me de pôr os pés no Colosso), aqui fica a minha troca de correspondência com o Vítor ontem, depois de eu estar de posse do livro.

Teresa: (...) Outra coisa: li os dois primeiros capítulos agora ao almoço. Não consegui continuar – de qualquer forma já não teria tempo. As duas últimas frases do segundo tiveram em mim o efeito de um murro no estômago, tamanho o poder evocativo. Os olhos encheram-se-me de lágrimas e não conseguia voltar a clareá-los. Eu conhecia aquilo, eu já tinha vivido aquilo. Por duas vezes. Na pior de todas as mortes, na pior de todas as perdas, quando a pessoa continua viva, mas morta para nós.

Vítor: Tinha esperança, quase certeza certeza, mesmo... - de que, também contigo, seria assim.
Sei o efeito que a peça teve em mim. Por que pensas que QUIS again, always, in the most uncertain hour** levar-te a vê-la?
Há vários elementos, indissociáveis, nesta nossa experiência única. A história da Joan Didion. O livro da Joan Didion. A peça da Joan Didion. A direcção do David Hare. A representação mimética da Vanessa Redgrave. Há coisas que não se podem perder.
A propósito, se o não fizeste já, deixo-te a página da wikipedia com a biografia e a carreira da Vanessa Redgrave. OMG. É por isso que é sempre perigoso e pior, injusto discorrer superior e levianamente sobre "o" ou "a" melhor. Seja no que for.
Para ti, que tanto gostas de datas, deve ser particularmente especial verificar que a Vanessa Redgarve comemora, ESTE ano, 50 de carreira.
Beijinho.
V.

A banda sonora é especial, especialíssima. Para mim e para o Vítor, claro, sempre. E para a minha querida Ana, que neste assombroso post me fez lembrar esta música. Rain in Venice...

* A Marta com um ano. O tal fato de banho não é este, tenho algures fotografias dela, adoravelmente gorducha, com ele, prometo pôr uma aqui. Mas este, muito americano e com o Bugs Bunny, também foi presente meu. E foi baratíssimo...

** Reconheces, não é verdade, Ana? Ai, a obsessão por esta música...


12 comentários:

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  2. As melhoras, Teresa!
    (quase que parece que também vamos ver a peça... :)

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  3. OMG! Six feet under tb? Nem digo mais nada! Só lhe desejo as melhoras! ;)

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  4. Se reconheço, Teresa?
    Como não, se é a minha série preferida DE SEMPRE? Ainda mais do que o Six Feet Under, que anda lá perto...
    Mais ainda estou a roer-me de inveja dessa tua notícia teatral.

    PS: Ah, a Marta é de se comer! Que idade tem ela agora?

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  5. Espero que fiques boa da gripe depressa. Não há nada pior que ficar doente à beirinha de um fim-de-semana grande.
    Bjs

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  6. vermelho, lábios, mala, vivenda, prenda, falecer são palavras que merecem ter nascido, não "à séria"...a sério!

    L

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  7. Van Dog,
    Obrigada! (se bem que hoje esteja pior que ontem)
    Mas recebi o teu presente, que adorei!

    Pedro,
    :)
    Veja este post, um dos primeiros da Gota:
    http://gotaderantanplan.blogspot.com/2006/09/six-feet-under-tribute.html
    E obrigada pelos votos de melhoras!

    Ana,
    Pois... também a ti peço para espreitares o tal post :)
    A Marta faz quinze anos em Maio.

    Beijos aos três.

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  8. Rosarinho,
    Quer-me parecer que vou mesmo ficar de molho o fim-de-semana. Hoje sinto-me como um pato moribundo.
    Obrigada, beijoca!

    L.,
    Não percebo a que propósito vem isso, mas está bem...

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  9. Também muito facilmente dou balúridios de dinheiro por algo que adorei para oferecer... e se a estivesse a comprar para mim, por muito fabulosa que fosse, não daria aquele dinheiro.

    As nossas preferências e "utilidades" a elas ligadas deviam reger-se sempre pela mesma ordem, segundo a teoria económica. Há exemplos em que isto não acontece, e são explicados racionalmente (Machina, 1999). Mas este facto sobre os presentes que oferecemos, aparentemente irracional, dava um bom motivo para investigar e rever a Teoria da Utilidade Esperada.

    Beijinho

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  10. Que lindo fato banho e que bem que lhe fica. (Tinha esperança que foto da sua sobrinha fosse com ela em pequenina, desde que comecei a trabalhar também com roupa de criança perco-me com imagens assim).

    Agora tenho de comentar o resto do post que me deixou devo dizê-lo invejosa e por outro lado esperançada. Invejosa de uma relação que me parece tão saudável e revitalizante (dos La Perla também) e esperançada que a minha venha a ser assim. O meu Felino (apelido de família talvez por isso não queira mais nenhum lá em casa) é semelhante ao seu Vitor. Faz-me as maiores surpresas, é muito atencioso e eu também mal me consigo segurar quando tenho algo para ela. O que contou do Six Feet Under, série que venerei aconteceu-nos este Natal com uma camara fotográfica. Demos o mesmo presente um ao outro e já não é a primeira vez. Por fim deixe-me dizer que a troca de mensagens é absolutamente deliciosa e o que dizer da grande Vanessa Redgrave que tive o prazer de ver quando estudava em Bristol...

    Cada vez gosto mais deste seu cantinho.

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  11. Raquel,
    O fato de banho é mesmo um apetite, não é?
    Tenho de desfazer uma pequena confusão: o Vítor não é namorado, é o meu melhor amigo, é como um irmão. Amigos desde os 14 anos, temos 50, faça as contas. :)

    Sobre Vanessa Redgrave: em que peça a viu? Conte, conte!

    E espreite estes dois posts:

    http://gotaderantanplan.blogspot.com/search/label/Vanessa%20Redgrave

    Muito obrigada pelas palavras carinhosas. Um beijinho.

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  12. Foi com um sorriso que li o esclarecimento ao seu Vitor. Isso torna as coisas ainda mais interessantes e especiais. A minha mãe costuma dizer: homens há muitos, amigos de verdade ficam para sempre ;)

    Não a vi a Vanessa Redgrave actuar. Se não me engano estava por Londres na altura que visitou o meu departamento da faculdade que é também um teatro. Vi-a ao longe, com a emoção de uma menina que está na Disneyworld. Falava com a sua voz coloquial, profunda, aquele tipo de voz que a faz sempre parecer ter razão podendo estar a dizer o maior disparate possivel. Acompanhei ainda alguns episódios em que brilhou no Nip/Tuck e com muita tristeza minha, a morte da filha dela.

    Espero ter oportunidade de um dia a ver verdadeiramente.

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