Cenas de Filmes da Minha Vida #5: Ligações Perigosas
Stephen Frears, 1988. Glenn Close e John Malkovich são insuperáveis como Marquise de Merteuil e Vicomte de Valmont. Todos os outros actores estão igualmente soberbos nas suas personagens: Michelle Pfeiffer como Madame de Tourvel, Uma Thurman (na sua estreia) como Cécile de Volanges, Swoosie Kurtz (que já vi no teatro, numa peça de Nora Ephron, Imaginary Friends, só ela e a assombrosa Cherry Jones em palco) como Madame de Volanges, Keanu Reeves como Chevalier de Danceny.
Já vi este filme incontáveis vezes. Quando estreou em Lisboa, não me aguentei e fui a correr vê-lo novamente... no dia seguinte. Tinha-o em VHS, tenho-o agora em dvd. Indispensável.
O mais notável - entre tantas coisas tão notáveis - neste The Dangerous Liaisons é provavelmente o trabalho de Christopher Hampton, que lhe valeu um muito merecido Oscar de melhor argumento adaptado. A adaptação foi feita da sua própria peça com o mesmo nome, que eu adoraria ter visto. Não sei se conhecem o velho clássico de Choderlos de Laclos de onde peça e filme foram retirados. Li-o pela primeira vez aos 14 anos, ainda em português, e fiquei fascinada. Acontece que o livro é... uma colecção de cartas. Cartas cruzadas entre as diferentes personagens. Ora se já é difícil passar um livro a filme sendo-lhe totalmente fiel, imaginem quando esse livro são apenas... cartas!
Valmont (1989), a visão de Milos Forman do livro, é uma grande mascarada. Uma festa para os olhos, sem dúvida, mas para além de deturpar imenso enredo, situações e, principalmente, o final, perde sempre na comparação.
Glenn Close é uma extraordinária actriz - tive a sorte de a ver em Londres como Blanche Dubois em A Streetcar Named Desire - com um enorme azar. Já por cinco vezes foi nomeada para os Oscars, e perdeu sempre. Aqui foi Jodie Foster quem lhe arrebatou o prémio, no ano anterior tinha sido Cher. Como marquesa de Merteuil é indescritível, deliciosamente pérfida, a mobilidade das suas expressões faciais dava assunto para dissertações. Tenho pena de não encontrar no Youtube, isolada, a poderosíssima cena final, em que ela, chegada do teatro, onde tinha sido vaiada, se senta ao toucador e tira a maquilhagem. Uma cena absolutamente inesquecível para qualquer pessoa que a tenha visto, é a última deste vídeo, que é uma bela homenagem ao filme.
Banda Sonora: Johann Sebastian Bach - Harpsichord Concerto No. 5 (Largo)
Este filme é BRILHANTE! Não tem outra classificação. A Glen Close, com papeis no Atracção Fatal e Casa dos Espíritos já estava no meu top 10 de actizes. Com este, ficou no meu honroso 2º lugar! O Malkovich então revelou todo o seu gabarito.
ResponderEliminarO elenco não poderia ser melhor de facto.
O filme está tão bem adaptado que já teve sei lá quantos spinoffs. Fraquinhos... muito fraquinhos... com muita pena minha.
Não conhecia a obra escrita mas estou a lembrar-me agora de um outro filme também muito bem e fielmente adapatado de livro para filme em que a obra original é composta por cartas e pequenos excertos dos diarios das personagens: O Drácula de Bram Stroker feito pelo Coppolla.
És fã desse realizador? Eu sou. Os filmes dele marcaram-me para o resto da vida e definiram o meu gosto em tipo de cinema.
Teresa, este filme é fabuloso... e a Glen Close uma grande actriz, sem dúvida... infelizmente ao vivo, até agora, só tive a oportunidade de ver (das ditas brilhantes) a Judi Dench, outra grande actriz, do meu ponto de vista, brilhante mesmo...
ResponderEliminarbeijinho
Não li o livro, a sensação que me ficou foi realmente de uma maior profundidade e inquietação deste em relação ao Valmont, mas pergunto filosoficamente se no nosso quotidiano não cai bem, de vez em quando, uma boa sessão de caracóis e imperiais ( e Valmont é )?! Para mim, e para o meu balanço, é vital!
ResponderEliminarÉ com a maior das vergonhas que admito que não vi...
ResponderEliminarO problema é que não tenho DVD em casa, e desde há um ano que o meu laptop deixou de ler DVDs...
Mas prometo que irei resolver a questão brevemente! E tem mais: os filmes que mencionas aqui na Gota estão na minha lista de prioridades!
Já te disse que adorei a escolha musical? (sim, com manobras maradas, já ouço a música aqui no emprego... shhh, fica entre nós)
Beijinhos
Muito bom - parece que nisto de filmes temos filmes e cenas preferidos muito similares - beijos
ResponderEliminarAdorei "The Dangerous Liaisons" !!! E como gosto do John Malkovich...
ResponderEliminarJokas
Como uma colecção tão fabulosa de nomes, o filme só podia ser esta obra prima...mas tenho de dar o crédito ao Stephen Frears por conseguir sempre que um filme seja algo mais.
ResponderEliminarolá teresa!
ResponderEliminaro christopher hampton fez uma adaptação espantosa desta obra literária, mas se recordarmos que ele é o cineasta desse filme maravilhoso chamado "Carrington" está tudo dito.
gostamos imenso das interpretações da pfeifer, malkovich e cloose, já do keanu não dizemos o mesmo... enfim apenas uma opinião:)
quanto ao "Valmont" do Milos Forman, temos que confessar que somos suspeitos porque adoramos a Annette Bening e o Colin Firth e gostamos bastante da sua versão da obra:)
São obras perfeitamente distintas e o Stephen Frears realizou a obra perfeita!
beijinhos
PS - esperamos por mais crónicas cinematográficas:)
paula e rui lima
Teresa,
ResponderEliminarEste filme e uma obra de arte em si mesmo! Muito boa escolha. Ja o vi algumas vezes e nunca me canso, nunca me aborrece, nunca consigo mudar de canal ou fazer pause no dvd...
Mais um filme absolutamente fantástico!
ResponderEliminarLá vou eu ao blockbuster quando sair do estaminé...
Bjinhos!!!
Gosto da versão do Milos (é eu tu cá tu lá com o velho Milos :p ). Talvez seja o facto do papel principal ser interpretado pelo Colin Firth...
ResponderEliminarbeijinhos Té
AENIMA,
ResponderEliminarConcordo contigo. Brilhante é um dos adjectivos mais adequados para o filme. Glenn Close... só perde mesmo quando a comparamos com a nossa menina Meryl, porque essa tem mais qualquer coisa que mais ninguém tem.
Quanto ao Coppola... a minha admiração por ele é um pouquinho oscilante. Gosto muito de alguns dos filmes dos anos 80, gosto de O Padrinho, nunca gostei do Apocalypse Now, que toda a gente parece venerar.
Beijo enorme!
MARIA CUNHA,
Tamnbém eu já vi a Judy Dench ao vivo, bem como a Helen Mirren e mais umas quantas. Um privilégio! Nós devíamos viver em Londres, é o que é!!!
Beijo grande.
A4,
Inteiramente de acordo relativamente à necessidade de caracóis e imperiais (apesar de eu abominar caracóis). A questão é que eu não consigo perceber o que poderá ter levado o Milos Forman, um ano depois deste Ligações Perigosas, que é absolutamente perfeito, ter saído, a fazer o seu filme sobre o mesmo livro e transformando-o quase numa uma paródia da obra. Frivolidade absoluta - eu sei, houve muita frivolidade no século XVIII francês... mas também houve as Luzes, e os Enciclopedistas, por exemplo -, toda a história desnecessariamente alterada. No livro, o castigo final da marquesa, de que temos conhecimento através de uma carta de Madame de Rosemonde, é ainda mais duro do que no filme de Frears. O casamento de Cécile é uma fantochada, e o pormenor final é quase uma apologia do adultério: Madame de Tourvel (Meg Tilly, nada adequada para o papel da diáfana personagem, com aquela tez trigueira), em vez de morrer no convento, vai sentimentalmente pôr uma rosa na sepultura de Valmont, acompanhada... pelo marido complacente.
Só consigo ver bem o Valmont se conseguir esquecer o livro que se esconde por trás, e o próprio filme de Frears, pronto!
Um beijo.
ACTRIZ,
ResponderEliminarMais uma vez, fico com inveja, só de imaginar-me a ver este filme pela primeira vez. Tenta ver logo que possas.
Quanto à escolha musical... bolas, é o inconveniente de não responder logo aos comentários! O que é que estava a tocar?... Ah! Já sei! Era o concerto n.º 5 para cravo, de Bach. Uma maravilha, sim! :)
Beijo grande. Ainda estou a abarrotar com o teu bolo de chocolate!
MELÕES,
O que é prova cabal do nosso gosto requintado... (estou a brincar).
Ainda não perdi a esperança de que alguém ponha no Youtube aquela cena da Gran Partita no Amadeus. Com código, claro, que ela está lá...
Um beijo, vê se apareces mais!
RITA,
Qualquer pessoa de gosto adora o filme, não é?
E ele, Malkovich, é de facto perpeito para o papel.
Um beijo!
ESKISITO,
ResponderEliminarTambém concordo. Mas insisto que o mérito maior vai mesmo para Christopher Hampton, o argumentista! Extraordinário!
Beijo!
PAULA E RUI,
Não vi o Carrington (mais um nome para a minha lista de ignorâncias vergonhosas...).
Como já disse atrás, só consigo ver o Valmont se me abstrair deste e do livro. E note-se que também gosto imenso da Annette Benning (actriz que parece crescer de filme para filme e ainda tem muito para dar) e do Colin Firth.
Mas acontece aquilo com que vocês também concordam: Stephen Frears fez um filme PERFEITO. E a perfeição é insuperável.
Beijo aos dois.
TUXA,
Eu, mais do que não fazer pausas, volto atrás, para estudar expressões faciais, para ouvir novamente uma entoação de voz... Uma obra-prima, em suma!
Um beijo.
AZUL,
ResponderEliminarComo já passaram uns quantos dias, a pergunta impõe-se: conseguiste rever o filme? É que é sempre um prazer, não é?
Mas palpita-me que estás de férias... Ainda nem comentaste um post que pus para ti no BF!
Beijo grande.
MARIA CROMA (acho piada chamar-te assim, não te importas, pois não? E como tenho aqui mais duas Marias...)
Também eu gosto imenso do Colin Firth (e se os dvd se gastassem o meu do Pride and Prejudice já devia estar a precisar de substituição), mas o Malkovich é um melhor Valmont.
Fiquei com a impressão quase certeza de que não viste este Ligações Perigosas. Acertei?
Um beijo para ti.
GRANDE FILME!
ResponderEliminarAdorei vê-lo, mas pudera, também conta com um grupo de actores que considero muito bons!
Adoro a trama que era muito comum numa época em que as mulheres apesar do seu suposto papel secundário na sociedade, usavam e muito o seu poder dentro dos lençóis, por forma a criarem os maiores esquemas e conspirações! ;)
ZAKA,
ResponderEliminarAs mulheres sabiam ser grandes eminências pardas. Julgo que o caso mais notável do século XVIII terá sido Madame de Pompadour, a célebre favorita de Luís XV. O Eliseu, actual residência oficial do Presidente da República, foi apenas um dos muitos palácios que o rei lhe ofereceu...
Obrigada pela visita.