quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Something to Treasure...

A classe é assim.

Uma semana antes do dia 7 de Novembro passado, data do aniversário da minha querida Dame Joan Sutherland, enviei um e-mail à Ópera de Sydney — à falta de melhor endereço e na certeza de que eles saberiam como passar a mensagem
em que, claro está, não fui parca em elogios. A ela e ao marido, o Maestro Richard Bonynge, que tem sido muitas vezes injustiçado e que muito boa gente vê, erradamente, como um mero Svengali. É certo que ela é a Voice of the Century, é certo que, em toda a justiça, não podemos dizer que ele seja o Maestro do século. Mas estou certa de que um dia a importância dele na divulgação do bel canto será devidamente reconhecida. É bem provável que ele seja a maior autoridade mundial na matéria. A sua fina compreensão da música, o rigor permanente, a busca da intenção do compositor, tudo isso faz dele um Grande Maestro.

Cerca de uma semana mais tarde recebi um e-mail da Ópera de Sydney (Opera Australia) a dizer que a minha mensagem tinha sido reencaminhada e a pedir-me a morada. Respondi. Imagine-se agora a minha surpresa quando hoje, ao abrir a caixa do correio, deparo com um envelope de papel pardo, selos da Suíça e carimbo de... Les Avants! Confesso que fiquei um bocadinho a saborear aquilo antes de lhe desvendar o conteúdo, eu tenho tontices destas. Les Avants... então a casa ao lado da de Noël Coward ainda se mantém... Revi mentalmente a sala onde o Maestro guarda as suas relíquias do bel canto, presidida por um magnífico retrato de Jenny Lind, grande soprano do século XIX de quem não há registos fonográficos. Conheço a sala como se já lá tivesse estado, conheço as bergères estofadas com os maravilhosos trabalhos em petit point de Dame Joan (Joanie para os amigos, tão querida ela lhes é), num canto as iniciais JSB (Joan Sutherland Bonynge)...

O conteúdo do envelope? É justamente isso que venho agora aqui partilhar. Para mim foi uma grande surpresa e um extraordinário presente. Tão extraordinário que vou arriscar uma carta de agradecimento às cegas para Les Avants, esperando que chegue ao destino. É bem verdade que a felicidade é feita de coisinhas miudinhas.

Aqui fica o primeiro retrato. Dame Joan no Alla Scala, como Lucia, talvez o seu papel supremo. Os críticos do Penguin Guide são irredutíveis: «No one outshines Sutherland in this role!» O meu talvez deve-se apenas ao facto de eu também achar que não há Norma, Marie, Elvira, Amina ou Adina que se lhe comparem. Ou Anna Bolena, já agora. Não, nem a minha querida Gruberova e Deus sabe como a voz dela me transporta e que foi a única digna de recolher o testemunho.

Abaixo, a reprodução do cartão da agente de imprensa, Ms Ruth Jaeger (tanto quanto consigo decifrar), estamos a lidar com pessoas verdadeiramente educadas, e como tal é manuscrito.


Por último, um retrato do encantador casal. Não consigo deixar de pensar que a Callas, por exemplo, se tivesse tido esta plenitude, esta harmonia familiar, talvez nos tivesse dado pelo menos mais dez anos de voz. Como ainda acontece com Edita Gruberova, já em fim de carreira, mas ainda com uma voz arrepiante. Também casada com um maestro. Quando fui a Munique de propósito para a ver nos Puritani ela já não ficava no Vier Jahreszeiten (e eu com tantas esperanças de me cruzar com ela...). Explicação? Canta muitas vezes em Munique, tinha alugado um apartamento na mesma rua, a Maximilian Straße, que desemboca na Ópera. A senhora adora cozinhar!
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4 comentários:

  1. Pergunta:
    O Ran Tatn Plan tem gota?? mete-se na gota?? kumé??

    Beijo de enxofre
    P.S. resposta à pergunta feita no meu blog, tá lá à espera de ser lida! (estará dentro de 5 minutos, vim kuskar por aki 1º)

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  2. ELA é maravilhosa, não é?

    (Edita Gruberova também)

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  3. Edita também.
    Mas achei delicioso o relato sobre a Traviata do 25 de Abril, os odores do Coliseu, o clássico da boa comida...

    Sabe que ainda há pouco tempo os músicos de uma orquestra que eu estava a acompanhar se queixaram do mau cheiro no Coliseu? Tinha lá estado um circo qualquer pouco tempo antes, suponho.

    E as fotografias que ela lhe enviou...

    Vá lá. Não pode ser a única a dizer que estaria estatelada no chão se a inveja matasse.

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