IL DIVO: E não se pode exterminá-los?...
Conhecê-los não foi um prazer, foi bem mais razão para náuseas. Como se não nos bastasse já o Andrea Bocelli, santo nome de Deus! Naturalmente, votei-lhes acto contínuo um ódio feroz. Que dizer de um grupinho de quatro flausinos com ar de manequins Armani da feira de Carcavelos, a comporem um ar matador que estimule o mulherio sem qualquer gosto ou mero bom-senso musical a ir a correr comprar-lhes os disquitos? Nanja eu! Antes os nacionais Carlos Guilherme e o seu Quando o Coração Chora de Amor, ou o Vítor Espadinha com o inolvidável Recordar É Viver. Pelo menos conseguem arrancar-me um sorriso de troça amigável. Estes põem-me a ranger os dentes.
Pois há pouco, estando eu aqui de volta do computador e de televisão ligada, oiço de repente uma música que me soou familiar. Voltei-me, interdita, só para confirmar as minhas piores suspeitas. Eram eles, a brindarem-nos com a sua interpretação de um eterno clássico: Nights in White Satin, dos Moody Blues (1967). A música que, numa lista das 250 melhores de sempre do pop/rock feita pela Melody Maker em 1980, ficou em 1.º lugar. Por muito que goste dela - e gosto -, discordo, mas enfim... Aliás o Victor ainda se lembra de alguns ataques de mau génio que na época tive, quando diariamente acompanhávamos a progressão da lista no Rock em Stock.
Ai que nervos! Ai que ódio! Se estivesse na minha mão, punha-lhes a cabeça a prémio.
Recompensa? Um objecto de arte em gesso verdadeiro - não valem mais.
A única coisa que me alegra é saber que daqui a dez anos ninguém se lembrará deles. Lembro-me da saída do Thriller de Michael Jackson, de o meu namorado de então, pessoa de gosto musical execrável - inexistente, melhor dizendo -, o pôr nos píncaros, atirar-me triunfante com os milhões de exemplares que já tinha vendido. Eu limitei-me a dizer friamente que daí a vinte anos ninguém compraria o disco, mas que Leonard Cohen continuaria, ano após ano, a ter quem comprasse o Songs of Leonard Cohen, o Songs from a Room ou o Songs of Love and Hate. Tempo perdido, claro está, que ele não sabia nem desconfiava quem fosse o senhor.
Os vinte anos passaram. Leonard Cohen continua a vender. Porque o Tempo é o grande nivelador. A estreia da Traviata no La Fenice foi um fiasco, como Verdi confessava amarguradamente a um amigo numa carta hoje célebre, acrescentando: «Culpa minha? Dos cantores? O tempo o dirá.» O Tempo, uma vez mais, teve a última palavra.