quinta-feira, 13 de março de 2008

Baú das Relíquias #3: Viens, Viens

Acabo de perceber que vou ter de aldrabar um pouco este baú das relíquias, mas a intenção é boa e para os (AS!) amantes de música francesa (Azul, Safira, Ana, Sofia...) este é um disco precioso...

A verdade é que nunca o tive. Lembro-me muito bem da sua aparição em Portugal, lá pelos meus 13 anos, chegaria a ser para mim, mulher de grandes amores musicais que sou, mais uma obsessão. Não sei o que lhe aconteceu, quando surgiu o formato DVD a música não aparecia em lado nenhum. O meu querido amigo Artur, que vive pelo menos metade do mês em Paris, adorável de amizade e da muita extravagância que uma grande fortuna proporciona, quando, A.I., lhe pedi para me encontrar esta música (A.I. - antes da Internet, claro!) bombardeou-me com discos de Marie Laforêt. Para complicar ainda mais as coisas, ela tem uma outra música com o mesmo título... claro que a azarada que em mim vem sempre à tona foi esse que recebeu... e em vários discos. Para abreviar, só lá por 2000, quando o meu amigo Pedro Fajardo (muitos favores musicais lhe devo!) me indicou um site revolucionário para ir buscar música, uma coisa chamada Kazaa, eu consegui deitar as minhas unhas sôfregas a esta canção. O tal site, que já não uso, quase viria a ser responsável pelo colapso do meu computador, mas... como diria a fabulosa Mama Morton do Chicago (hello, Cell Blog Chicks!)... Don't you know that this hand washes that one too? - está perdoado. Devo-lhe coisas que já tinha desesperado de conseguir. Como tal, desculpem a qualidade manhosa da fotografia que ilustra este post, foi apenas a fotografia possível.

Esta canção continua a comover-me, suponho que assim será sempre. É o apelo de uma filha ao pai que, talvez em crise dos quarenta (isso ainda existe?), trocou a mãe por uma miúda. Suplica-lhe que volte. Para casa, para a mãe, para ela, para o irmão mais novinho que, quando faz de conta que fuma, é o retrato vivo do pai. Tentando aliciá-lo, conta coisas pueris e estranhamente tocantes, tão miudinhas são: a mãe pintou o quarto em Setembro, o irmão já sabe o alfabeto... E frisa sempre que não é por ela que lhe pede que renuncie a essa rapariga, que sabe bonita, mas pela mãe (je sais bien qu'elle est jolie cette fille... que son amour tient ton âme, crois-tu que ça vaut l'amour de ta femme?), que da sua ausência vai morrendo, essa mãe que com ele soube partilhar vida, destino, dificuldades, sem nunca lhe soltar a mão...

Não digo mais nada. A música continua a comover-me, tantos anos passados, sim. Deixo-vos também dois vídeos. Escusam de vir dizer que Marie Laforêt é linda, lindíssima, de uma beleza invulgar com uma nota de fragilidade indefesa que corta o coração - isso é gritante, mete-se pelos olhos dentro. Creio que lhe chamavam a mulher de olhos de âmbar. Parece-me também uma mulher que carrega uma dor secreta (vejam com atenção o segundo filme, as suas lágrimas; saber francês ajuda... aqui quase nem é preciso). Música e palavras são dela.

Viens, Viens

Viens, viens, c'est une prière
Viens, viens, pas pour moi mon père
Viens, viens, reviens pour ma mère
Viens, viens, elle meurt de toi
Viens, viens, que tout recommence
Viens, viens, sans toi l'existence
Viens, viens, n'est qu'un long silence
Viens, viens, qui n'en finit pas.

Je sais bien qu'elle est jolie cette fille
Que pour elle tu en oublies ta famille
Je ne suis pas venue te juger
Mais pour te ramener
Il parait que son amour tient ton âme
Crois-tu que ça vaut l'amour de ta femme
Qui a su partager ton destin
Sans te lâcher la main.

Viens, viens, maman en septembre
Viens, viens, a repeint la chambre
Viens, viens, comme avant ensemble
Viens, viens, vous y dormirez
Viens, viens, c'est une prière
Viens, viens, pas pour moi mon père
Viens, viens, reviens pour ma mère
Viens, viens, elle meurt de toi
Sais-tu que Jean est rentré à l'école
Il sait déjà l'alphabet, il est drôle
Quand il fait semblant de fumer
C'est vraiment ton portrait

Viens, viens, c'est une prière
Viens, viens, tu souris mon père
Viens, viens, tu verras ma mère
Viens, viens, est plus belle qu'avant
Qu'avant, qu'avant, qu'avant, qu'avant
Viens, viens, ne dis rien mon père
Viens, viens, embrasse-moi mon père



5 comentários:

  1. Hoje, ainda gasto esta música. A T. (a daqui do escritório) já olhou para mim de lado com os olhos arregalados "tu a ouvir música?"

    Imagina, que até já a cantarolei, seguindo a letra, eu que não percebo nada de francês, mas acho que consegui perceber a letra quase toda :)

    beijo

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  2. Puseste-me a chorar!!! mas à séria... não estou a dizer isto para fazer jeito.
    Eu não conhecia esta canção em particular, mas o tema toca-me muito. Perdi o meu pai aos 10 anos... e fiquei meia jururu, por momentos. Mas já passou. :)

    E sim, a Marie Laforet é lindíssima. E a letra fortíssima, na sua simplicidade.

    Aliás, na minha modesta opinião de leiga, um dos grandes charmes da música francesa passa pela genialidade das letras e das interpretações, e pela simplicidade das melodias. A língua francesa presta-se a construções rítmicas riquíssimas. Mas bom, eu sou suspeita...é a minha segunda língua, e falo-a desde que me conheço.

    (ofereci a mim mesma uma colectânea do Brel...'quand on a que l'amour', conheces suponho? Que poema maravilhoso...não me canso de ouvir)

    Beijos e bom fim de semana!

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  3. Ainda bem que eu trabalho sozinha numa sala, na minha bibliteca, porque já pus esta música a tocar umas trezentas vezes! Adoro! E já pus no mp3 para me acompanhar no caminho para casa, acabou de ganhar o prémio de 'música do dia'!

    beijinhos e mil sorrisos

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  4. Linda, linda.
    E a DALIDAH?
    ALguém se lembra?
    Ainda há procura e nãoe ncontro nada sobre a rapariga...

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